Nepomuceno, V. (2022). Perspectiva da pesquisa
contábil na América Latina: Um olhar para
a Argentina, Brasil e Colômbia. Contaduría
Universidad de Antioquia, 81, 233-257. Doi:
https://doi.org/10.17533/udea.rc.n81a10
Perspectiva da pesquisa contábil
na América Latina: Um olhar para a
Argentina, Brasil e Colômbia
Valério Nepomuceno
valerio@unipam.edu.br
Orcid: 0000-0001-5140-9592
Universidade Federal de Uberlândia
Academia Brasileira de Ciências Contábeis
Perspectiva da pesquisa contábil na América Latina: um olhar para a Argentina, Brasil e Colômbia
Resumo: Este trabalho objetiva analisar, avaliar, e sugerir novas perspectivas à pesquisa contábil na América
Latina sob o olhar autonômico e emancipatório, focando, particularmente, nas culturas contábeis da Argentina,
Brasil e Colômbia. Fez-se uma breve retrospectiva histórica da contabilidade desses países para permitir
contextualizações e alçar propostas reflexivas acerca de novos horizontes à pesquisa contábil latino-americana.
A linha de investigação adotada é o ensaio teórico (artigo de reflexão), com abordagem descritiva. O que se
constatou foi a hegemonia da pesquisa contábil positivista-normativista na Argentina e Brasil, e uma forte
reação dos contadores colombianos a esse modelo anglo-saxão (reducionismo-contabilidade privada). Também
constatou-se uma tímida reação da Argentina e Brasil em favor da perspectiva crítico-interpretativa, e um
movimento representativo e fecundo desenvolvido pelos colombianos a partir dos anos de 1970. Propostas de
reformulação da pesquisa contábil surgem da Argentina e Colômbia como possibilidade de construções genuínas
e emancipatórias para o futuro da contabilidade.
Palavras-chave: Reducionismo; Positivista-normativista; Contabilidade Integral. Teoria Geral; Emancipação.
Perspectivas de la investigación contable en América Latina: una mirada a Argentina, Brasil y Colombia
Resumen: Este trabajo pretende analizar, evaluar y sugerir nuevas perspectivas para la investigación contable
en América Latina desde una perspectiva autónoma y emancipadora, centrándose especialmente en las culturas
contables de Argentina, Brasil y Colombia. Se realizó una breve retrospectiva histórica de la contabilidad en
estos países para permitir la contextualización y plantear propuestas reflexivas sobre nuevos horizontes para
la investigación contable latinoamericana. La línea de investigación adoptada es el ensayo teórico (artículo
de reflexión), con un enfoque descriptivo. Los resultados muestran una hegemonía de la investigación contable
positivista-normativista en Argentina y Brasil, y una fuerte reacción de los contadores colombianos a este modelo
anglosajón (reduccionismo-contabilidad privada). También se encontró una tímida reacción de Argentina y
Brasil a favor de la perspectiva crítico-interpretativa, y un movimiento representativo y fructífero desarrollado
en Colombia a partir de los años 70. Las propuestas de reformulación de la investigación contable surgen desde
Argentina y Colombia como una posibilidad de construcciones genuinas y emancipadoras para el futuro de la
contabilidad.
Palabras clave: Reduccionismo; Positivista-normativista; Contabilidad integral. Teoría general; Emancipación.
Perspectives of accounting research in Latin America: a look at Argentina, Brazil and Colombia
Abstract: This paper aims to investigate, assess and propose new approaches for accounting research in
Latin America from an autonomous and emancipatory perspective, with a focus on the accounting cultures of
Argentina, Brazil and Colombia. A brief historical review of accounting in these countries was conducted to
provide context and suggest reflections on future directions for Latin American accounting research. The line of
research adopted is the theoretical essay (a reflection paper), with a descriptive approach. The findings reveal
that positivist-normative accounting research is predominant in Argentina and Brazil, while there is a strong
reaction of Colombian accountants to this Anglo-Saxon model (reductionism-private accounting). Additionally,
Argentina and Brazil responded cautiously in support of the critical-interpretive perspective, whereas Colombia
had a significant and productive movement beginning in the 1970s. Proposals for reformulating accounting
research emerge from Argentina and Colombia as potential, genuine and emancipating constructions for the
future of accounting.
Keywords: Reductionism; Positivist-normativist; Integral accounting. General theory; Emancipation.
Perspectives de la recherche comptable en Amérique latine: un regard sur l’Argentine, le Brésil et la Colombie
Résumé: Cet article a pour but d’analyser, d’évaluer et de suggérer de nouvelles perspectives pour la recherche
en comptabilité en Amérique Latine dans une perspective autonome et émancipatrice, en se concentrant tout
particulièrement sur les cultures comptables de l’Argentine, du Brésil et de la Colombie. Une brève rétrospective
historique de la comptabilité dans ces pays a été réalisée afin de permettre une contextualisation et d’avancer
des propositions de réflexion sur les nouveaux horizons de la recherche comptable latino-américaine. La ligne
de recherche suivie est l’essai théorique (article de réflexion), avec une approche descriptive. Les résultats
révèlent une hégémonie de la recherche comptable positiviste-normativiste en Argentine et au Brésil, et une
forte réaction des comptables colombiens face à ce modèle anglo-saxon (réductionnisme-comptabilité privée).
L’Argentine et le Brésil ont également réagi timidement en faveur de la perspective critique-interprétative,
alors qu’un mouvement représentatif et fructueux s’est développé en Colombie à partir des années 1970.
Des propositions de reformulation de la recherche comptable émergent d’Argentine et de Colombie
comme une possibilité de constructions authentiques et émancipatrices pour l’avenir de la comptabilité.
Mots-clés: Réductionnisme; Positiviste-normativiste ; Comptabilité intégrale, Théorie générale ; Émancipation.
Cont. udea (julio-diciembre), pp. 233-257. © Universidad de Antioquia-2022.
Perspectiva da pesquisa contábil na
América Latina: Um olhar para a Argentina,
Brasil e Colômbia
Valério Nepomuceno
https://doi.org/10.17533/udea.rc.n81a10
Primera versión recibida en junio de 2022 – Versión aceptada en julio de 2022
I. Introdução
A história permite verificar e analisar os consensos e dissensos entre os po-
vos em seus processos de construções econômicas, políticas e socioculturais.
Geralmente, há uma tendência quase impulsiva e unânime de os povos seguirem
caminhos e ações semelhantes. Foi assim na construção da Europa em vários
períodos, por exemplo, na Revolução Industrial e, mais recentemente, na glo-
balização. São interesses nacionais convergentes que arregimentam tendências
impulsivas entre povos dominadores e com a consequente e oportuna reação
dos dominados.
No caso latino-americano, historicamente, essas realidades nos tocaram,
inicialmente, sob a forma de colonialismo; por quatro séculos a região se man-
teve sob o dominou político, econômico e social dos espanhóis e portugueses.
Somente no início do século XIX o povo latino-americano buscou a ruptura, a
independência. Assim, praticamente, na primeira década do século XIX o povo
latino-americano se libertou e se constituiu em nações livres.
No entanto, o modo de vida europeu, da dominação religiosa aos aspectos
políticos e econômicos, foi forjado e perpetrou sobre os latino-americanos,
mesmo após a sua independência. A perpetração foi estabelecida em alguns
países mais profundamente do que em outros. Diferenças, às vezes profundas,
dividem os latino-americanos, inclusive, por razão idiomática. Isso também se
dá, de forma quase indissociável, na educação contábil, por meio de escolas de
comércio e de agremiações profissionais. Algumas regiões ainda mantêm laços
conservadores com a ideologia contábil hegemônica e com a elite acadêmica
e intelectual europeia e, sobretudo, a partir dos anos de 1960, com as organi-
236Perspectiva da pesquisa contábil na América Latina: Um olhar para a Argentina, Brasil e Colômbia
Nepomuceno, V.
zações contábeis norte-americanas que têm influenciado o destino da profissão
contábil no mundo.
Nesse sentido, analisar as perspectivas da pesquisa contábil na América La-
tina impõe avaliar a influência e a dominação estrangeira na cultura contábil, e
a capacidade de romper com “o conhecimento oficial oriundo de processos de
colonização conceitual e instrumental” (Franco, 2018). A expressão perspectiva
foi tomada aqui no sentido da “medida da autonomia do pensamento latino-
americano na condução da pesquisa contábil. Assim, o problema de pesquisa
aqui examinado se restringe às possibilidades de perspectivas autonômicas da
pesquisa contábil na América Latina.
O propósito deste artigo, portanto, fundado no problema, é analisar as
perspectivas de autonomia da pesquisa contábil na América Latina; a linha de
investigação é o ensaio teórico (artigo de reflexão) com abordagem descritiva.
Os elementos teóricos abordados buscam verificar as diferenças e semelhan-
ças no campo da pesquisa contábil, particularmente, na Argentina, Brasil e Co-
lômbia. Há uma lacuna na literatura sobre pesquisa contábil latino-americana.
Pouco foi produzido sobre o tema; não há preocupação sobre o que está sendo
pesquisado nos países vizinhos e o intercâmbio acadêmico tem sido pífio. De
acordo com a pesquisa feita no Google Scholar 72 artigos estão relacionados à
investigación contable en Latinoamérica e somente um artigo tratou especifica-
mente dessa temática.
Isso revela a pouca importância que tem sido dada à interconectividade
dos países vizinhos na pesquisa contábil. A lacuna existente e a relevância de
analisar as perspectivas da pesquisa contábil no âmbito latino americano jus-
tifica o presente estudo. Além disso, o estudo contribui por estimular outros
países-irmãos no fortalecimento da pesquisa científica contábil, independente e
compromissada com os rigores da academia.
II. Fundamentos teóricos
Para que se possa analisar as perspectivas da pesquisa contábil na América
Latina é necessário identificar as diferenças e semelhanças para o desenvolvi-
mento da pesquisa contábil nos países que compõe a região. Para tanto, é ne-
cessário buscar alguns elementos históricos para um pano de fundo entorno da
pesquisa contábil latino-americana.
Um aspecto histórico relevante à compreensão do cenário da contabilidade
na América Latina é verificar o surgimento das primeiras faculdades voltadas à
contabilidade. Parte-se do pressuposto de que as pesquisas genuinamente cien-
tíficas são desenvolvidas nas universidades, embora agremiações profissionais
também, em certa medida, tenham estimulado o pensamento contábil, ainda
que no campo da prática e do interesse específico.
237Contaduría Universidad de Antioquia – N o. 81. M edellín, j ulio-diciembre de 2022
Na sua maioria, os países latino-americanos criaram suas faculdades voltadas
para o ensino superior de contabilidade na primeira metade do século XX. A
regulamentação da profissão de contador público, na América Latina, também
ocorreu, em quase todos os países, na década de 1940.
Assim, na primeira metade do século XX, a América Latina despertou-se
para o ensino superior de contabilidade enquanto disciplina acadêmica, quase
sempre vinculada à faculdade de economia. Por sua vez, a regulamentação da
profissão de contador (público) também ocorreu nessa mesma época. Ressalte-
se, a América Latina tem tradição code law [lei como base da sociedade], o que
reforça a tese de que pesquisas contábeis só têm vitalidade junto à sociedade
se forem ratificadas por instrumentos jurídico-legais, o que tem sido motivo de
críticas de alguns acadêmicos.
O primeiro doutorado em contabilidade da América Latina, segundo Wowc-
zuk (2009), ocorreu na Argentina, em 1920, pela Facultad de Ciencias Econó-
micas, Universidad de Buenos Aires (UBA). O Brasil só criou o seu primeiro
doutorado em contabilidade, provavelmente, em 1960, pela Universidade do
Brasil. Lopes de Sá fez o seu doutoramento (1960-1964) na Universidade do
Brasil, defendendo a tese Teoria do Equilíbrio do Capital das Empresas, cujo
orientador foi prof. Alberto Almada Rodrigues.
Portanto, sob o aspecto historial, os países latino-americanos têm seguido
seus consensos e dissensos muito proximamente; nenhum país deixou de se-
guir adiante com suas reformas, adequações e atualizações de seus cenários
políticos, econômicos e sociais. As pesquisas recentes têm apontado para o
surgimento de uma perspectiva crítico-interpretativa visando novos cenários à
investigação cientifica na contabilidade, sob moldes mais identitários.
II.1. Breve resumo da história e do pensamento contábil na Argentina
A história de formação dos professores argentinos está muito próxima da-
quela dos outros países latino-americanos, calcada na prática profissional. Gar-
cía (2002, p. 60) lembra que “os professores-profissionais formam profissionais”.
O autor está se referindo ao fato de que a formação dos professores busca a
predileção por preparar os estudantes para a prática, não para a educação ou
pesquisa contábil.
Outra característica dos países de língua hispânica é a existência de Plano
Geral de Contabilidade (PGC). O PGC visava ao “estabelecimento de normas
regulares às quais a contabilidade das empresas deve se adaptar de forma uni-
forme” (Assum, 1976, p. 111). No caso argentino, segundo Mileti et al. (2001,
p. 340) “o Conselho Superior de Contabilidade elaborou o primeiro PGC, em
1947, com a lista enumerada de contas que não ia acompanhada das explicações
sobre os princípios contábeis [...]”. A partir de 1983, “se amplia o processo de
normatização e o PGC já não joga um papel fundamental” (Mileti et al., 2001).
238Perspectiva da pesquisa contábil na América Latina: Um olhar para a Argentina, Brasil e Colômbia
Nepomuceno, V.
Até 1969, segundo Mileti et al. (2001, p. 346), “o caráter das Normas Contá-
beis Profissionais [...] era dado por pronunciamentos das Assembleias Nacionais
de Graduados em Ciências Econômicas que, desde 1941, eram organizados pe-
los Colégios”. Depois foi criado o Instituto Técnico de Contadores Públicos da
Federación Argentina de Graduados en Ciencias Económicas (FAGCE), destinado
a constituir a fonte das normas profissionais, tanto de contabilidade como de
auditoria (Mileti et al., 2001). Em 1973 estabeleceu-se a competência dos Con-
selhos para emitir normas de auditoria e Normas Profissionais de Contabilidade
(Mileti et al., 2001).
Portanto, do ponto de vista da normatização contábil, a Argentina possui
semelhanças com outros países latino-americanos. Discussões exaustivas
sob os princípios de contabilidade geralmente aceitos (PCGA) dominaram as
agremiações profissionais e organismos de governo nos anos de 1960 e 1970.
Esse processo de assimilação e dominação dessas normas, pela academia e
agremiações profissionais argentinas, naquele momento, parece seguir um pa-
drão de absorção impingido pela cultura norte-americana, apresentado como
o instrumento ideal para operar a complexa prática contábil das recrudescidas
corporações multinacionais.
Nos anos de 1980 e 1990, a tônica da pesquisa foi a adequação das estru-
turas contábeis para suportar a hiperinflação que assolava o país. Em 1984, a
legislação estabeleceu que os balanços deveriam ser apresentados em moeda
constante e também deveriam apresentar informações consolidadas (Wowczuk,
2009). No período de 1990/2000, de acordo com Wowczuk (2009), a pesquisa
contábil argentina se dedicou, particularmente, à harmonização internacional
das normas contábeis e à busca pela melhor expressão monetária para os seus
balanços (valor recuperável, valor descontado, valor corrente).
Os pesquisadores contábeis argentinos, segundo Schultz e D’Iorio (2021),
não têm, até o momento, como agenda de pesquisa a perspectiva crítica da
contabilidade (CPA), pelo menos, nas Universidad de Buenos Aires (UBA), Uni-
versidad Nacional del Litoral (UNL) e Universidad Nacional de Rosario (UNR).
Schultz e D’Iorio (2021), em seus trabalhos, chegaram à conclusão de que há
uma visão hegemônica da pesquisa positiva na contabilidade argentina e
elas conclamam os acadêmicos argentinos à reflexões epistemológicas nesse
âmbito. Concluíram ainda Schultz e D’Iorio (2021, p. 258): “essa aceitação da
perspectiva hegemônica, quase sem restrições [...] garante a percepção da exa-
tidão e verificabilidade”; essa percepção, ideologicamente, visava passar a ideia
de neutralidade. García (1990, p. 19) já destacava o excessivo vínculo com a
prática, eminentemente normativista, e se manifesta: “Estranhamente, são as
Organizações Profissionais de Ciências Econômicas que se encarregam dessa
delicada função”.
239Contaduría Universidad de Antioquia – N o. 81. M edellín, j ulio-diciembre de 2022
Em síntese, pelo menos, dois aspectos podem ser destacados na pesquisa
contábil argentina, neste momento: i) ela é, hegemonicamente, positiva, o que,
provavelmente, não tem permitido maior abrangência das reflexões científico-
filosóficas; ii) uma incipiente abordagem acerca das perspectivas críticas à
contabilidade; provavelmente, essa nova abordagem permita a reformulação do
pensamento contábil sob as bases efetivas das ciências sociais, o que tem sido
apresentado por García Casella e outros em sua longa trajetória acadêmica.
II.1.1. Pesquisa contábil na Argentina
Provavelmente, algumas das influências recentes que se registram na pes-
quisa contábil argentina são de Mario Biondi (1923-2016) e Carlos Luís García
Casella (1931-2020), ambos da Universidad de Buenos Aires (UBA), e ambos têm
vasta obra dedicada à teoria e epistemologia, com estudos profícuos no campo
contábil que têm inspirado gerações de argentinos e no exterior.
Biondi (1999) em um de seus trabalhos sobre metodologia define contabili-
dade como sendo o conjunto das teorias doutrinárias (pensamento contábil) e
normativas (modelos contábeis normativos). Biondi sempre manteve sua postura
em defesa do normativismo contábil. Segundo Gil (2021, p. 293), “Biondi desen-
volve a teoria [contábil] a partir da práxis, adicionando linhas de argumentos
para fortalecer os Princípios de Contabilidade Geralmente Aceitos”. Portanto,
suas ligações com as mainstreams norte-americanas são evidentes e constantes.
García Casella (2019), por outro lado, tem um pensamento lógico mais consis-
tente, mais robusto e eficaz do ponto de vista científico; ele defende a contabi-
lidade enquanto ciência social (factual, cultural e aplicada). García-Casella (2019)
critica aqueles que percebem a contabilidade como uma microeconomia, como
um complemento à economia, por entender que são coisas totalmente distintas;
e descarta a possibilidade de considera-la uma tecnologia ou técnica. García-
-Casella (2019) defende também que os governos é que devem fazer a regulação
contábil para resguardar o bem-comum e evitar que atores e organizações abu-
sem de suas competências. São posições científicas mais engajadas e com uma
percepção lúcida do real papel da contabilidade na sociedade atual.
Uma outra pauta defendida por García Casella (2019, 2001, 2000) é a sua pre-
tensão entorno da teoria geral da contabilidade, levando a efeito os pressupostos
básicos de Mattessich (2002). García-Casella (2000; 2001), entretanto, buscou
superar o reducionismo da contabilidade existente nos trabalhos de Mattessich
(2002), estabelecendo três componentes teóricos e práticos: termos primitivos;
pressupostos básicos; e diretrizes (Mejía-Soto et al., 2011). Suas principais di-
retrizes são: i) a contabilidade não deve ser só para as empresas, mas também
para os indivíduos, organismos de governo, terceiro setor; ii) deve se ocupar
da quantificação do patrimônio e dos seus objetos; iii) deve expressar os ter-
mos monetários e não monetários, dentre outros. O professor emérito da UBA
240Perspectiva da pesquisa contábil na América Latina: Um olhar para a Argentina, Brasil e Colômbia
Nepomuceno, V.
descarta, assim, três hipóteses reducionistas na contabilidade, discutidas ainda
hoje: i) a contabilidade é uma arte; ii) a contabilidade é uma técnica; iii) a conta-
bilidade é uma tecnologia social (García-Casella, 2001).
Embora considere as ideias de Mattessich (2002), García-Casella (2001) as
corrige, especialmente, quanto ao caráter e ao viés economicista e empresarial
(Mejía-Soto et al. 2011), estabelecendo novos avanços no campo contábil e am-
pliando a teoria geral da contabilidade de forma holística. A capacidade de per-
cepção do conteúdo filosófico-científico, sob as luzes da socialidade contábil
hodierna, nos permite reconhecer García-Casella como um dos mais fecundos
cientistas da contabilidade latino-americana; suas reflexões, em certa medida,
antecipam alguns elementos das perspectivas críticas na contabilidade (CPA) e
lançam âncoras à emancipação da pesquisa contábil latino-americana.
Contudo, Schultz e D’Iorio (2021, p. 244) apontam que “no campo da pes-
quisa são geradas reflexões epistemológicas isoladas. Esta é uma constante nas
universidades argentinas onde são ministrados cursos da especialidade contá-
bil, ou onde existem cursos ou departamentos de contabilidade”. A pesquisa
contábil argentina, de acordo com Schultz e D’Iorio (2021), tem sido regulató-
ria, ora sobre regulação contábil, ora com expansão teórica. Schultz e D’Iorio,
(2021) reclamam do modesto lugar ocupado pela epistemologia (Bunge, 1997)
no campo acadêmico, o que tem permitido uma visão tubular acerca do futuro
profissional da contabilidade, cuja prioridade está na prevalência dos conceitos
pragmáticos (técnicas e procedimentos) em detrimento da teoria.
Por outro lado, os acadêmicos argentinos têm feito um esforço no sentido
de repensar a contabilidade sob bases mais críticas, com foco na responsabi-
lidade socioambiental, e propondo aproximar as ideias dos latino-americanos,
por meio de congressos e simpósios internacionais. Exemplo disso é Simposio
Internacional de Teoría Contable, cuja coordenação geral é da diretora do Centro de
Investigación en Contabilidad Social, professora Inés García-Fronti (UBA).
II.2. Breve resumo da história e do pensamento contábil no Brasil
As publicações sobre a história da contabilidade no Brasil só se iniciam, com
maior intensidade, a partir do início do século XXI. O aumento do interesse em
pesquisar a história da contabilidade no Brasil pode ser consequência do pro-
vável esgotamento do modelo normativo-positivista adotado a partir dos anos
de 1970, além do abandono da ideia de que a contabilidade era somente um
sistema de informações. A aceitação da contabilidade enquanto ciência social
começa despontar timidamente. As pesquisas sobre às perspectivas críticas na
contabilidade, até o momento, praticamente inexistem no Brasil.
A primeira escola de comércio do Brasil, foi a Academia de Comércio de Juiz
de Fora-MG, fundada em 1891, inspirada nos programas da Escola de Altos-Es-
tudos Comerciais de Paris (Silva e Nepomuceno, 2011). As primeiras publicações
241Contaduría Universidad de Antioquia – N o. 81. M edellín, j ulio-diciembre de 2022
técnico-científicas foram feitas pela Revista Brasileira de Contabilidade, lançada
em 1912, por Carlos de Carvalho, Horácio Berlinck e José da Costa Sampaio (Sil-
va e Nepomuceno, 2012).
Em 1924, o Rio de Janeiro sediou I Congresso Brasileiro de Contabilidade,
quando foi aprovada a seguinte definição: “a contabilidade é a ciência que es-
tuda a prática e as funções de orientação, de controle e de registro, relativos
aos atos e aos fatos de administração econômica” (CFC, 2008). Destaca-se que
desde 1836, a Academia Francesa de Ciências reconhece a contabilidade como
“ciência social, um corpo de conhecimento sobre o homem e sua riqueza”
(García-Casella e Rodríguez-Ramírez, 2001, p. 141).
Somente em 1945 foi criada a primeira Faculdade de Ciências Econômicas,
com o curso de contabilidade (Universidade do Brasil); e em 1946, foram cria-
dos os Conselhos de Contabilidade (CRCMG, 2021), responsáveis pelo registro,
fiscalização e normatização da profissão de contador. A profissão de auditor
independente (contador público certificado) é regulamentada pelo Instituto de
Auditoria Independente do Brasil (IBRACON).
Em 1946, a Universidade de São Paulo criou a Faculdade de Ciências Econô-
micas e Administrativas que oferta o curso de Ciências Contábeis e Atuariais
(Silva, 2002). Muitos acadêmicos renomados foram para o curso de contábeis da
USP (Francisco D’Auria, Frederico Hermman Júnior, Coriolano Martins, e outros).
“Ao estudar o processo de desenvolvimento da profissão contábil no Brasil”, se-
gundo Gomes (1979, p. 99), “tem-se a impressão de estar estudando a evolução
desta profissão nos EEUU”. A influência norte-americana se revelou, fortemen-
te, a partir dos anos de 1970 e 1980. Segundo Iudícibus (1981, p. 37) o curso
de contábeis “ganhou o primeiro núcleo efetivo, embora modesto, de pesquisa
contábil nos moldes norte-americanos, isto é, com professores dedicando-se
em tempo integral ao ensino e à pesquisa [...]”.
Para Iudícibus (1981, p. 36) “o Brasil foi forte e inicialmente influenciado pela
escola italiana. Aliás, as paixões e as discussões em torno das escolas [...] foram
[...] irrelevantes”. Em outro trecho de seu trabalho Iudícibus (1986, p. 32) afir-
ma que “a escola italiana, vinculada a um excessivo culto da personalidade [...]
produziu trabalhos repetitivos excessivamente teóricos, apenas pelo gosto de
serem teóricos”. Acrescenta ainda Iudícibus (1981, p. 44), ao se referir às críti-
cas feitas à Lei das SAs, cuja participação da USP foi expressiva: “[...] as críticas
destrutivas que emanaram de alguns profissionais que deveriam notabilizar-se
pelo senso do equilíbrio [...] em lugar de regatear palmas de auditórios iludidos
e pouco esclarecidos”. Bolsinhas (1980, prefácio) critica “a velha tendência da
escola europeia, de uma prolixidade teórica monótona e cansativa, cedeu a vez
a uma atitude mais pragmática, representada pela escola norte-americana [...]”.
Assim, as críticas às teorias contábeis europeias dão rumo à entronização do
242Perspectiva da pesquisa contábil na América Latina: Um olhar para a Argentina, Brasil e Colômbia
Nepomuceno, V.
modelo positivista norte-americano no Brasil, que, ainda hoje, detém a pre-
ferência de, praticamente, todos os periódicos (Avelar et al., 2020).
Gomes (1979, p. 104) num esforço de aproximação ainda maior do cenário
contábil norte-americano, afirma que “as recomendações finais sobre o ensino
de contabilidade [no Brasil] são aquelas contidas no Relatório Final da Junta de
Padrões para Programas e Escolas de Contabilidade Profissional do AICPA, de
1977”. A influência na pesquisa contábil brasileira, especialmente na FEA/USP,
a partir de 1970, tanto foi normativa (PCGA) quanto positiva (Martins, 2012). É
possível perceber, de acordo com Martins (2012), um caráter personalista e pou-
co crítico, desenvolvido por alguns professores do departamento de contábeis
da USP, na medida em que a linha de pesquisa era monocular (norte-americana).
O compromisso com o positivismo, com a práxis contábil, não permitiu perce-
ber ou desviar o olhar para algo insurgente na Europa e EEUU a partir dos anos
de 1980: as perspectivas críticas à contabilidade tradicional, sobretudo, àquele
modelo aplicado pela USP, incondicionalmente.
Por outro lado, à semelhança da Argentina, também o Brasil, no mesmo
período, sofreu as consequências da hiperinflação. O tratamento contábil foi
estabelecido pelo Decreto-Lei 1.598/1977, que exigia a indexação de: 1) ativo
permanente (ativo imobilizado, investimentos e diferido) e 2) contas de patri-
mônio líquido; as contrapartidas eram acumuladas em uma conta de correção
monetária lançada no resultado.
Por outro lado, no Brasil, diferentemente de outros países da América Latina,
os contadores são responsáveis pela elaboração e assinatura das demonstrações
contábeis e respondem judicial e solidariamente com o proprietário da empre-
sa; cabe aos auditores independentes emitirem o parecer sobre essas demons-
trações. O Brasil possui cerca de 522 mil contadores e técnicos (CFC, 2022); e
apenas 1.007 auditores independentes (IBRACON, 2022).
Em resumo, o pensamento contábil brasileiro, à semelhança dos argentinos,
também cedeu à forte influência da pesquisa contábil positiva norte-americana,
além de replicar e entronizar suas normas e princípios de contabilidade como se
fossem brasileiras.
II.2.2 Discussões acerca da Pesquisa contábil no Brasil
A pesquisa científica na contabilidade brasileira ainda é incipiente, mono-
paradigmática (Martins, 2012) sob a ótica da teoria científica; reproduzimos
ipsis verbis a literatura anglo-saxã, cujos resultados são pouco científicos se o
olhar crítico nos conduzir à percepção de que esse modelo é sectário, acríti-
co, a-cultural, hegemônico e colonialista. Assim, do ponto de vista intelectual
não produzimos ciência, replicamos modelos paradigmáticos estrangeiros e
negligenciamos a autonomização (Bordieu, 1976) da ciência da contabilidade.
Ressalte-se: o positivismo, por construir objetivamente sujeito e objeto, postula
243Contaduría Universidad de Antioquia – N o. 81. M edellín, j ulio-diciembre de 2022
a uma ciência neutra, “livre de toda contaminação de valores pessoais, éticos,
morais, sociais ou culturais” (Delanty e Strydom, 2003). Esse perfil de pesquisa
é quantitativo e hegemônico e visa a um discurso de exatidão e verdade, legiti-
mado pela academia.
De acordo com Homero (2017), há evidências de mudança paradigmática
(1990-2000) com a ascensão do positivismo em detrimento de abordagens
normativas. Nascimento et al. (2018, p. 31) registra que apenas a Universida-
de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) oferta a disciplina relacionada à pesquisa
qualitativa”. Miranda et al. (2013), no mesmo sentido, constata que a linha de
pesquisa sobre educação e pesquisa contábil é a que tem o menor percentual
de trabalhos defendidos. Portanto, a ênfase dos programas de pós graduação no
Brasil, capitaneados pela USP, não é no campo da teoria ou do pensamento, mas
da práxis contábil.
Praticamente, nenhuma perspectiva crítica emergiu da academia brasileira,
berço de onde deveria brotar ensaios teóricos que nos permitissem novos ca-
minhos genuínos e construtivos. Dos raros trabalhos produzidos por autores
brasileiros sobre a nossa servidão normativo-positivista, são os de Silva et al.
(2022); e Sauerbronn et al. (2017), que tratam de desafiar o colonialismo a partir
(e dentro) das margens, além de sugerir uma nova agenda de pesquisa. Embora
Silva et al. (2022) afirmem “abarcar contribuições emergentes de autores latino-
americanos”, há pouca referência aos autores contábeis latino-americanos.
Poucos trabalhos sobre a perspectiva crítica da contabilidade (CPA) foram
publicados no Brasil (Homero, 2017; Nascimento et al., 2018; Nascimento et al.,
2020). Homero (2017), por exemplo, sob o olhar da perspectiva crítica, propõe,
em seu trabalho sobre os paradigmas e a ordem do discurso na pesquisa contá-
bil brasileira, identificar as premissas subjacentes às escolhas metodológicas e
compartilhadas pela comunidade acadêmica. O autor constata, assim, a preva-
lência do positivismo na pesquisa nacional, por meio da homogeneização dos
métodos e do discurso.
A análise de Homero (2017, p. 51) “sugere que no discurso da comunidade
acadêmica nacional predomina uma visão neoliberal, marcada pelo compro-
misso com a expansão dos mercados de capitais e a não interferência estatal”.
Além disso, Homero (2017, p. 51) salienta que a “característica principal desse
discurso é a subordinação aos interesses da profissão contábil: regulação pri-
vada da contabilidade, sob o controle de normatizadores “independentes”, é
defendida em tom de militância”. Suas conclusões são pela percepção da exis-
tência de a-criticidade do modelo positivista, o que favorece a manutenção dos
interesses do campo profissional.
Outra alternativa utilizada para criticar o positivismo, sem envolvimento com
mainstreams mais radicais, como o CPA, é a utilização da análise crítica do dis-
curso (Aragão, 2016; Barros, 2008; Homero, 2017). No entanto, essa análise não
244Perspectiva da pesquisa contábil na América Latina: Um olhar para a Argentina, Brasil e Colômbia
Nepomuceno, V.
examina o potencial retórico e manipulador da linguagem contábil no contexto
social. Aragão (2016) observa que os autores de artigos científicos em contabili-
dade reproduzem vozes e, ao mesmo tempo, silenciam a sua capacidade crítica
para não se exporem ao risco de tecer críticas desconcertantes. Assim, evitar
mainstreams mais polarizados propicia zonas de conforto do autor com a acade-
mia e com os periódicos.
Martins (2012), por exemplo, embora faça referência ao movimento critical
perspectives on accounting (CPA), segue em outra vertente, buscando reconci-
liar mainstreans de toda ordem, normativismo, pragmatismo, estruturalismo,
etc; para ele o relevante é posicionamento filosófico. No entanto, o posicio-
namento filosófico tem consequências ideológicas que devem ser suportadas
pelos pesquisadores.
É o que parece revelar também a tese de Aragão (2016) ao investigar a
hegemonia do discurso contida no periódico Revista de Contabilidade e Fi-
nanças (RC&C). Aragão (2016, p. 159) afirma “que alguns pesquisadores têm de
disseminar suas ‘pesquisas oportunistas’, seja por coerção institucional, seja
pelo desejo descomprometido de poder e prestígio”. A autora manifesta a sua
inquietude ao verificar “que há um cenário de acomodação de pesquisadores
que negligenciam o seu entorno e sua própria literatura objetivando [...] pro-
dutividade científica” (p. 159). “A frenética ‘necessidade’ de produção científica
tem levado alguns ‘pesquisadores’ a tentar manterem-se junto a centros de pes-
quisa hegemônicos [...]”, na medida em que Aragão (2016, p. 160) constata que
a produção científica brasileira “sofre forte influência ideológica da USP e dos
Estados Unidos.
Apesar dessas incômodas realidades acadêmicas, recentemente, foi criada
a rede QRCA (Qualitative, Research and Critical Accounting) que se “constituiu
como um espaço para acadêmicos e acadêmicas em pesquisa alternativa, qua-
litativa, interpretativa e crítica em contabilidade, interessados em desenvolver
ou compartilhar conhecimentos na/sobre/com a América Latina” (QRCA, s.d.); as
línguas de domínio da rede são, preferencialmente, espanhol e português.
Portanto, no campo da pesquisa contábil brasileira o que não nos faltam são
obstáculos a serem superados. Embora já se admita no Brasil que a contabilida-
de é uma ciência social ainda não se dimensionou sua significação no contexto
social, sua amplitude, tampouco suas magnitudes sociais.
II.3. Breve resumo da história e do pensamento contábil na Colômbia
Possivelmente, se comparados com argentinos e brasileiros, os pesquisado-
res colombianos produziram, proporcionalmente, mais trabalhos dedicados aos
estudos da história da contabilidade colombiana (Bejumea et al., 2011; Cubides
et al., 1999; Quintero, 2002; Rico-Bonilla, 2018; Rocha e Martínez, 2016); além
de numerosas publicações sobre a pesquisa científica contábil, pensamento
245Contaduría Universidad de Antioquia – N o. 81. M edellín, j ulio-diciembre de 2022
contábil e a pesquisa dedicada à perspectiva crítica da contabilidade, o que faz
da Colômbia, provavelmente, um dos centros de referência em matéria de publi-
cações científicas contábeis da América Latina.
De acordo com Rocha e Martínez (2016), no início do século XIX não existia
evidência de qualquer ensino formal de contabilidade. A primeira iniciativa de
ensino profissional de contabilidade foi em 1887, pela Universidad Externado
de Colombia com a capacitação em escrituração de livros (“tenedor de libros”).
Quintero (2002) informa que a Escola Nacional de Comércio foi fundada em
Bogotá, em 1905. Segundo Rocha e Martínez (2016), essa instituição marcou a
profissão contábil porque foi vinculada à Universidad Nacional de Colombia, em
meados do século XX, sob a forma de Facultad Nacional de Contaduría, com o
propósito de desenvolver o primeiro programa de Contaduría Pública do país.
Devido ao domínio exercido pelos EEUU sobre a Colômbia, na época da
desapropriação do Panamá, afirmam Rocha e Martínez (2016), os norte-ame-
ricanos enviaram peritos contábeis para supervisionar o tratamento de crédi-
tos e capital investido, além de sujeitar a Colômbia a uma missão econômica,
chefiada por Edwin Walter Kemmerer, o que culminou, nos anos de 1923, na
formação de uma comissão que ajudariam a Colômbia sob os aspectos admi-
nistrativos, financeiros e fiscais. Dessa comissão surgiram iniciativas relevan-
tes, como a criação do Banco da República, criação da lei sobre o imposto de
renda, a Controladoria Geral da República, além de outras iniciativas. Rocha e
Martínez (2016, p. 9) afirmam também que a referida “Missão Kemmerer fez
apelos insistentes sobre a necessidade de se criar uma entidade que fiscalizas-
se as empresas em nome dos acionistas, que fosse adequada e com habilidade
para controlar a contabilidade”; disso deflui o surgimento da figura do revisor
de contas.
Em 1931, a Lei 58 que criou a Superintendencia das Sociedades Anônimas,
também estabeleceu a regulamentação da profissão de contador juramentado,
cujas funções eram “revisar os balanços e livros de contabilidade das SAs; de-
sempenhar os cargos de liquidadores comerciais das SAs” (Mattos, 2009). Surge,
assim, o revisor de contas, responsável pela auditoria independente, com emis-
são de certificado para o estado. Entretanto, essa lei ficou suspensa até 1937,
quando é reativada pela Lei 18/1936 (Mattos, 2009). Em 1960, foi sancionada
a Lei 145 que regulamentou, de forma definitiva, o exercício da profissão de
contador público (Mattos, 2009). Portanto, o florescimento da profissão de con-
tador público representou um marco na história da contabilidade da Colômbia.
Gómez-Villegas (2008) delineia as fases da história da pesquisa contábil
colombiana, desde os anos de 1970. Segundo Gómez-Villegas (2008), pode-se
sintetizar, nos anos de 1970: pesquisa científica (método científico-materialista)
como opção da Teoria da Contabilidade; nos anos de 1980: a epistemologia
convencional como fonte da teoria contábil; anos de 1990: a metodologia e a
246Perspectiva da pesquisa contábil na América Latina: Um olhar para a Argentina, Brasil e Colômbia
Nepomuceno, V.
sócio epistemologia como concretização da teoria contábil (leituras de outras
disciplinas); nos anos 2000: a teoria contábil como espaço institucional, surge
a necessidade de acordos coletivos mínimos. Essa última fase, revela, portanto,
a retomada das tensões entre regras contábeis baseadas na autoridade versus
conhecimento baseado na ciência (Gómez-Villegas, 2008).
Rico-Bonilla (2018, p. 44) afirma que “é possível apontar que as linhas de
pensamento internacionais que mais influenciaram os tratados locais foram a
personificação e o Contismo franceses, especialmente Degrange Jr., além dos
norte-americanos Paton e Harry Finney. No entanto, Benjumea (2011, p. 19)
afirma que “no início da década de 1950, os colombianos conheciam apenas
experimentalmente o básico da contabilidade”. As firmas de contabilidade es-
trangeiras, especialmente de auditoria, se valem disso para implementarem seus
negócios na Colômbia (Benjumea, 2011). Essa invasão do mercado de auditoria
e contabilidade, especialmente, pelos norte-americanos, provocou uma reação
dos contadores colombianos, o que pode ter contribuído para o seu fortaleci-
mento. É possível que a classe, naquele momento, passou a ter uma visão mais
crítica, buscando um posicionamento mais nacionalista, mais à esquerda pro-
gressista (Gómez-Villegas et al., 2021).
Esta é uma das diferenças entre a Colômbia e os outros países latino-
americanos, particularmente, Argentina e Brasil: a perspectiva nacionalista no
momento em que a classe é reconhecida como profissão legalmente habilitada
e perde espaço para o profissional estrangeiro. Gómez-Villegas et al. (2021,
p. 3) salientam que o profissional colombiano “questionava as seguintes con-
centrações: i) do mercado de auditoria fiscal por empresas transnacionais de
serviços contábeis; ii) da educação contábil; e iii) das práticas baseadas em prin-
cípios e marcos regulatórios estrangeiros (americanos) [...]”. Os autores acima
entendem que esse domínio estrangeiro sobre a contabilidade colombiana tem
determinado uma alienação da prática profissional e descontextualizado a pro-
fissão de seus propósitos sociais nacionais.
A tentativa de rechaçar tais intromissões na contabilidade colombiana, se-
gundo Gómez-Villegas (2008), Sarmiento e Muñoz (2011), Cubides et al. (1999),
e outros, estimulou ações para fortalecer a profissão, a partir dos anos de 1970,
como: a criação de associações e “convocação de congressos pela categoria
profissional fortemente influenciada por perspectivas políticas da esquerda pro-
gressista, tanto nas universidades quanto em outras instancias intelectuais do
país” (Cubides et al., 1999). Essas iniciativas tinham o propósito deliberado de
insurgir contra as posições defendidas pelas empresas multinacionais e organi-
zações de classe com visões tecnocráticas e hegemônicas da profissão (Gómez-
Villegas, 2008).
Essa inquietação do profissional contábil colombiano estimulou a criação do
Centro Colombiano de Investigaciones Contables (CCINCO), na década de 1980,
247Contaduría Universidad de Antioquia – N o. 81. M edellín, j ulio-diciembre de 2022
cujo papel precípuo foi liderar a pesquisa contábil alternativa, consolidando-
se, assim, como centro do pensamento crítico interpretativo (Franco, 2018).
Também foi criada a Federación Nacional de Estudiantes de Contaduría Pública
(Fenecop), com dedicação extracurricular que possibilitou discussões sobre as
perspectivas críticas da contabilidade e da profissão contábil (Gómez-Villegas et
al., 2021).
II.3.1. Discussões acerca da pesquisa contábil na Colômbia
Diferente dos outros países latino-americanos, a Colômbia, ao rechaçar
modelos contábeis estrangeiros, numa luta quase solitária, busca estabelecer,
além da crítica, um novo projeto contábil mais próximo da cultural colombiana
e de conformidade com os seus interesses sociais e nacionais. Os modelos es-
trangeiros aportados na Colômbia têm dificultado o desenvolvimento de uma
perspectiva científica e social da contabilidade (Burbano, 1989; Franco, 1989;
Giraldo, 2014). O engajamento da comunidade acadêmica tem contribuído de
forma substancial para a discussão dos novos rumos da contabilidade colombia-
na, sobretudo, porque sabe-se que os países ‘desenvolvidos’ ignoram quase que
totalmente a pesquisa contábil básica (Quintero, 2002).
O ponto de partida dos pesquisadores colombianos foi a crítica como ele-
mento de desconstrução da tendência hegemônica normativo-positivista sob o
domínio anglo-saxão. Autores como Gómez-Villegas, Franco-Ruiz, Vargas-Res-
trepo, Ariza-Buenaventura, e muitos outros, têm assumido a postura de uma
pesquisa crítico-interpretativa, denominados de heterodoxos. Tem sido papel,
então, dos heterodoxos “negar a importância da corrente ortodoxa de pesquisa
contábil” (Giraldo, 2014, p 83). A reação insurgida contra essa corrente ortodoxa
hegemônica foi considerar a contabilidade como uma “construção social” (Fran-
co, 2018; Gómez Villegas et al., 2021; Nepomuceno, 2021; e tantos outros). As
críticas feitas por Ariza-Buenaventura e Gómez-Villegas (2008) são no sentido
da desconstrução do pensamento único (Chanlant, 2002) na pesquisa contábil.
Como afirma Quintero (2002, p. 122) “[...] o habitual [nos países “desenvolvi-
dos”] é produzir normas que tornem a contabilidade um conhecimento estraté-
gico apoiado na razão prática para colocá-la a serviço do capital”.
Nesse sentido, Franco (2018, abstract) é enfático ao afirmar que “para
superar o atual reducionismo financeiro, é preciso solucionar as tradicionais
anomalias inerentes ao patrimônio-propriedade, para caminhar no sentido de
uma mensuração da eficácia social [...]” (grifo do autor). Franco (2018, abs-
tract) entende que a mensuração da eficácia social pode se dar “por meio da
formação de escolas autóctones do pensamento contábil que rompam com o
círculo vicioso das colonizações continuadas [...]”. Por exemplo, sua percep-
ção acerca dos conceitos de custo histórico e valor justo dão a dimensão do
significado da hegemonia retórica contida no conceito de valor justo para o
248Perspectiva da pesquisa contábil na América Latina: Um olhar para a Argentina, Brasil e Colômbia
Nepomuceno, V.
propósito particularista. Franco (2018, p. 145) afirma que com o valor justo
“a contabilidade perde seu caráter de bem público global e passa a ser uma
mercadoria de uso decisivo no funcionamento do mercado de capitais e, es-
pecialmente, os dedicados a valores mobiliários”.
Uma das contribuições fora da contabilidade tradicional, construída a par-
tir da perspectiva crítica, são as reflexões de Franco (1998) sobre a criação do
modelo Contabilidade Integral1
. Segundo Franco (1998, p. 242), “a contabilidade
exclusivamente monetária carece de objetividade e validade para a análise fi-
nanceira e representa apenas uma visão parcial da atividade econômica”. Para
Franco (1988, p. 242) “a unidade monetária, eixo da teoria contábil, não possui
validade universal, não é um princípio ou postulado, mas apenas uma forma
particular de mensuração, como as outras”. Percebe-se que as ideias de Franco
muito se aproximam daquelas expressas por García-Casella. Nesse sentido, tam-
bém Lopes de Sá (1992, p. 22) entende que “se a moeda não tem valor absoluto,
se ela flutua ao sabor de um imenso número de variáveis, se ela pode esconder
suas cotações sob o manto de manobras políticas [...] como pode ser ‘parâmetro
de sinceridade’?”.
O modelo contábil defendido por Franco (1998) propõe uma integração dos
fluxos sociais e uma contametria que não é um dispositivo de caráter econô-
mico, mas um dispositivo de ecologia política, de caráter social, que envolve as
dimensões de mensuração e avaliação. Portanto, a Contabilidade Integral “pre-
tende construir uma teoria geral da contabilidade com base em uma abordagem
hipotético-dedutiva que se inicia com a formulação de princípios ou leis básicas
[...]” (Franco, 1998) [aqui também é possível perceber a proximidade dos pensa-
mentos de Franco e García-Casella].
Esse tem sido um dos caminhos percorridos pela Colômbia, cuja preocupa-
ção central é, além de eliminar a hegemonia normativo-positivista (cultura con-
tábil estranha), criar uma contabilidade com substância social e com parâmetros
voltados à sociedade colombiana. No entanto, como afirma Gómez (2008, p.
27), ainda “[...] não há acordos gerais sobre as categorias epistemológicas que
definiriam seu status a partir dessa abordagem [...]”.
Em síntese, o que se constata na Colômbia é o fortalecimento da pesquisa
contábil para a perspectiva crítico-interpretativa, com ideias e proposições ge-
nuinamente, autóctones. A Colômbia se desperta, de forma vigorosa, para uma
contabilidade mais próxima das motivações sociais e de um novo marco nas
relações socioambientais.
1 Para maiores informações sobre a Contabilidade Integral, veja Franco (1998).
249Contaduría Universidad de Antioquia – N o. 81. M edellín, j ulio-diciembre de 2022
III. Perspectivas da pesquisa contábil na América Latina
Nem sempre a lógica aplicada pelos países desenvolvidos é aplicável aos
países em desenvolvimento. Hopper et al. (2017, abstract), lembram que “a
contabilidade é um instrumento e um objeto da globalização, mas seu impacto
e sua manifestação não são uniformes entre os países desenvolvidos do Nor-
te e os países em desenvolvimento do Sul”. Por exemplo, aceitamos a tese de
que as International Financial Reporting Standards (IFRS) são normas de alta
qualidade e benéficas para os países em desenvolvimento. Hopper et al. (2017)
denunciam como as IFRS promovem o neoliberalismo global e como perpassa
a ideia de que a contabilidade é vista como uma simples transferência, dos paí-
ses ricos para os pobres, de sistemas técnicos [tecnologias], de regulamentos
e de conceitos usados. Segundo os autores citados acima, isso mascara uma
série de questões: i) o viés voltado para as ideologias e interesses do Norte,
principalmente, os das corporações multinacionais; ii) questões tratadas de
forma insuficientes nos países do Sul; iii) problemas de implementação; iv) de-
sigualdade de poder, etc.
Ideologias são transferidas aos países do Sul por meio de tecnologias estru-
turais como se fossem objetos neutros. As práticas contábeis tornaram-se parte
das tecnologias sociais de “alcance colonial”; são tecnologias contábeis enviadas
das instituições euro-americanas para os países emergentes. Quintero (2002, p.
124) de forma lúcida, ressalta que “o desenvolvimento tecnológico é assumido
acriticamente nos países periféricos. Se há uma aplicação criativa da tecnologia,
ela é incipiente. Quase imperceptível”. As tecnologias contábeis são estrutu-
radas com elevado conteúdo semântico enviesado, por exemplo, os formatos
quadráticos e tiranos estabelecidos pelas indexações das revistas e periódicos;
outro exemplo é o XBRL 2 . Nesse sentido, a afirmação de Quintero (2002, p.
124) reflete corretamente esse propósito: “a maneira de abordar a tecnologia
é geralmente estática, de adoração e de culto”. Assim, “políticas recomendas e/
ou impostas por instituições externas falham” (Andrews, 2012), e engessam a
capacidade de construção, de mobilização dos países periféricos.
A desconstrução dessas tecnologias contábeis impõe estudos críticos acerca
de suas não neutralidades. Um argumento nesse sentido vem da filósofa bra-
sileira, Marilena Chaui que se refere à hegemonia tecnológica autoritária con-
temporânea, impregnada na organização das universidades, como “idelogogia
da competência”. É como se a universidade se transformasse numa esteira de
produção taylorista e resgatasse o discurso de Braverman (1985) sobre o “operá-
rio-bovino”; esse discurso foi rapida e convenientemente deglutido, mas pouco
digerido pelos acadêmicos. A crítica ao positivismo, que inundou a pesquisa
contábil, deve ser percebida sob os mesmos tons.
2 Extensible Business Reporting Language (XBRL).
250Perspectiva da pesquisa contábil na América Latina: Um olhar para a Argentina, Brasil e Colômbia
Nepomuceno, V.
Quanto à indexação das revistas e periódicos, as críticas se intensificam na
Colômbia, principalmente porque na disciplina contábil houve uma preponde-
rância à epistemologia e à teoria contábil de natureza nacionalista (Arias et al.,
2020). Arias et al. (2020, p. 148) criticam: “[...] a cienciometria, representada
por rankings por meio do Scimago e o fator de impacto, por meio de citações,
são critérios discutíveis [...] antidemocráticos, assimétricos que se colocam
como novas formas de colonização e dominação sobre outros conhecimentos
[...]” (grifos dos autores). Estamos sob o julgo da tirania editorial estrangeira.
A produtividade exigida pelas estruturas oligopolistas (Springer, Elsevier, Sco-
pus, etc) joga com o modelo de negócio que se baseia na apropriação privada
do trabalho público (Arias et al, 2020). Portanto, o impacto das publicações
medido por citações é uma medida abusiva, sem sustentação empírica (Gómez-
-Morales, 2018).
No Brasil, na Argentina e em outros países latinoamericanos (com exceção da
Colômbia), a expressiva maioria dos pesquisadores endossa e replica o “discurso
oficial” (Franco, 2018) construído pelos países desenvolvidos, por décadas, sob
o argumento da relevância da tomada de decisão e da doutrina do valor para o
acionista. Partimos, provavelmente, de premissas equivocadas ou obtusas e sob
a sensação de que estamos fazendo ciência de alto nível, o que é um equívoco.
III.1. Proposições para uma perspectiva autônoma e a desconstrução
dos mitos
Inicialmente, é necessário admitir uma condição sine qua non: os países
latino-americanos têm sido colonizados pelos países do Norte. Essa coloniza-
ção ocorre, principalmente, por meio da pesquisa baseada na teoria positiva
da contabilidade (PAT) e por uma normatização contábil inadequada, desde a
década de 1970 (Sauerbronn et al., 2017; Chabrack, 2012). Por essa razão, “o
diálogo científico foi afetado por uma fixação de crença e esclerose” (Chabra-
ck, 2012, 452, grifo do autor). A capacidade de reflexão, de proposição e de in-
ventividade científico-contábil, foi, tiranamente, impedida pelo formato do R2
inferencial dos positivistas norte-americanos. A regra hegemônica é: “qualquer
discurso dissonante era descartado. O diálogo científico tornou-se uma repe-
tição do que é legítimo e cientificamente correto: uma concepção monolítica
do mundo” (Chabrack, 2012, p. 452, grifo do autor). Estudiosos neoliberais e
financiadores corporativos “foram responsáveis por difundir ideias neoliberais,
influenciando significativamente os atuais currículos científicos [...]” (Sauer-
bronn et al., 2017, grifo dos autores).
Nesse sentido, é necessário desconstruir mitos que têm imperado nas aca-
demias latino-americanas como se fossem verdades absolutas. Por exemplo: i)
os objetos contábeis são neutros; ii) as IFRS são aplicáveis a qualquer país, visto
que são normas generalistas e de alta qualidade; iii) a globalização é estável e
251Contaduría Universidad de Antioquia – N o. 81. M edellín, j ulio-diciembre de 2022
duradoura. iv) as demonstrações contábeis consolidadas são transparentes e
expressam a realidade econômico-financeira; v) a indexação e acreditação de
revistas e periódicos são tecnologias inofensivas e benéficas à construção e
aprimoramento das pesquisas; vi) a contabilidade é a ciência do patrimônio; vii)
é impossível uma teoria geral da contabilidade.
Os mitos não se esgotam nesses apresentados acima. Ao contrário, esse é
um processo de descoberta na medida em que as críticas e as interpretações
revelem novas realidades contábeis latino-americanas.
III.1.1 A falácia do reducionismo do objeto contábil
Tentar construir a ciência da contabilidade a partir de um objeto único e
particular, reduzindo-o a uma contabilidade privada (financeira) é falacioso.
Nenhuma ciência, cuja premissa é a linguagem, a comunicação social, pode ser
estabelecida por meio de uma redução particularista. A ciência do patrimônio,
da pessoa jurídica (ficcional), é um paradoxo, um contrassenso porque se isola
em sua própria construção linguística como detentora e manipuladora da infor-
mação por meio da retórica da persuasão (discurso com aparência de univer-
sal), sobretudo, com a chancela irrestrita de quem a escreve e a interpreta: o
profissional da contabilidade. Aqueles que ainda não suportam a construção da
contabilidade como ciência, porque a admitem tão somente como um sistema
de informação, são coerentes por princípio. Para esses o que a contabilidade
produz é apenas informações sistemáticas, como uma carta náutica, como o
sistema meteorológico, um jornal que organiza as informações de maneira sis-
temática; portanto, é um instrumento de mensuração e avaliação do patrimônio
privado para um propósito específico, por exemplo, para a tomada de decisão.
Mas, não é disso que se trata a ciência da contabilidade. A contabilidade por
ser uma construção linguística possui, como toda linguagem, léxico, semânti-
ca e sintaxe para que possa ser compreendida pela sociedade. A Academia
Francesa de Ciências (1836), embora definira a contabilidade como uma ciên-
cia social, a percebeu somente como um objeto de observação da riqueza do
homem; o que se pretende nos tempos atuais é a sua dimensão holística, seu
caráter societal, de construção de relações endógenas e exógenas entre todos
na sociedade. A ciência contábil é uma ciência social porque interfere, por meio
da linguagem, no comportamento dos atores sociais. No entanto, é necessário
salientar o seu caráter específico enquanto linguagem de representação dos nú-
meros, sejam eles monetários e não monetários. Isso faz da contabilidade uma
ciência social singular que requer fundamentos científicos.
Nesse sentido, a contabilidade como ciência social aplicada pressupõe uma
condição emancipatória, autonomia e maturidade científicas que possibilitem a
harmonização entre os instrumentos tecnológicos e seus efeitos na sociedade,
por meio de linguagem contábil transparente, cujo propósito ideológico é o in-
252Perspectiva da pesquisa contábil na América Latina: Um olhar para a Argentina, Brasil e Colômbia
Nepomuceno, V.
teresse e a construção sociais. Uma das resistências dos normativistas-positivis-
tas em aceitar uma teoria geral da contabilidade é por causa da perda do objeto
privado. Isso lhes custaria a hegemonia, a perda do foco e do controle sobre o
objeto. Não há arcabouço científico (normativista-positivista) que inviabilize ou
impossibilite a teoria geral da contabilidade na medida em que sua teorização
se funda na expressividade linguística societal.
Assim, do ponto de vista holístico pode-se perceber a ciência da contabilida-
de, filosoficamente, sob três categorias com fundamentos ontológicos e episte-
mológicos: i) essência (posição epistêmica); ii) ambiência (realidade social); iii)
dimensão (teoria e método) (Nepomuceno, 2005). Essa percepção onto-episte-
mológica permite espaços para se desenhar a teoria geral da contabilidade; são
premissas filosóficas sobre as quais pode-se estabelecer os termos primitivos,
pressupostos básicos, diretrizes (García-Casella; Franco), e a sua contametria
social (Franco).
III.1.2 Teoria Geral da Contabilidade: uma perspectiva critico-interpretativa
Se o propósito acadêmico latino-americano é estabelecer uma agenda cientí-
fica crítica, sob o foco social, então, as propostas de García-Casella (2001, 2000)
e Franco (2018) podem ser uma referência profícua, um ponto de partida. As
propostas são no sentido da emancipação da contabilidade enquanto ciência so-
cial, desgarrada do reducionismo patrimonialista. A construção da teoria geral
da contabilidade permitirá detectar as lacunas informacionais existentes fora
do domínio da contabilidade privada. Essas lacunas informacionais sequer são
admitidas pelos países do Norte. Embora esses países produzam informações
por meio da contabilidade nacional (social), com informações econômicas sobre
renda nacional, sobre o PIB, praticamente, nenhuma conectividade existe entre
as contabilidades privada e nacional, na medida em que a última é gerada por
meio de dados estatísticas; ambas são registradas por partidas dobradas.
Uma das propostas da teoria geral da contabilidade é a introdução da men-
suração contábil física, como contar os minerais, água doce, energia, madeira,
peixes, oxigênio, etc). Embora alguns autores (Calafell, 1971, Mattessich, 2002;
Rodríguez, 1984;) já tenham previsto esse tipo de abordagem, nenhum estudo
científico foi desenvolvido. A ONU, por meio do Sistema de Contabilidade Am-
biental e Econômico tem desenvolvido um projeto nesse sentido, em que esse
sistema contábil visa mensurar fisicamente os recursos naturais de um país,
cujo propósito é a obtenção do denominado PIB verde. Esse tipo de iniciativa de
PIB verde pode transformar um país, economicamente irrelevante, em ecologi-
camente imprescindível à humanidade.
Portanto, esse controle e o acompanhamento devem ser prioridades da
Contabilidade Social (Nacional), por meio de novos sistemas de contas nacionais
—monetárias e não monetárias— estabelecendo, assim, as bases de uma eco-
253Contaduría Universidad de Antioquia – N o. 81. M edellín, j ulio-diciembre de 2022
nomia sustentável. A integração informacional das contabilidades privada e so-
cial demanda novos critérios e regras, novos princípios que já foram apontados
por García-Casella e Franco, além de novos grupamentos de contas contábeis,
com a imprescindível utilização de métodos de partidas duplas e quádruplas.
Os Planos Gerais de Contabilidade (PGC) terão quer ser restruturados sob novas
bases e novos princípios (monetárias e não monetárias).
Em síntese, esse pode ser o novo caminho a ser trilhado pela contabilida-
de latino-americana, independentemente, do que a Europa ou os EEUU estão
produzindo. Nossas questões contábeis domésticas competem somente a nós,
a mais ninguém. Isso não nos impedirá de mantermos relações comerciais in-
ternacionais posto que tudo isso demanda um processo de transição gradual e
consciente.
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