REVISÃO SISTEMÁTICA SOBRE SÍNDROME DE BURNOUT E ATIVIDADE FISICA EM PROFESORES
REVISIÓN SISTEMÁTICA SOBRE SÍNDROME DE BURNOUT Y ACTIVIDAD FÍSICA EN PROFESORES
BURNOUT SYNDROME SYSTEMATIC REVIEW AND PHYSICAL ACTIVITY IN TEACHERS
Elizandra Gonçalves Ferreira
Mestre em Ciências do Movimento Humano.
Centro de Ciências da Saúde e Esportes. Laboratório de Atividade Motora Adaptada. Universidade do Estado de Santa Catarina (Florianópolis - Brasil).
elizandrags@yahoo.com.br.
Franciele Cascaes da Silva
Mestre em Ciências do Movimento Humano.
Centro de Ciências da Saúde e Esportes. Laboratório de Atividade Motora Adaptada. Universidade do Estado de Santa Catarina (Florianópolis - Brasil).
francascaes@yahoo.com.br
Gisele Graziele Bento
Mestre em Ciências do Movimento Humano.
Centro de Ciências da Saúde e Esportes. Laboratório de Atividade Motora Adaptada. Universidade do Estado de Santa Catarina (Florianópolis - Brasil).
giselegbento@gmail.com
Salma Stéphany Soleman Hernandez
Mestre em Ciência da Motricidade Humana.
Centro de Ciências da Saúde e Esportes. Laboratório de Atividade Motora Adaptada. Universidade do Estado de Santa Catarina (Florianópolis - Brasil).
salmashernandez@gmail.com
Valdeni Manoel Bernardo
Mestre em Ciências do Movimento Humano.
Centro de Ciências da Saúde e Esportes. Laboratório de Atividade Motora Adaptada. Universidade do Estado de Santa Catarina (Florianópolis - Brasil).
valdezk@hotmail.com
Rudney da Silva
Doutor em Ergonomia.
Centro de Ciências da Saúde e Esportes. Laboratório de Atividade Motora Adaptada. Universidade do Estado de Santa Catarina (Florianópolis - Brasil).
rudney.silva@udesc.br
Ferreira, E. G., Silva, F. C., Bento, G. G., Hernandez, S. S., Bernardo, V. M., & Silva, R. (2015). Revisão sistemática sobre síndrome de burnout e atividade física em profesores. Educación Física y Deporte, 34 (2), Jul-Dic. http://doi.org/10.17533/udea.efyd.v34n2a02
DOI: 10.17533/udea.efyd.v34n2a02
URL DOI: http://doi.org/10.17533/udea.efyd.v34n2a02
RESUMO
A profissão docência apresenta características específicas, que podem provocar distúrbios na saúde, como o Burnout. Este desequilíbrio na saúde provoca consequências também à educação e às instituições. Contudo, existem estratégias para amenizar tal situação, como a atividade física. Objetivo: Analisar a produção científica sobre as relações entre a síndrome de Burnout e atividade física em professores, por meio de uma revisão sistemática. Métodos: A revisão seguiu as recomendações da Colaboração Cochrane e The PRISMA Statement e foram realizadas nas bases de dados eletrônicas MEDLINE via PubMed, SCOPUS (Elsevier), Web of Science e PsycInfo. Resultados: Foram selecionados apenas quatro artigos. Conclusão: Embora sejam poucos estudos, todos os resultados demonstraram o efeito positivo da prática de atividade física ou do exercício físico sobre os índices elevados de exaustão emocional e Burnout, sobre a intenção de migração ou deixar completamente a profissão, bem como a menor propensão ao desenvolvimento do Burnout naqueles fisicamente ativos.
PALAVRAS CHAVE: Esgotamento Profissional, Atividade Motora, Docentes.
RESUMEN
La profesión docente tiene características específicas que pueden causar perturbaciones en la salud, como el Síndrome de Burnout. Este desequilibrio en la salud también provoca consecuencias a la educación y a las instituciones. Sin embargo, hay estrategias para atenuar esta situación, como la actividad física. Objetivo: analizar la literatura científica sobre las relaciones entre el síndrome de Burnout y la actividad física en profesores, a través de una revisión sistemática. Método: la revisión siguiendo las recomendaciones de la Colaboración Cochrane y La Declaración PRISMA, se llevaron a cabo busquedas en las bases de datos electrónicas MEDLINE vía PubMed, Scopus (Elsevier), Web of Science y PsycInfo. Resultados: sólo se seleccionaron cuatro artículos. Conclusión: aunque sean pocos estudios, todos los resultados han demostrado el efecto positivo de la actividad física o del ejercicio sobre los altos niveles de agotamiento emocional y Burnout, sobre la intención de migrar o dejar completamente la profesión, así como una menor propensión al desarrollo de Burnout en aquellos físicamente activos.
PALABRAS CLAVE: Agotamiento Profesional, Actividad Motora, Docentes.
SUMMARY
The teaching profession has specific characteristics which may cause disturbances in health, such as Burnout. This health imbalance also causes consequences to education and institutions. Nevertheless, there are strategies to ease this situation, as well as physical activity. Objective: analyze the scientific literature on the relationship between the syndrome of burnout and physical activity in teachers, through a systematic review. Method: The review followed the recommendations of the Cochrane Collaboration and The PRISMA Statement and were carried out in electronic databases MEDLINE via PubMed, Scopus (Elsevier), Web of Science and PsycInfo. Results: Only four articles were selected. Conclusion: Although few studies, all results have shown the positive effect of physical activity or exercise on the high levels of emotional exhaustion and Burnout, on the intention of migration or completely leave the profession, as well as lower propensity to the development of Burnout in those physically active.
KEY WORDS: Burnout, Motor Activity, Teachers
INTRODUÇÃO
A síndrome de Burnout é uma expressão utilizada metaforicamente para caracterizar um estado de exaustão emocional, associada ao ambiente de trabalho (Maslach & Schaufeli, 1993) podendo ser resultante das relações sociais complexas, das projeções pessoais e da cronificação de um processo de estresse que pode afetar trabalhadores de praticamente todas as profissões (MSB, 2001; Benevides, 2002). Contudo, segundo Benevides (2002), algumas profissões, especialmente àquelas que trabalham diretamente com o público, encontram-se mais susceptíveis ao desenvolvimento dessa síndrome, em função do contato direto com as pessoas e suas respectivas realidades e dificuldades.
Diante disso, ressalta-se a profissão docente em função da essência e do perfil do seu trabalho, com as atribuições, compromissos e outros fatores estressores (Carlotto & Palazzo, 2006), que podem provocar distúrbios na saúde do trabalhador. Cabe destacar que o desequilíbrio na saúde do docente também provoca consequências às instituições e à educação, pois afeta a qualidade dos serviços prestados, a produtividade docente, os custos financeiros com assistência e os gastos com o absenteísmo, afastamentos e a alta rotatividade dos professores, que são fatores a serem considerados na atualidade (Oliveira, 2007; Benevides, 2002; Bergamaschi, Deutsch & Ferreira, 2002).
Contudo, existem estratégias de prevenção e enfrentamento que podem ser adotadas por funcionários expostos aos fatores relacionados à síndrome de Burnout como possibilidade de amenizar tal situação. Neste contexto, atividade física pode ser considerada uma forma eficiente de mudanças para um estilo de vida mais saudável. Estudos têm demonstrado ainda que os benefícios de ser fisicamente ativo envolvem tanto os aspectos físicos, como aumento da temperatura corporal, redução das dores articulares e musculares, melhoria na circulação e no sono, entre outros, como os aspectos psicológicos, como redução da irritação e de mudanças bruscas de humor, melhora no estado de humor, auto imagem e percepção da saúde, entre outros, podendo ainda, contribuir para minimizar a depressão e a ansiedade (Toker & Biron, 2012; Forcier et al., 2006; Nunomura, Caruso & Teixeira, 2004).
No entanto, apesar da relevância social dos conhecimentos acerca da Síndrome de Burnout, grande parte dos estudos se limita às associações do Burnout com características individuais ou fatores organizacionais (Horn & Schaufeli, 1997; Reviriego & Carreras, 2009; Luk et al., 2010; Carlotto, 2011; Léon-Rubio, Léon-Pérez & Cantero, 2013) e pouco tem sido investigado sobre a atividade física frente a essa questão. Diante disso, este estudo tem como objetivo analisar a produção científica sobre as relações entre a síndrome de Burnout e atividade física em professores, por meio de uma revisão sistemática.
MÉTODO
Esta revisão sistemática foi registrada no International Prospective Register of Systematic Reviews PROSPERO, sob o número CRD42014013326, do Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde (National Institute for Health Research – NHS), uma base de dados internacional de registro de revisões sistemáticas em saúde, que evita duplicatas de revisões e permite observar a fidelidade dos métodos da revisão. A pesquisa foi realizada de acordo com as recomendações da Colaboração Cochrane (Higgins & Green, 2011) e Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-analyses: The PRISMA Statement (Moher et al., 2009), indicadas também para revisão de estudos observacionais, por conter critérios importantes a serem contemplados em revisões.
Critérios de elegibilidade
Esta revisão incluiu estudos observacionais, com a temática síndrome de Burnout e atividade física (incluindo exercício físico) em professores, indexados nas bases de dados selecionadas previamente, com resumos e texto disponíveis na íntegra pelo meio on-line, de livre acesso, publicados nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola, sem restrição de ano. Foram excluídos estudos de revisão e estudos de validação de questionários, por apresentarem uma abordagem diferenciada de análise dos dados obtidos
Estratégia de busca
As buscas foram realizadas nas bases de dados eletrônicas MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System on-line) via PubMed, SCOPUS (Elsevier), Web of Science e PsycInfo. A estratégia de busca incluiu os descritores propostos no Medical Subject Headings (MeSH) referentes aos desfechos esperados (síndrome de Burnout e atividade física ou exercício físico) e à população envolvida (professores). A estratégia de busca completa pode ser observada no quadro 1. Todas as estratégias de busca foram desenvolvidas no mês de fevereiro de 2015.
MEDLINE via PubMed |
"Burnout, Professional"[Mesh] OR "Professional Burnout" OR "Stress Occupational" OR "Stress Management" OR "Stress Disorders" OR "Stress, Psychological"[Mesh] OR "Psychological Stresses" OR "Stresses, Psychological" OR "Stress, Psychologic" OR "Psychologic Stress" OR "Stress, Emotional" AND "Motor Activity" [Mesh] OR "Exercise"[Mesh] OR "Activities, Motor" OR "Activity, Motor" OR "Motor Activities" OR "Physical Activity" OR "Activities, Physical" OR "Activity, Physical" OR "Physical Activities" OR "Locomotor Activity" OR "Activities, Locomotor" OR "Activity, Locomotor" OR "Locomotor Activities" OR "Exercises" OR "Exercise" OR "Exercise, Physical" OR "Exercises, Physical" OR "Physical Exercise" OR "Physical Exercises" AND "Teaching"[Mesh] OR "Education" [Mesh] OR "School Teachers" OR "School Teacher" OR "Teacher, School" OR "Teachers, School" OR "Teacher" |
SCOPUS |
|
PsycInfo |
|
Web of Science |
OR Exercise |
Tabela 1. Descritores utilizados na estratégia de busca
Seleção dos estudos e extração dos dados
Os títulos e resumos de todos os estudos identificados pela estratégia de busca foram avaliados por dois revisores (EGF e RS). Após identificação dos estudos, os revisores avaliaram, de forma independente, e selecionaram de acordo com os critérios de elegibilidade pré-estabelecidos. As discordâncias entre os revisores foram resolvidas por consenso e, quando não houve consenso, um terceiro revisor (GGB) avaliou as informações e a qualidade metodológica para uma decisão final. Os dados extraídos foram relacionados à identificação do estudo e quanto aos principais resultados.
Avaliação de risco de viés
Assim como a seleção dos estudos, a qualidade metodológica de cada estudo incluído na revisão também foi avaliada de forma independente por dois revisores (EGF e RS) a partir de instrumento adaptado pelos autores Silva et al. (2014) baseado na escala Newcastle-Ottawa (NOS) (Wells et al., 2000), utilizada para avaliar a qualidade de estudos não randomizados.
RESULTADOS
Processo de seleção dos estudos
As buscas realizadas nas bases de dados selecionadas permitiram identificar preliminarmente 129 artigos, dos quais, após a avaliação do título e resumo, foram excluídos 115 estudos, por não abordarem o tema ou a população proposta. Diante dos 14 estudos resultantes da análise preliminar, constatou-se que um estudo era apresentado em língua diferente das incluídas nos critérios de elegibilidade e três constavam em mais de uma base de dados. Selecionando-se, desta forma, três artigos para a avaliação detalhada, sendo que todos foram considerados elegíveis e potencialmente relevantes para a revisão. Diante do baixo número de artigos selecionados, optou-se pela busca manual nas referências dos estudos selecionados a partir do título e resumo, acrescentando-se assim, mais um estudo (Carraro et al., 2010). A Figura 1 demonstra o fluxograma desse processo.
Figura 1. Fluxograma da estratégia de busca e estudios incluídos na revisão (adaptado de Moher et al., 2009)
Características dos estudos selecionados
As principais características metodológicas dos estudos selecionados estão apresentadas no quadro 2 e 3. Deste modo, pode-se verificar estudos realizados entre os anos de 2010 e 2012.
Autoria, Ano |
Local |
Objetivo |
Carraro,et al., 2010 |
Itália |
Examinar as associações de variáveis individuais, incluindo a prática de atividade física no lazer auto relatada, percepção de aptidão pessoal, utilizado no ensino, com pontuações nas três dimensões do o Burnout. |
Carson, et al., 2010 |
Estados Unidos |
Analisar simultaneamente as associações diretas entre atividade física no trabalho e domínios não relacionados ao trabalho, e o indicador de Burnout primário de exaustão emocional, e os resultados adversos importantes para educadores infantis. |
Yujiang, 2011 |
China |
Testar a hipótese de que o exercício físico tem efeito positivo sobre o Burnout em professores universitários. |
Sane, et al., 2012 |
Irã |
Estudar a relação entre a atividade física e seus componentes com nível de Burnout em membros da academia da Universidade de Daregaz. |
No que se refere ao delineamento metodológico, os estudos caracterizam-se como transversais, com dados coletados por meio de questionário, sendo que para a avaliação da Síndrome de Burnout foi utilizado, em todos os estudos, o Maslach Burnout Inventory – MBI e para avaliar a atividade física, foram utilizados questões auto relatadas e dois questionários, o Habitual Physical Activity Questionnaire – Baecke e o Physical Activity Rating Scale – PARS. O quantitativo da amostra variou de 81 professores (Sane et al., 2012) a 515 professores (Yujiang, 2011) e todos avaliaram a relação ou associação da atividade física com síndrome de Burnout.
Autoria, Ano |
Delineamento |
Amostra (n) |
Questionários |
Carraro,et al., 2010 |
Estudo transversal |
219 |
MBI; Questões sobre autopercepção da AF |
Carson, et al., 2010 |
Estudo transversal |
189 |
MBI; Baecke |
Yujiang, 2011 |
Estudo transversal |
515 |
MBI; PARS; |
Sane, et al., 2012 |
Estudo transversal |
81 |
MBI; Baecke |
Legenda: MBI, Maslach Burnout Inventory; AF, Atividade física; PARS, Physical Activity Rating Scale.
Tabela 3. Delineamento, amostra e instrumentos utilizados nos estudos incluídos.
Principais resultados dos estudos selecionados
Os principais resultados dos estudos incluídos estão descritos no quadro 4. Observa-se que os níveis de atividade física dos professores estudados foram considerados muito baixos, revelando assim o comportamento inativo e suas consequências deletérias a saúde. Em apenas um estudo (Sane, et al., 2012) os níveis de Burnout foram elevados, no entanto, nos demais estudos a dimensão de exaustão emocional, encontrou-se elevada. Quanto à relação da atividade física com o Burnout, verificou-se que quanto maior a intensidade, duração e frequência de exercícios, menores são os índices da síndrome, o que pode representar um possível efeito positivo da atividade física e/ou exercício físico na prevenção ou redução de Burnout, sendo que professores fisicamente ativos são menos propensos ao Burnout.
Além disso, encontrou-se relação inversa entre atividade física e síndrome de Burnout, bem como entre a atividade física, absenteísmo e exaustão emocional, sendo que os altos valores de Burnout, absenteísmo e exaustão emocional são associados com baixos valores de atividade física. Observou-se ainda relação positiva com a migração dos professores para outras escolas, como também com a intenção de sair da profissão, ou seja, os altos valores de Burnout são associados com altos valores de migração e intenção de sair.
Autoria, Ano |
Principais resultados |
Carraro, et al., 2010 |
Valores elevados em EE e DP e valores baixos na dimensão RRP. Diferenças significativas nas três dimensões do MBI para cada variável independente, com a exceção de anos de ensino. Os professores que relataram que nunca, ou quase nunca, estão envolvidos em AF durante o seu tempo de lazer obtiveram as menores pontuações na RRP do que aqueles que praticam frequentemente. Os professores que se percebiam com baixa aptidão física relataram uma RRP. Aqueles que classificaram a influência do condicionamento físico percebido sobre o ensino como baixa, tiveram maiores pontuações em DP e menores pontuações na RRP do que aqueles que avaliaram como alta influencia. As mulheres pontuaram mais em EE e menor na RRP que os homens. |
Carson, et al., 2010 |
AF no lazer foi correlacionado negativamente com a EE e absenteísmo; A EE foi positivamente correlacionada com a migração e intenções de sair; O absenteísmo foi positivamente relacionado com a intenção de sair e migração; A migração foi positivamente relacionada com a intenção de atrito; Observou-se que quando o comportamento ativo aumenta, a EE diminui; Bem como quando a EE aumentava a intenção de mudança e de sair também aumentavam. Assim, os professores de educação infantil, que sofrem de EE eram mais prováveis a relatar ter a intenção de migrar e sair. |
Yujiang, 2011 |
A pontuação na dimensão EE foi elevada; O baixo nível de exercício físico dos professores universitários é considerado preocupante; Intensidade, duração, frequência e quantidade de exercícios apresentam relação negativa com o Burnout. |
Sane, et al., 2012 |
Os professores apresentaram um alto nível de Burnout e um baixo nível de AF; Houve correlação inversa significativa entre o nível de AF e o Burnout; Indivíduos que eram fisicamente ativos eram menos propensos ao Burnout; Não houve diferença significativa entre homens e mulheres entre o nível de AF e seus componentes e Burnout, no entanto, os homens apresentaram nível significantemente maior de AF, quando comparados às mulheres. |
Avaliação da qualidade metodológica dos estudos
De acordo com as informações coletadas dos estudos incluídos, pode-se verificar uma boa qualidade metodológica, pois a maioria dos critérios foi atendida de forma satisfatória (Quadro 5). Contudo, percebe-se que dois estudos não informaram as perdas e exclusões no decorrer da pesquisa e nenhum apresentou os critérios de inclusão e exclusão utilizados para a seleção dos participantes. Pode-se atribuir a esta opção metodológica, de não apresentar tais dados, por se tratar de pesquisa com a população específica de professores.
Itens relacionados aos estudos transversais |
Estudos |
|||
Carraro, et al., 2010 |
Carson, et al., 2010 |
Yujiang, 2011 |
Sane, et al., 2012 |
|
Questão clara, focada e apropriada |
S |
S |
S |
S |
Critérios de inclusão e exclusão utilizados para seleção dos participantes |
NI |
NI |
NI |
NI |
Desfechos avaliados de forma válida e padronizada |
S |
S |
S |
S |
Perdas e exclusões |
NI |
S |
S |
NI |
Resultados claramente apresentados e discutidos |
S |
S |
S |
S |
DISCUSSÃO
Inicialmente deve-se salientar que, apesar da relevância de estudos sobre Burnout e atividade física de professores, ainda são escassos os estudos que investigam essas temáticas, principalmente suas relações. Neste contexto, pode-se explicar o por quê a busca na literatura especializada resultou em apenas quatro estudos. Embora sejam poucos estudos, todos evidenciaram uma relação inversa entre Burnout e a atividade física, diante disso, observa-se que os altos valores de Burnout estão associados aos baixos valores de atividade física, demonstrando assim, a possibilidade de efeitos positivos advindos da prática de atividade física sobre o Burnout. Além disso, apesar da carência de estudos, cabe destacar que a produção de estudos com esta temática vem crescendo nos últimos anos, demonstrando a relevância e atualidade do assunto, inclusive nos diferentes níveis de ensino.
A síndrome de Burnout foi mensurada, em todos os estudos, por meio do questionário elaborado por Christina Maslach e Susan Jackson em 1978, Maslach Burnout Inventory - Human Services Survey (MBI), amplamente utilizado em pesquisas com Burnout. O instrumento compõe-se de três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e reduzida realização pessoal, cada qual com suas características específicas que abordam desde sentimentos de estar emocionalmente sobrecarregado e exausto, sentimentos negativos, insensibilidade, e um declínio no sentimento de competência e produtividade no trabalho, insatisfação, uma tendência de autoavaliação negativa (Maslach & Goldberg, 1998; Carlotto & Camara, 2004; Pires et al., 2012).
Tais dimensões, apesar de relacionadas, são independentes (Carlotto & Camara, 2004; Pires, et al., 2012). Baseado na teoria de Maslach & Goldberg (1998) a exaustão emocional é a dimensão básica de Burnout, a despersonalização a dimensão interpessoal e a baixa realização pessoal a dimensão de autoavaliação. Além disso, a dimensão exaustão emocional é considerada como a primeira etapa e o fator central da síndrome de Burnout (Maslach & Jackson, 1986; Maslach, 1993; Pires, et al., 2012), as consequências dessa fase inicial têm como resposta o desenvolvimento dos sintomas das outras dimensões, como um preditor da despersonalização. E, do mesmo modo, para a reduzida realização pessoal.
Dentre os artigos selecionados para a revisão, observa-se que apenas no estudo de Sane et al. (2012) os professores apresentaram um alto nível Burnout. Os professores participantes da pesquisa de Carraro et al. (2010) não apresentaram índices elevados de Burnout, no entanto, apresentaram valores elevados nas dimensões exaustão emocional e despersonalização e baixos valores na dimensão de reduzida realização pessoal. O estudo de Yujiang (2011) não evidenciou o Burnout, embora os índices da dimensão exaustão emocional apresentaram-se elevados. Como abordado anteriormente, a dimensão exaustão emocional pode ser considerada suficientemente importante, pois pode ser indicativo do desenvolvimento da síndrome em professores, como o estudo de Carson et al. (2010) que utilizaram apenas a dimensão exaustão emocional para avaliar os professores, encontrando associações entre altos valores nessa dimensão com altos valores em absenteísmo, intenção de mudar de instituição ou deixar a profissão e baixos valores de atividade física.
Ainda no estudo de Carson et al. (2010) foram abordadas variáveis relacionadas com a exaustão emocional, verificando-se correlação positiva entre a exaustão emocional e a migração de professores a outras escolas e intenção de sair da profissão, demonstrando a relação da exaustão emocional sobre a profissão, visto que quanto maior o índice de exaustão emocional, maior a intenção de migrar e sair da profissão. Tais variáveis relacionam-se ainda com o tempo de docência e a experiência, no qual professores com até dois anos de experiência apresentavam maiores escores de exaustão emocional e consideravam frequentemente a saída do emprego e, até mesmo, da profissão (Goddard & Goddard, 2006; Egyed & Short, 2006). No estudo de Carraro et al. (2010) o tempo de docência também se relacionou com o Burnout, sendo possível observar índices mais elevados das dimensões do MBI entre 7 e 18 anos de docência e os menores índices de exaustão emocional e despersonalização foram no intervalo de 31 a 40 anos de docência, num intervalo de 1 a 40 anos (Carraro et al., 2010). Neste sentido, pode-se verificar que professores mais experientes e com maior probabilidade de serem mais velhos, apesar de estarem mais desgastados devido ao tempo de trabalho, possuem maior habilidade, preparação e familiaridade com problemas, sabendo como gerenciá-los, e conhecendo suas capacidades e limitações, o que permite a melhor forma de lidar com situações adversas quando comparados aos novos, que apresentam outros desafios e também mais disposição (Goddard & Goddard, 2006; Egyed & Short, 2006).
Embora todos os estudos tenham apresentado uma relação inversa entre a atividade física e o índice de absenteísmo, os índices de exaustão emocional, bem como com a menor propensão ao desenvolvimento da síndrome de Burnout (Sane, et al., 2012), pode-se verificar que os estudos apresentaram níveis preocupantes de inatividade física entre os professores (Yujiang, 2011; Sane, et al., 2012). Os principais fatores que influenciam na participação do professor em atividades físicas no tempo de lazer ou a prática de exercícios físicos abordavam questões sobre o tempo, ou a falta dele, a falta de locais e equipamentos, falta de orientação, falta de companhia, sendo que, dentre todos esses, a falta de interesse é caracterizada como o principal fator de limitação à prática (Silva, et al., 2010; Yujiang, 2011). Diante do exposto, observa-se a necessidade da conscientização da importância, em todas as esferas, da prática da atividade física para o indivíduo e de estratégias que abordem a mudança no estilo de vida, mais saudável e ativo, a fim de proporcionar os benefícios de ser ativo.
Embora não tenha sido encontrado nenhum estudo que tenha estabelecido comprovações diretas do benefício específico da atividade física sobre síndrome de Burnout em professores, foi possível verificar relação inversa entre elas, visto que os resultados encontrados na revisão apontam que os altos valores de síndrome de Burnout estão relacionados a baixos valores de atividade física. Portanto, pode-se ressaltar os benefícios da prática da atividade física sobre sintomas que compõem a síndrome de Burnout que, de forma indireta, parece produzir um efeito positivo sobre a síndrome, bem como na sua prevenção.
A literatura aponta uma extensa lista de sintomas do Burnout nas esferas físicas e emocionais, que englobam sintomas psicossomáticos, comportamentais e emocionais, como distúrbios no sono, hipertensão, palpitações, tensões e dores musculares, irritabilidade, isolamento, alterações de humor, ansiedade, baixa auto estima, entre outros (Farber, 1991; Benevides, 2002; Castro & Zanelli, 2007; França et al., 2014), os quais podem ser observados também em estudos que envolvem a prática de atividade física, no entanto, com outro enfoque, já que a atividade física pode ser benéfica sobre parte desses sintomas, em alguns casos na prevenção e em outros na intervenção (Ströhle, 2009; Zschucke et al., 2013; Stanton et al., 2014).
Neste cenário, além da melhora da aptidão física e habilidades motoras, a atividade física influencia positivamente frente à incidência de doenças físicas, como as cardiovasculares, e as mentais, sendo a atividade física considerada eficaz ainda, na prevenção de reações emocionais negativas, como a depressão, medo, ansiedade, além de ser um fator muito importante para lidar com o estresse e o Burnout (Sane et al., 2012). As mudanças biológicas induzidas pela atividade física podem reduzir a sensibilidade fisiológica dos indivíduos ao estresse de modo que, entre as pessoas que praticam atividade física, é menos provável que o estresse psicológico leve a sintomas cardiovasculares (Forcier et al., 2006), induzindo ainda a diferentes respostas fisiológicas e a promoção de novos recursos energéticos (Toker & Biron, 2012), além de contrabalancear o impacto negativo à saúde de condições como obesidade, menopausa, entre outros (Toker & Biron, 2012).
Quanto ao sexo, não foram apresentados resultados significativos entre homens e mulheres em relação ao nível de atividade física e Burnout, no entanto, considerando que os homens apresentaram-se significantemente mais ativos que as mulheres (Sane et al., 2012), percebe-se que as mulheres estão menos expostas aos benefícios que podem ser associados à atividade física e que atuam sobre aspectos relacionados ao Burnout. Além disso, Maslach & Jackson (1985) abordam o papel do sexo na síndrome de Burnout e apontam a posição propensa à síndrome em que as mulheres se encontram em decorrência da facilidade de envolverem-se emocionalmente com os problemas alheios, a posição de contato direto com pessoas e as responsabilidades familiares que possuem socialmente. Segundo Carlotto (2011), a profissão docente ainda é percebida como uma extensão da função materna. Sendo uma população que necessita de ações específicas de intervenção visando a promoção à saúde e a alteração dessa realidade, de que ser do sexo feminino implica em ser menos ativa e com maior exaustão emocional.
Deste modo, pode-se verificar que o aumento da prática regular da atividade física pode provocar melhora da saúde física e mental, longevidade, vitalidade, nas relações sociais e de lazer (Sane et al., 2012). A participação em programas de atividade física ou exercício físico pode ser uma forma eficaz de melhorar a saúde física e psicológica dos professores, pois os efeitos relacionados especificamente ao esforço incluem ação ansiolítica e antidepressiva, bem como o aumento da resistência às consequências fisiológicas e emocionais do estresse psicológico. Ademais, o envolvimento nesses programas pode ajudar a lidar de forma mais eficaz junto às adversidades diárias, promovendo uma melhor interação com as pessoas e maior autodomínio (Salmon, 2001).
CONCLUSÃO
Apesar da escassez de estudos que abordem especificamente a relação entre atividade física (ou exercício físico) e Burnout em professores, os resultados demonstraram o efeito positivo da prática de atividade física ou do exercício físico sobre os índices elevados de exaustão emocional e Burnout, sobre a intenção de migração ou de deixar completamente a profissão, bem como a menor propensão ao desenvolvimento da síndrome de Burnout naqueles fisicamente ativos. Além disto, a intensidade, duração, frequência e quantidade de exercícios, apresentaram relação negativa com o Burnout. Neste sentido, e possível aceitar que a atividade física possa servir como uma estratégia eficaz, acessível e de baixo custo, com resultados facilmente atingíveis e de manutenção prolongada, junto às instituições e organizações para contribuir junto aos problemas de saúde, sejam eles físicos ou mentais de seus funcionários, como por exemplo, o Burnout. A partir dessas conclusões, sugere-se que sejam elaborados novos estudos que contemplem o Burnout e a atividade física em professores, para a compreensão da sua relação, quais as atividades, frequência e intensidade que trazem maiores benefícios aos seus praticantes frente à síndrome. Além disso, acredita-se que tais estudos sejam relevantes para a produção de conhecimento científico quanto a essa temática ainda pouco difundida, contribuindo inclusive na elaboração de planejamentos que visem à saúde ocupacional dos professores, refletindo, consequentemente, de maneira positiva no sistema educacional.
REFERÊNCIAS
Recepción 05-08-2015
Aprobación: 11-25-2015