10.17533/udea.efyd.v35n1a09
URL DOI: http://doi.org/10.17533/udea.efyd.v35n1a09
Reseña de Libro
RESENHA DE LIVRO “GESTÃO DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE
FUTEBOL: ECONOMIA, POLÍTICA, MÍDIA E TV”
RESEÑA DEL LIBRO “GESTIÓN DEL CAMPEONATO DE FÚTBOL DE
BRASIL: ECONOMÍA, POLÍTICA, MEDIOS Y TELEVISIÓN”
REVIEW OF BOOK “MANAGEMENT OF BRAZILIAN FOOTBALL
CHAMPIONSHIP: ECONOMY, POLITICS, MEDIA AND TV”
Silvio de Cássio Telles1
Telles, S. (2016). Resenha de livro “Gestão do campeonato brasileiro de futebol: economia, política, mídia e tv”. Educación Física y Deporte, 35 (1), 255-264, Ene-Jun. http://doi.org/10.17533/udea.efyd.v35n1a09 |
Título: Gestão do Campeonato Brasileiro
de Futebol: Economia, Política, Mídia e TV
Autor: Rômulo Meira Reis
Año: 2014
Editorial:
Prismas
Información
de lugar de edición: Curitiba, Brasil
ISBN-13: 978-85-6827-402-6
ISBN-10: 8568274021
Número de Páginas: 230
RESUMO
Esta
resenha apresenta
e analisa o livro
“Gestão do campeonato brasileiro de futebol: economia,
política, mídia e TV. Mostra
ainda que esta produção
brasileira na área da gestão do esporte
focada no futebol
possui sua relevância para Educação
Física devido a pouca
incidência de estudos
que considerem esta área temática.
Destaca-se o olhar diferenciado para o
campeonato brasileiro, histórico, esclarecimentos,
dados apresentados e as nuances
que envolvem a gestão
da competição, desconhecidas
do público em geral.
PALAVRAS-CHAVE:
Futebol, Organização,
Administração, Esporte,
Educação Física.
RESUMEN
Esta
reseña
presenta y analiza el libro “Gestión del campeonato de fútbol de
Brasil: economía, política, medios y TV”. También muestra que esta
producción brasileña en el área de gestión del deporte centrada en el
fútbol tiene su importancia para la educación física debido a la poca
incidencia de estudios que consideren esta área temática. Se destaca
un mirar diferenciado para el campeonato brasileño, histórico,
aclaraciones, datos presentados y los matices que implican a la
gestión de la competencia, desconocidos para el público en general.
PALABRAS
CLAVE:
Fútbol, Organización, Administración, Deporte, Educación física.
ABSTRACT
This review
presents and analyzes
the book
“Management Brazilian soccer championship:
economics, politics,
media and TV”. It also
shows that Brazilian
production in sport management
focused on
soccer has its relevance
for physical
education due
to the low incidence of studies
that consider
this subject
area. Highlight
the different
point of view
to the Brazilian
soccer championship, history,
clarifications, presented
data and the nuances
that imply the management of
competition, unknown
to the general public.
KEYWORDS:
Soccer,
Organization, Management,,
Sport, Physical Education.
Discussões
sobre o futebol ainda
mais no contexto brasileiro são
inúmeras. Entre escândalos, processos,
reclamações, diferenças
e rivalidades, nos deparamos com um
assunto pouco
abordado, a gestão do campeonato
brasileiro de futebol, em
obra vinculada a uma coleção
técnico científica específica para Gestão
do Esporte, área que ainda
busca seu espaço
na Educação Física Brasileira e Administração
mostrando que para atuar nessa
área é preciso conhecer não
somente administração,
mas também o esporte.
Logo
nos
prefácios temos
dois autores, primeiro
o jornalista Mauro Beting
e segundo o professor Lamartine DaCosta,
ambos dão ênfase
ao trabalho
realizado argumentando principalmente a técnica, os dados expostos,
discussões e proposições
o quê Mauro Beting
denomina de “sair da zona do rebaixamento
do conforto” (p.15).
No
primeiro capítulo, “Definindo
a investigação”, o autor tem
por objetivo introduzir o tema e mostrar
os passos que o conduziram
para arquitetar o livro.
Como questão central do livro
fica clara: “Qual
o processo de construção
da gestão esportiva
do campeonato brasileiro de futebol?”.
Para isso, no desenvolvimento
do método existem dados primários
de cinco entrevistados com nomes
de peso como João Havelange e José Carlos Brunoro,
e dados secundários oriundos uma
coletânea de pesquisas de mercado, reportagens especializadas, livros,
trabalhos acadêmicos,
documentos governamentais e estatísticas
do campeonato brasileiro de futebol.
Cabe-nos observar que todas as entrevistas
estão inclusas nos apêndices
(p.155), podendo servir como fonte
de dados para outras pesquisas.
Tudo isso
sob a hipótese
de que as variáveis da economia,
política, sociocultural, jurídica, mercadológica, mídia
e TV se interligam a gestão
esportiva conduzindo
aos rumos do cenário
atual do campeonato brasileiro (p.28). Com isso, o autor
realiza análises, sustenta argumentos, e
ainda realiza semelhanças
e diferenças entre as transformações
na gestão do campeonato inglês
x campeonato brasileiro.
“Futebol Brasileiro sob
a Ótica da Gestão”,
esse é o título do segundo capítulo em que é apresentada
uma grande revisão
histórica sobre o futebol brasileiro com um ponto de
vista inteiramente voltado
para a gestão do esporte.
O capítulo se divide em dez
seções, nesse
trajeto são
revistos as origens do futebol
no Brasil, a formatação inicial da gestão através do
movimento clubista que acarretou
nos clubes de futebol, nas
disputas entre amadorismo e profissionalismo
seguido pela criação da confederação
brasileira de desportos e federações
estaduais. Entra no cerne da questão
sobre as primeiras competições
de âmbito nacional, competições
anteriores ao campeonato brasileiro de futebol (Taça Ioduran, Campeonato Brasileiro de Seleções,
Taça Brasil e Torneio
Roberto Gomes Pedrosa), fornecendo dados
técnicos como saldos de gols, número de jogos e equipes.
Quando
então chega a
primeira edição
do campeonato brasileiro em 1971 analisando
as décadas até os anos 2000, compondo
tabelas que conseguem
resumir a forma de disputa das competições
de época, média de público por ano,
número de jogos, gols,
médias, e clubes participantes. Além
disso, esclarece fatos o não
reconhecimento do título brasileiro de
1987 para o Clube de Regatas do Flamengo
devido à perda
em processo
judicial, deixando o clube
com cinco títulos brasileiros e não
seis (p.63-64). Como também a Copa João
Havelange em 2000, quando
as três divisões
do futebol brasileiro foram
unificadas em uma
única competição com
mais de 1.000 jogos
em um emaranhado de quatro
módulos (grupos) caracterizando um das competições mais
confusas da história. Por fim,
o capítulo se encerra deixando
uma análise
do campeonato brasileiro por pontos corridos, modelo atual,
acrescentando renda à tabela
de dados entre os anos de 2003 a 2013 (p.73).
O
terceiro capítulo, “O caso Premier
League”, destina-se a compreensão do
campeonato inglês de futebol,
a Premier League, em que são
evidenciados os passos realizados pela
Inglaterra para com o futebol
até torna-lo um símbolo de competitividade
e bons negócios
através de uma
liga de clubes forte. As origens
e a cultura inglesa da prática do futebol foram das
escolas britânicas
e com isso o
pioneirismo em
criar sua federação
nacional, a Football Association
– FA, em 1863, passou
a organizar competições locais
e internacionais. Até sofrer
com atos de violência em estádios com os
hooligans, declínio em
público, renda e atletas, e tragédias em estádios. A mudança de rumos para os ingleses passou
pelas ações do governo
britânico, melhorias
no processo de gestão,
novos negócios
no futebol, relações
estreitas entre o futebol
e a TV, e criações de novas leis
que modificaram o ambiente sociocultural,
mostrando para o leitor que o caso dos
ingleses pode servir como um referencial
de experiências a serem
aplicadas a realidade brasileira.
O
capítulo quatro apresenta
a “Análise e Discussão
das Variáveis”, dispostas
estas na hipótese sustentada no início
do livro (p.28). Assim,
para melhor expor
o capítulo iremos comentar cada uma das variáveis seguindo
a mesma linha
de ação do autor.
Começamos
pela variável política onde
o autor dialoga com os dados fornecidos
pelos entrevistados e os analisa com
a gestão do campeonato brasileiro. Dessa forma, “as junções
e coligações” (p.89) através
da política favorecem aglutinações
e alianças dentro do futebol,
como também é transparecida
a necessidade de que “não
dá para trabalhar
sem politica,
em gestão nenhuma” (p.90). Política essa
dividida entre positiva no sentido construtivo,
de transformar situações como na elaboração
do Estatuto do Torcedor e desenvolvimento
de políticas públicas para o esporte, e
negativa conduzida por interesses
pontuais e casuístas,
fazendo com
que a política torne-se “uma ferramenta,
um fio condutor,
responsável por articulações
que pode ser utilizadas para conduzir transformações” (p.90) seja
para ambos os sentidos. Reis ainda
relaciona a área de atuação política como
“interno” e “externo” (p.95), isto
porque, internamente o futebol possui
ramificações próprias
entre federações estaduais,
CBF, clubes, dirigentes e atletas, e externamente nas
relações com
governo no cumprimento
e atendimento as leis
federais, estaduais
e municipais.
Na variável
sociocultural e sua influência
na gestão esportiva
do campeonato brasileiro de futebol o
autor debulha a “diversidade
sociocultural brasileira” (p.95) e sua capacidade em ditar regras para
o campeonato. Bons exemplos
disso são realçados com
hábitos dos torcedores como em presentear
o filho com
a camisa do time de coração ou
mesmo a primeira
bola, artes, músicas, pinturas, mosaicos em
estádios e rivalidades que devem
ser respeitadas por um
gestor esportivo da competição,
imagine se seria possível marcar alguma
partida do Grêmio no Estádio
da Beira-Rio, ou do
Internacional na Arena do Grêmio?
Ou marcar partidas em
Belém durante o Círio de Nazaré?
Por
outro lado, o sociocultural está na crendice do torcedor brasileiro, encarada pelo
autor como “um ato de religiosidade”
(p.97). Na ida ao
estádio pelo torcedor comum
ou pelo sócio
torcedor que claro gera receitas
brutas com bilheteria
(antigo bicho), esta importante fonte
de renda para os clubes brasileiros somou
cerca de R$ 354 milhões em
2014 (BDO RCS, 2015). Diferentemente do modelo inglês
em que o sócio
é um acionista
do clube, nível
ainda não alcançado pelos clubes brasileiros, e o
torcedor é aquele que vai
para o estádio. Conclui-se
nessa variável
que o Brasil é impar, um ambiente único
que está “atrasado em aspectos educacionais
e em esforços
eficiente para combater a violência
em estádios”
(p.99).
Jurídica
e
suas manifestações
é a terceira variável
discutida, o objetivo da seção
é compreender
a variável através
de desígnios: o primeiro
encontra-se na legislação
brasileira a qual deve
ser cumprida para a gestão
do campeonato brasileiro por meio das leis vigentes, dentre
as quais se destaca o Estatuto do
Torcedor, “marco regulatório” (p.101) do
futebol. O segundo está nas
atuações do judiciário
esportivo brasileiro com
Superior Tribunal de Justiça Desportiva
– STJD, órgão autônomo
com poder para regular, aplicar punições
e fazer cumprir
as determinações dispostas
no Código de Justiça Desportiva
Brasileira. Então, o autor encerra
a seção criticando a relação
de dependência entre o STJD e a CBF gerando falta de credibilidade
e transparência nas
decisões, sugerindo
“desvinculação” (p.104).
Na seção
seguinte o autor aglutina as variáveis
“Econômica e Mercadológica” devido
às ligações
entre a economia e o mercado que são
explicadas por Bourg & Gouguet
(2005) ao mencionarem
que o mercado esportivo é o ambiente em que produtos,
serviços, empresas e consumidores encontram-se
para
realizar negócios relativos ao
esporte desde compra de ingressos
a jogadores.
O
objetivo da seção está em
entender a dinâmica entre economia
e mercado com base nas
declarações dos entrevistados em
conjunto com a literatura, e também
quantificar as cifras alcançadas
pelo mercado esportivo e clubes de futebol que disputam
o campeonato brasileiro. Vale observar que os valores mostrados sobre
o mercado esportivo vão
até o ano de 2010 (“R$ 78 bilhões”)
p.106. As receitas dos clubes estão
dividas em seis: bilheteria,
cotas de TV, patrocínio e publicidade,
social e amador, transferências de jogadores e outras
estão dispostas
entre os anos de 2003 e 2012. Em 2012 as
receitas totais
chegam a “R$ 3.08 bilhões”
(p.109), e referente ao ano de 2014 R$
3.21 bilhões (BDO RCS, 2015).
A
seção “Mídia e
TV” explica as relações entre o
campeonato brasileiro e a TV a partir de 1987, detalha
bem o episódio
da licitação dos direitos
de transmissão no ano de 2010, período em que a clausula
de preferencia de renovação de transmissão
da TV Globo foi quebrada, mas recuperada
com contratos individuais
com clubes e acabando com
a finalidade do Clube
dos 13 de negociar direitos transmissão
para os clubes de futebol. Em
síntese, “a equação
futebol mais
mídia e TV no campeonato brasileiro por
pontos corridos aumentou a geração
de valor [...]” (p.119).
Encerrando
o
capítulo a variável “Gestão
Esportiva e suas
transformações” analisa
a gestão do campeonato brasileiro
considerando dois acontecimentos,
a Copa União de 1987 e a inserção
dos pontos corridos em 2003. Destacando
que sem o Estatuto do Torcedor o marco
legal e regulatório para mudanças
não estaria assegurado, como também
a existência de “processos
técnicos” (p.129) que requerem conhecimento
e dinamismo por parte do gestor esportivo.
O
capítulo V “Sugestões de Melhoria”
apresenta nove sugestões
de melhoria para a gestão.
Nesse contexto, verificamos se ao
menos uma foi
aplicada, encontramos o seguimento das sugestões: c) “Aumento das ações
de branding da CBF” (p.134) e d) “Padronização
da cena de entrada” (p.135) pela CBF com
a realização do cerimonial
de entrada das equipes em campo, venda da
nomeação da competição
(naming rights)
para Brasileirão Chevrolet 2015, totens
para bolas e tapetes (Cbf, 2015a). Por outro lado, há desprezo as sugestões:
e) “Campanha socioeducativa” (p.136) sobre
violência em
estádios, e h) “Desenvolvimento
de critérios técnicos para estádios
de futebol” (p.138). Nessa
segunda pode-se encontrar no Regulamento
Específico do Campeonato apenas a capacidade
de público para 15.000 pessoas (Cbf,
2015b).
Nas “Considerações
Finais”, capitulo
VI, o autor analisa e faz um
desfecho para a obra com o seguinte
comentário:
[...] indiscutivelmente
o esporte brasileiro, sobretudo,
o futebol vive um
momento único na história, sendo
vitrine para todas as
nações do mundo, atraindo
holofotes e câmeras
para uma só
direção, o Brasil. Esta é uma
oportunidade para mostrar a capacidade
do brasileiro para grandes realizações no
esporte, com
competência, organização,
planejamento, vontade
e criatividade fora
de campo (p.145).
Provavelmente
havia certa esperança em melhorias, evoluções
e um clima favorável
à gestão futebol
devido a Copa de 2014 e ao
legado, porém no cenário
em que nos deparamos é de escândalos,
investigações junto ao
FBI e corrupção na FIFA e CBF. Deixando
no ar a pergunta
quando iremos realmente melhorar
em termos de gestão
do futebol?
REFERÊNCIAS
Recibido: 2016-04-05
Aprobado: 2016-05-31