Original Article
Maria Eunice Nogueira Galeno Rodrigues1,6
Adriano da Costa Belarmino2,6
Lívia Lopes Custódio3,6
Ilvana Lima Verde Gomes4,7
Antonio Rodrigues Ferreira Júnior5,6
1 Enfermeira, estudante de mestrado. Email: eunicegaleno@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0002-3245-3712
2 Enfermeiro, estudante de mestrado. Email: adrian_belarmin@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0003-4401-9478
3 Psicóloga, estudante de doutorado. Email: liviacustodio@yahoo.com.br
https://orcid.org/0000-0001-9610-7379
4 Enfermeira, Doutora. Professora. Email: ilverde@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-1861-5121
5 Enfermeiro, Doutor. Professor. Email: arodrigues.junior@uece.br
https://orcid.org/0000-0002-9483-8060
6 Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva, Universidade Estadual do
Ceará – UECE. Fortaleza- CE, Brasil.
7 Universidade Estadual do Ceará – UECE. Fortaleza- CE, Brasil.
Conflictos de
interés: ninguno.
Recibido:
Agosto 8, 2020.
Aprobado:
Octubre 5, 2020.
Cómo citar este artículo: Rodrigues MENG, Belarmino AC,
Custódio LL, Gomes ILV, Ferreira Júnior ARF. Communication in health
work during the COVID-19 pandemic. Invest. Educ. Enferm. 2020;
38(3):e09.
DOI: https://doi.org/10.17533/udea.iee.v38n3e09
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/
Abstract
Objective. Report on communication and qualified listening in
nursing work in the face of the COVID-19 pandemic. Methods.
This descriptive, theoretical and reflexive report was developed by
nurses between March 20th and May 25th 2020 at Emergency Care Services
in the city of Fortaleza, Ceará, Brazil. Health communication served as
the theoretical background for this research. Results.
Two main thematic categories were highlighted: (i) Resignifications of
communication in the work relationships of the health team and (ii)
Guided listening to users by nurses at the Emergency Care Services
during the pandemic. Conclusion. The experience
revealed an excerpt of what is found under the conditions of the current
situation resulting from COVID-19. Communication turned into an
essential tool to maintain professional relationships and culminate in
collaboration and cooperation of the team in order to provide a close
relationship with the user and promote the quality of health care
processes.
Descriptors:
Coronavirus infections; health communication; patient care team;
nursing.
Resumen
Objetivo.
Relatar la comunicación y escucha calificada en el trabajo de enfermería
frente a la pandemia por la COVID-19. Métodos. Se
trata de un relato descriptivo, teórico y reflexivo elaborado por
enfermeros, del 20 de marzo al 25 de mayo de 2020, en Unidades de
Atención de Emergencia de la ciudad de Fortaleza, Ceará, Brasil. La
investigación posee fundamentación teórica en comunicación sanitaria. Resultados.
Se destacaron dos categorías temáticas principales: (i)
Resignificaciones de la comunicación en las relaciones de trabajo del
equipo de salud y (ii) la escucha dirigida de los usuarios por parte de
las enfermeras de la UPAS durante la pandemia. Conclusión.
La experiencia vivida permitió visualizar una fotografía de la situación
actual derivada de la COVID-19. La comunicación se convirtió en una
herramienta fundamental para mantener las relaciones profesionales y
facilitó la colaboración y cooperación en equipo para brindar una
relación cercana con el usuario y promover la calidad de los procesos de
atención y asistencia en salud.
Descriptores:
infecciones por coronavirus; comunicación en salud; grupo de atención al
paciente; enfermería
Resumo
Objetivo.
Relatar a comunicação e escuta qualificada no trabalho da enfermagem
diante da pandemia de COVID-19. Métodos. Trata-se de
um relato descritivo, teórico e reflexivo realizado por enfermeiros no
período de 20 de março a 25 de maio de 2020 em Unidades de Pronto
Atendimento da cidade de Fortaleza, Ceará, Brasil. A pesquisa possui
fundamentação teórica na comunicação em saúde. Resultados.
Destacou-se duas principais categorias temáticas: (i) Ressignificações
da comunicação nas relações de trabalho da equipe de saúde e (ii) A
escuta direcionada dos usuários pelos enfermeiros das UPAS na pandemia.
Conclusão. A experiência vivenciada possibilitou
visualizar um recorte do que se encontra sob as condições do atual
quadro decorrente do COVID-19. A comunicação tornou-se ferramenta
imprescindível para manter relações profissionais e culminar em
colaboração e cooperação da equipe de maneira a proporcionar estreita
relação com usuário e promoção da qualidade dos processos de cuidado e
assistenciais de saúde.
Descritores:
infecções por coronavírus; comunicação em saúde; equipe de assistência
ao paciente; enfermagem.
A enfermagem vivencia períodos de mudanças no cenário mundial com o
enfrentamento da pandemia de COVID-19. Inopinadamente, observam-se
mudanças na rotina dos serviços de saúde, nas estruturas organizacionais
e nas relações profissionais. Neste momento, há movimentos por parte das
equipes de saúde com ênfase na enfermagem no processo de mudanças e
adaptações, assim como sua relação com as tecnologias leves.(1,2)
Conceitualmente, estas são tecnologias de relações, como acolhimento,
vínculo, independência, responsabilização e gestão como forma de
gerenciar processos de trabalho.(3) O enfermeiro como gerente da equipe
de enfermagem tem autonomia de ocupar todos os espaços que lhe dizem
respeito, quer seja junto ao usuário ou aos profissionais, de forma
consciente e direcionada às necessidades especificas dos sujeitos,
visando humanização dos processos de cuidado em saúde.(4)
Na perspectiva de organização de ações de cuidados a saúde, foram
instituídas pelas autoridades sanitárias, órgãos de vigilância e
sociedade científica o estabelecimento nos atendimentos em relação a
complexidade intermediária de fluxos para que as pessoas em situação de
agravamento pela COVID-19 procurassem as unidades de saúde, dentre elas,
a Unidades de Pronto Atendimento (UPA). Nesta lógica, a UPA é importante
nesse processo por ser uma instituição de saúde, de nível secundário que
atua como porta de entrada, atende a população em situações de urgências
e emergências na identificação de pacientes acometidos com sintomas de
COVID-19, bem como com uso de protocolos assistenciais realizam os
cuidados na prevenção, manutenção e recuperação dos usuários que
procuram o sistema de saúde.(5)
Deste modo, as tecnologias leves como comunicação são fundamentais no
enfrentamento à pandemia, no exercício de práticas humanizadas em tempos
de crise social e sanitária, focada nos anseios e necessidades da
população. Portanto, a relação profissional-usuário se dará por uma
benévola relação, e a empregabilidade das tecnologias leves e no cuidado
humanizado são importantes neste processo.(6) Entender a comunicação
como tecnologia leve que modifica os processos de trabalho na UPA dentro
do contexto pandêmico, pode representar modelo de organização e
cooperação da equipe de saúde para melhoria da qualidade do cuidado aos
pacientes. Diante disso, há necessidade de estudos enfocando a
perspectiva da comunicação no trabalho em saúde, especialmente nas
equipes que trabalham em situação de constante pressão como nas
urgências e emergências.
Em um contexto crítico como da pandemia de COVID-19, o estudo contribui
para discutir a interação da equipe de saúde e modelos de trabalho em
ambiente de urgência e emergência, clínicos e cirúrgicos em que a
comunicação e escuta é elemento chave para alcance de metas de qualidade
em saúde e diminuição de riscos e mortalidade. Nesse sentido, o
objetivo deste estudo é relatar a comunicação e escuta qualificada no
trabalho da enfermagem diante da pandemia de Covid-19.
Trata-se de um relato de experiência de caráter descritivo, teórico e
reflexivo. Estes relatos propiciam produção de novos conhecimentos
através do processo de construção, converte a vivência em objeto
interpretativo teórico de estudo e promove a recuperação de modo
ordenado dos fenômenos.(7) Propõe-se discutir as atividades
desenvolvidas por dois profissionais de enfermagem emergencistas
atuantes em UPAs localizadas em Fortaleza, Ceará, durante a pandemia da
COVID-19 efetuado pelos autores com objetivo de pesquisa determinado e
conhecido assim como razões de desenvolvimento do estudo. O estado foi
um dos epicentros principais na região Nordeste durante o pico
pandêmico, com 188.451 casos confirmados e 8.010 mortes até o dia 8 de
agosto de 2020.(8)
As UPAs são espaços dinâmicos de atendimento pré-hospitalar em urgência
e emergência, localizados em regiões direcionadas da cidade sede do
estudo. Sendo componentes da Rede de Urgência e Emergência (RUE)
brasileira, são locais de organização e funcionamento de fluxos
assistenciais complexos da atenção secundária em saúde.(9) Os processos
assistenciais para compor este relato de experiência foram realizados de
20 de março a 25 de maio de 2020. Utilizou-se propositamente o espaço
das UPA como local de estudo relacionado ao objetivo principal do
estudo. Para definição das temáticas que compõem o relato utilizou-se
uma adaptação da Análise Temática de Minayo empregando as palavras,
expressões e temas mais pertinentes, construídos com a experiência dos
relatores, a partir do material dos resultados transcritos no Microsoft
Word.(10)
Para desenvolvimento da pesquisa utilizou-se o Consolidated criteria for
reporting qualitative studies (COREQ): 32-item checklist para
consistência metodológica e qualidade do artigo.(11) Nesse
contexto, a experiência descrita foi discutida na perspectiva do
processo comunicativo interprofissional, interpretando esse instrumento
no trabalho em saúde como fenômeno com complexas influencias nas
relações interprofissionais da equipe de saúde. Envolve um dos aspectos
da prática interprofissional para superar fragmentações no cuidado e
atingir resolutividade com qualidade e integralidade.(12)
Na análise dos relatos durante o período destacaram-se duas principais
categorias temáticas: Ressignificações da comunicação nas relações de
trabalho da equipe de saúde e A escuta direcionada dos usuários pelos
enfermeiros das UPAs na pandemia.
Inicialmente, os fluxos de atendimento das UPA foram definidos para a
identificação de usuários sintomáticos com sinais e sintomas de COVID-19
como tosse, febre, mialgias, cefaleia, dificuldade respiratória e demais
componentes dos quadros de síndrome gripal e/ou síndrome do desconforto
respiratório agudo, que orientava as linhas de cuidado e assistenciais.
Pacientes com suspeita e sintomas leves (saturação de oxigênio –SatO2
>92%) eram avaliados pelo médico no consultório, realizadas
orientações e liberados para realização de distanciamento social na
residência. Casos considerados graves com quadro de hipossaturação
(SatO2<92%) eram internados para iniciar oxigenoterapia, colher
exames confirmatórios, realizar medicações e, em casos com grave
comprometimento pulmonar e risco de parada respiratória, submetidos a
intubação orotraqueal e ventilação mecânica protetora.
Desenvolver as atividades de cuidado da enfermagem nessa dinâmica
representou reestruturar e ressignificar a comunicação entre os
profissionais da equipe de saúde para atingir atendimento efetivo e de
qualidade. No entanto, o processo comunicativo nestas relações
profissionais sofreu com a precarização do trabalho imposta pela
pandemia, e diante disso, tiveram de ser modificados. Procurando
dirimir déficits comunicacionais que poderiam culminar em perdas de
qualidade nos atendimentos direcionados, reuniões e capacitações para
alinhamento de cuidados assistenciais da equipe de saúde foram
efetuados.
A dinamicidade da área da emergência neste período passou por aumento
significativo e o alinhamento de medidas por meio da comunicação
precisou ser implementado, principalmente do enfermeiro e do médico
durante os atendimentos devido a demanda, os riscos de mortalidade em
casos graves e a superlotação dos setores pela demora nas
transferências. No entanto, o processo comunicativo contribui para a
colaboração e cooperação culminando no desenvolvimento de práticas
integradas intraequipe, na tomada de decisão na aplicabilidade dos
cuidados e para alcance de metas de bem-estar do paciente. Ademais, essa
ferramenta melhora o relacionamento entre enfermeiro e médico,
promovendo interrelações e sintonia nos processos de trabalho em saúde.
Neste contexto, a comunicação tornou-se ferramenta imprescindível para
manter relações interprofissionais e culminar em ações colaborativas na
equipe. A diferença que permite processos de comunicação de qualidade na
equipe de saúde e os ruídos que desestruturam essas relações
mostraram-se tênues. Pode-se citar como exemplo, a rápida intubação
orotraqueal e sua sistematização como procedimento de saúde. Este
envolve a realização da sedo-analgesia, introdução do tubo com fio guia,
retira do fio com permanência do êmbolo, campleamento do tubo com pinça,
instalação do ventilador e início da ventilação mecânica, sendo
considerado procedimento complexo em que qualquer falha na comunicação
da equipe médica com a equipe de enfermagem culmina em riscos para o
paciente.
Nesta premissa, a comunicação também foi base para tomada de decisão e
desenvolvimento de práticas integradas entre os profissionais da equipe
de saúde nos processos de cuidado e tratamento direcionado aos pacientes
contaminados. Decidir o momento correto para, por exemplo, realizar a
mudança de cateter nasal para máscara de reservatório e posteriormente
intubação orotraqueal baseados em achados do raio x, resultados
gasométricos e clínicos significou literalmente vida e morte dos
pacientes. São decisões complexas impulsionadas por evidências que
estavam e ainda estão em construção na literatura científica. Na maioria
dos casos obteve-se sucesso no alcance de bem-estar dos usuários, seja
no restabelecimento da saúde ou em casos em que não houvesse essa
possibilidade proporcionar medidas de conforto em casos terminais. É
importante ressaltar que conseguir sintonia nos processos de comunicação
e nas relações entre todos os profissionais da equipe de saúde não é
sempre satisfatório, mas mostrou-se o melhor caminho para qualidade do
cuidado e da assistência na pandemia.
A equipe de enfermagem representa os profissionais de saúde que mais
estão juntos aos pacientes em todos os processos assistenciais e de
cuidado. No contexto pandêmico isso mostrou-se ainda mais presente pelos
riscos maiores de complicações, de estabilização, de cuidado
potencializado especialmente pela não permissão de acompanhantes devido
ao risco infectocontagioso. A escuta das demandas de saúde em pacientes
suspeitos de COVID-19 implicou diálogo, compreensão e interpretação dos
relatos, reflexão e decisão. Inúmeros pacientes chegaram com sintomas
respiratórios leves e graves e conseguir identificar nos relatos, sinais
que indicassem infecção pelo novo coronavírus foi um dos passos
principais nos fluxos de atendimento e direcionamento dos cuidados.
No entanto, é importante destacar que escuta qualificada é algo também
instintivo, subjetivo, inerente ao ser humano, que remete a humanização
dos processos assistenciais. Demanda integralidade no cuidado,
possibilita atingir metas de saúde e diminuir insatisfação, desrespeito
e perspectivas negativas com o atendimento de saúde. O sofrimento
imposto pela pandemia exigiu ainda mais a escuta dos pacientes e
promoção do diálogo reflexivo e de saúde que culmina em atenção. Além do
direcionamento dos cuidados pela escuta das demandas de saúde também
pôde-se atuar na perspectiva de proporcionar conforto psicológico e dos
familiares através de contato dos profissionais com os familiares e
destes com os pacientes.
A utilização de ligações telefônicas e videoconferências para contato
com familiares mostrou que a escuta não envolve somente atendimento por
meio de procedimentos técnico-médicos, mas também promover medidas de
conforto psicológico. Ademais, a perspectiva da escuta representa
recurso de promoção de bem-estar psíquico, relaxamento, conforto,
satisfação.
Resumidamente, a realização de escuta direcionada envolve tanto
resolução de demandas básicas de saúde como cuidados prioritários e
complexos. Essa complexidade em cada caso como estabilização e
preservação clínica do paciente e a promoção de bem estar físico e
psicológico podem ser determinados por meio da escuta adequada do
usuário suspeito de COVID-19 como participante do processo de cuidado.
Assim, o direcionamento da escuta do paciente como aspecto
potencializador nos processos assistenciais foi considerado para
priorizar inicialmente cuidados de saúde na preservação da vida e
estabilização hemodinâmica. Esses envolveram desde oferta de
oxigenoterapia para diminuir quadros de hipossaturação até cuidados
críticos em casos graves. Nos processos de escuta realizado pela equipe
a interação mostrou-se essencial, em que a presença do enfermeiro,
médico e do serviço social mostrou-se necessária, seja nos cuidados
básicos e complexos, até procedimentos e demandas sociais e
relacionamento com a família. É desafiador conseguir a estruturação da
equipe de saúde diante da pandemia, no entanto intensificar as relações
profissionais, assim como reforçar o trabalho em equipe de saúde
mostrou-se satisfatório para alcançar resultados positivos e diminuir
impactos da pandemia.
O enfrentamento da COVID-19 representa um dos maiores desafios em saúde
pública mundiais devido tanto a suas altas taxas de adoecimento e
mortalidade especialmente em contextos socioeconomicamente
desfavoráveis, como por exemplo o Brasil, assim como nos processos e
relações de trabalho na saúde.(13,14) Na perspectiva da enfermagem não é
diferente, sendo uma das profissões mais afetadas e com maiores índices
de morbidade, mortalidade e afastamento laboral na pandemia.(15) Neste
contexto, as UPAs representam juntamente a outros equipamentos da RUE a
porta de entrada para pacientes suspeitos de COVID-19 e complexas
relações entre os profissionais da equipe de saúde são desenvolvidos nas
práticas assistenciais de urgência e emergência.(9)
As comunicações nesta premissa são elementos importantes para que ocorra
práticas integradas de saúde.(16) A desestruturação promovida pela
necessidade de distanciamento e isolamento imposta pelo coronavírus
reforça a construção de novas formas de relacionamento, realinhamento de
linhas de cuidado e das práticas.(17) O enfermeiro como componente da
equipe de saúde representa um dos principais profissionais relacionados
ao cuidado e implicado na dinâmica de trabalho em saúde.
Caracteristicamente, os modelos de humanização da saúde, da clínica
ampliada, das mudanças nos processos gestores e decisórios são
mecanismos teórico-práticos trabalhados na Política Nacional de
Humanização, em que as tecnologias leves como a comunicação são um dos
seus principais componentes.(18)
Neste contexto, Merhy reflete em seus estudos os modos de produção de
saúde no seio da organização do trabalho através da utilização das
tecnologias leves, leve-duras e duras no desenvolvimento do trabalho
vivo.(19) Tecnologias duras representam nesta perspectiva equipamentos e
máquinas em que o trabalho encontra-se integrado; as leve-duras
constituem-se nos saberes profissionais, saberes próprios e experiências
pessoais que estruturam e organizam o trabalho.(18) Diferentemente, as
tecnologias leves enfatizam a relação profissional e paciente, abordando
a escuta centrada no sujeito e a satisfação das necessidades de
bem-estar, cuidado e saúde, impactando nas práticas assistenciais e
qualificação do trabalho da em saúde. Envolvem falas, escutas,
interpretações, acolhimento, criação de vínculos, representações,
saberes novos, entre outros.(18,19)
O mecanismo comunicacional representou na pandemia fator intrinsecamente
relacionado aos processos interacionais, de cooperação entre equipe de
saúde envolvida, para melhoria dos cuidados desenvolvidos, garantia de
direitos constitucionais e de serviços de saúde integrais e universais.
Primeiramente as habilidades de escuta adequada dos sintomas, a
realização da triagem e determinação da gravidade e complexidade dos
casos suspeitos determinou a primeira linha de medidas de
atendimento.(2) A comunicação, por meio da escuta qualificada, é um
instrumento do trabalho em saúde vital para interação e cooperação da
intra-equipe de saúde, com pacientes e família. Constitui ferramenta
para humanizar os processos de trabalho e inserir na dinâmica
organizacional o fator subjetivo como elemento catalisador de mudanças
no cuidado em saúde.(20) No entanto, é importante ressaltar que as
comunicações construídas diante da pandemia com pacientes, família e
equipe de saúde são diferentes.
O receio do contágio pela COVID-19 e suas consequências determinou modos
diferentes de comunicação definidas pelo distanciamento e
isolamento.(17) Contatos efetuados por meio telefônico ou
videoconferência com familiares para pacientes com casos leves foram
estratégias implementadas para diminuir medo, promover bem-estar
psicológico e humanizar os processos assistenciais. Estudos vem sendo
desenvolvidos enfatizando as ferramentas digitais como videoconferências
para apoio durante a pandemia de COVID-19.(21,22) Estudo desenvolvido
sobre tratamento com apoio familiar de adolescentes com transtornos
alimentares encontrou na videoconferência ferramenta essencial durante a
pandemia, no entanto a telessaúde ainda mostra-se um desafio no acesso e
resoluções.(22)
A utilização de tecnologias digitais para alcance de familiares,
direcionamento de condutas e melhor bem-estar do paciente demonstram
papel positivo durante a pandemia e investir nesta perspectiva como
instrumento aliado nos processos de cuidado em saúde representa
melhorias nos aspectos subjetivos do trabalho em saúde. Desafios
mostram-se diariamente na prestação de cuidados durante o período
pandêmico e as tecnologias leves revelam-se como mecanismos que podem
dirimir dificuldades durante o desenvolvimento dos trabalhos e promover
comunicação e escutas direcionadas a resolução de problemas e alcance de
metas interprofissionais.
O uso de comunicação na equipe interprofissional contribui para relações
dinâmicas, envolventes, com resultados efetivos e de qualidade. Envolvem
cooperação, colaboração, liderança e tomada de decisão.(23,24) Estudo
acerca da comunicação interprofissional em setor de emergência entre
residentes, médicos e outros componentes da equipe de saúde demonstrou
barreiras para se atingir comunicação efetiva como fatores pessoais
(medo, autoconfiança), ambiente clínico (sobrecarga de trabalho,
mudanças rápidas nas equipes de saúde) e falta de treinamento.(24)
Nesta conjuntura a utilização de processos comunicativos para alcance de
melhoria das práticas e cuidados, nas relações interprofissionais da
equipe e na qualidade da atenção em saúde durante a pandemia mostra-se
como ferramenta inegável no relato, no entanto sua implementação,
desenvolvimento e qualificação ainda necessita de melhorias no sistema
de saúde para sua melhor eficácia.(25 )
As contribuições encontram-se na identificação da comunicação pela
equipe de saúde como recurso para melhoria das interações
interprofissionais, assim como assistência e cuidados aos pacientes, no
contexto pandêmico em instituições de urgência e emergência.
A experiência vivenciada possibilitou visualizar um recorte do que se
encontra sob as condições do atual quadro decorrente do COVID-19. A
comunicação tornou-se ferramenta imprescindível para manter relações
profissionais e culminar em colaboração e cooperação da equipe de
maneira a proporcionar estreita relação com usuário. Além disso,
os processos comunicativos como escuta direcionada dos usuários e
comunicação intra equipe contribuem para promoção da qualidade dos
processos de cuidado e assistenciais de saúde.
A principal limitação identificada no relato consiste na regionalidade
específica da unidade de saúde e suas especificidades em contexto local,
mas seus resultados como, por exemplo, a comunicação para melhoria da
relação da equipe de saúde, podem ser replicados em inúmeros contextos
na pandemia, tornando-se assim também sua principal potencialidade.
A enfermagem como profissão da saúde com seus processos de trabalho
diretamente afetados pela pandemia, encontra nas tecnologias leves como
comunicação e escuta qualificada e direcionada, estratégias para
melhorar cuidados e relações estabelecidas com a equipe de saúde,
família e paciente. Isso pode dirimir riscos, insatisfação, eventos
adversos e morbimortalidade dos pacientes com COVID-19 nos serviços de
urgência e emergência.
Ayudas y
subvenciones: O estudo não possui financiamento
institucional.
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