Autotradução acadêmica: o caso da produção publicada no periódico acadêmico periférico plurilíngue Ecos de Linguagem* **

 

Resumo

Um conjunto de práticas é implementado pelas instituições de ensino superior no Brasil com vistas à internacionalização do conhecimento acadêmico-científico de seus pesquisadores. Uma delas é a criação de periódicos bilíngues. É inegável o papel da tradução nesse processo. Destaco a autotradução acadêmica, considerada como a tradução de um texto de especialidade executada pelo autor-pesquisador que o escreveu originalmente. Neste artigo, analiso o caso do Ecos de Linguagem, um periódico multilíngue, do Instituto de Letras (Universidade do Estado do Rio de Janeiro -UERJ-). Discuto a publicação em periódicos acadêmicos através da autotradução e como esses fenômenos relacionam-se. O periódico incentiva a leitura em diversas línguas sem abrir mão da publicação em português. Entre 2012 e 2018, foram publicados 6 números bilíngues, com 57 artigos, 49% dos quais traduzidos pelos próprios autores. Contrariando prática frequente, entre 2012 e 2015, o Ecos de Linguagem torna visível o nome do autotradutor. Contrariando também a prática mais frequente da tradução para o inglês, o Periódico publicou, entre 2012 e 2015, seis números bilíngues: um em português/italiano, um em português/francês, três em português/espanhol e um em português/ inglês. Este artigo apresenta um estudo de caso com autores que participaram do número em português/francês. Utiliza entrevistas semiestruturadas com um pesquisador por vez -e e-mails para esclarecer pontos específicos levantados durante as entrevistas- realizadas através de aplicativo de software de videoconferência. A análise dos dados foi feita com base na tipologia de autotradução concebida por Jung (2002). Os resultados indicaram a necessidade da ampliação dessa tipologia com a inclusão de dois critérios: o suporte e a modalidade.

Palavras-chave:

divulgação da ciência, internacionalização da pesquisa científica, autotradução acadêmica


Abstract

Higher education institutions in Brazil deploy practices aiming at the internationalization of the academic-scientific knowledge produced by their researchers. One of such practices is setting up bilingual journals. The role of translation in this process is therefore undeniable. In this article, the focus is on academic self-translation, that is, the translation of scientific texts done by its author-researcherhimself/herself. In order to do this, we analyze the case of Ecos de Linguagem, a multilingual journal by Instituto de Letras (Universidade do Estado do Rio de Janeiro -UERJ). The discussion focuses on publishing in academic journals through self-translation and how these phenomena relate to each other. The journal encourages reading in several languages without giving up publication in Brazilian Portuguese. Thus, in the period 2012-2018, six bilingual issues were published, totaling 57 articles. From those, 49 per cent were translated by the authors themselves. Contrary to the frequent practice, between 2012 and 2015, Ecos de Linguagem made the self-translator’s name visible. Also contrary to the use in translation into English, between 2012 and 2015, the journal published six issues: One bilingual Portuguese/Italian issue, one Portuguese/French, three Portuguese/Spanish, and one Portuguese/English. This article presents a case study regarding the experiences from authors participating in the Portuguese/French issue. Data were collected by means of semi-structured individual interviews, and emails to clarify specific issues raised during the interviews, which were carried out through videoconferencing software. Data were analyzed according to Jung’s self-translation typology. The results indicated the need to extend the author’s typology to include support and modality as criteria.

Keywords:

science dissemination, internationalization of scientific research, academic self-translation

Résumé

Les établissements d’enseignement supérieur brésiliens met en œuvre un ensemble de pratiques en vue de l’internationalisation de la connaissance académique et scientifique de ses chercheurs. L’une d’entre elles est la création de revues bilingues. Le rôle de la traduction est indéniable. Je mets l’accent sur l’autotraduction académique, considérée comme la traduction d’un texte spécialisé effectuée par l’auteur-chercheur qui l’a écrit à l’origine. Dans cet article, j’analyse le cas de la revue scientifique Ecos de Linguagem, une revue multilingue de l’Institut de Lettres de l’Universidade do Estado de Rio de Janeiro (UERJ). Je discute de la publication dans des revues académiques par le biais de l’autotraduction et de la manière dont ces phénomènes sont liés les uns aux autres. La revue scientifique encourage la lecture en plusieurs langues sans renoncer à la publication en portugais. Entre 2012 et 2018, 6 numéros bilingues ont été publiés, avec 57 articles, dont 49 % autotraduits. Entre 2012 et 2015, la revue Ecos de Linguagem a rendu visible le nom de l’autotraducteur à contresens des pratiques habituelles. La revue scientifique a publié six numéros bilingues entre 2012 et 2015 : un en portugais/italien, un en portugais/français, trois en portugais/espagnol et un en portugais/anglais. Cet article présente une étude de cas avec les auteurs qui ont participé du numéro en portugais/français. On utilise des entretiens semi-structurés avec chaque chercheur individuellement par visioconférence. L’analyse des données a été effectuée sur la base de la typologie de l’autotraduction conçue par Jung (2002). Les résultats ont indiqué la nécessité d’élargir la typologie avec l’inclusion de deux critères : le support et la modalité.

Mots-clés :

diffusion des sciences, l’internationalisation de la recherche scientifique, autotraduction académique

Resumen

Las instituciones de educación superior en Brasil aplican una serie de prácticas para lograr la internacionalización del conocimiento académico y científico de sus investigadores. Una de ellas es la creación de revistas bilingües, en las que es notoria la importancia de la traducción. Aquí se hará énfasis en la autotraducción académica, entendida como la traducción de un texto especializado heca por el autor-investigador que lo escribió originalmente. En este artículo, se analiza el caso de la revista científica Ecos de Linguagem, revista multilingüe del Instituto de Letras de la Universidad Estatal de Rio de Janeiro (UERJ). Se analiza la publicación en revistas académicas por medio de la autotraducción y la manera como esos fenómenes se relacionan entre sí. La revista científica promueve la lectura en varias lenguas sin dejar de lado la publicación en portugués. Entre 2012 y 2018, se publicaron seis ediciones bilingües, para un total de 57 artículos, de los que el 49% fueron autotraducidos. Entre 2012 y 2015, la revista Ecos de Linguagem hizo visible el nombre del autotraductor en contravía con las prácticas comunes. La revista científica publicó seis ediciones bilingües 2012 y 2015, a saber, una en los pares portugués-italiano, una portugués-francés, tres portugués-español y una portugués-inglés. Este artículo presenta un estudio de caso con los autores que participaron en el número enlos pares portugués-francés. Se utilizaron entrevistas semiestructuradas inviduales con cada investigador por videoconferencia. El análisis de los datos se efectuó sobre la base de la tipología de la autotraducción, según Jung (2002). Los resultados indican la necesidad de ampliar esa tipología para incluir dos criterios más: el soporte y la modalidad.

Palabras claves:

divulgación de la ciencia, internacionalización de las publicaciones científicas, autotraducción académica


Introdução

A tentativa de inserção do conhecimento acadêmico-científico produzido no Brasil no cenário acadêmico-científico mundial é um processo que vem se desenrolando há um número grande de anos. Acentuou-se depois de julho de 2011, quando foi implementado o programa Ciência sem Fronteiras, que buscou “promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional”, além de outras ações com vistas à internacionalização dos periódicos nacionais (Passini, 2018a, p. 33).

Internacionalizar o conhecimento acadêmico-científico propicia a disseminação do conhecimento local dentro e fora das fronteiras de um país e a maior colaboração entre pesquisadores nacionais e estrangeiros. Promove também a circulação mais abrangente de pesquisas locais entre leitores outros, além de brasileiros, e permite que, possivelmente, muitos mais tenham acesso a elas. Para que a disseminação do conhecimento, a circulação das pesquisas e a colaboração entre pares ocorram, um conjunto de práticas vem sendo realizado por Instituições de Ensino Superior no Brasil. Entre elas está a decisão de periódicos prestigiados e periféricos que passaram “a publicar os seus artigos somente em inglês” (Alcapidani, 2017, p. 405), a criação de periódicos que publicam artigos em português, espanhol, inglês e francês e, “[traduzem] do inglês para o português, dois artigos por número” (Fortes, 2016, p. 174) e a criação de periódicos bilíngues, com algumas edições trilíngues, como a Revista Entrelínguas, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, que aceita artigos em português, espanhol e inglês.

Destacamos que, embora o papel do inglês como língua franca da ciência possa ser comprovado (Ortiz, 2004; Bennett, 2014), parece-nos relevante apontar a tentativa de diálogo que vários periódicos brasileiros tentam estabelecer com pesquisadores de outras línguas, além do inglês. Esse é o caso do periódico que é objeto da investigação veiculada neste artigo: Ecos de Linguagem (Ecos doravante), uma publicação plurilíngue publicada entre os anos 2012 e 2018, vinculada ao Laboratório de Semiótica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (uerj), que tem entre seus objetivos gerais atingir o maior número possível de clientes (autores e leitores), além de projetar-se em âmbito internacional, promovendo assim o diálogo entre estudiosos e pesquisadores que transitam num contexto técnico-científico de dimensão planetária (Ecos, 2021). Assim, para que o diálogo com pesquisadores de outros backgrounds linguísticos aconteça, a tradução é essencial.

Neste artigo, apresentamos os resultados de uma investigação que procura compreender os desafios que a autotradução acadêmica propõe ao pesquisador-autotradutor brasileiro. Entende-se por autotradução a tradução de um texto de especialidade executada pelo autor-pesquisador que o escreveu originalmente. O artigo inicia apresentando o cenário da autotradução acadêmica no Brasil, onde autores-pesquisadores exercitam a autotradução de diferentes tipos de textos acadêmicos, tais como resumos, projetos de pesquisa, artigos acadêmicos, “o principal veículo de publicação acadêmica” (Van Bonn & Swales, 2007, p. 94) e apresentações orais na tentativa de disseminar o conhecimento na sua área de atuação, atingindo outros públicos, além do nacional. Em seguida, traça um panorama da pesquisa sobre a autotradução acadêmica em geral. A próxima seção apresenta a metodologia da investigação que propomos para a análise do caso do Ecos, um periódico acadêmico periférico plurilíngue. A seguir, expomos os resultados de nossa investigação, evidenciando as particularidades do caso dos pesquisadores-autotradutores que participaram do número do Ecos - publicado no segundo semestre de 2015 - cujas práticas examinamos. Na última seção, apresentamos as considerações finais deste artigo, recuperando as discussões geradas ao longo do texto e indicando as perspectivas futuras do tema abordado. Este estudo é parte de um projeto mais amplo que investiga a disseminação do conhecimento via tradução ao longo dos séculos.

2. Periódicos acadêmicos plurilíngues e a autotradução acadêmica no Brasil

O cenário da autotradução acadêmica no Brasil vincula-se diretamente à internacionalização do conhecimento científico e ao crescimento do número de periódicos acadêmicos bilíngues e plurilíngues no Brasil desde julho de 2011. Guédon (2010) classifica os periódicos acadêmicos em dois grandes grupos: o dos prestigiados ou principais, aqueles que têm origem em países industrializados ou centrais; e o dos periódicos periféricos, que se originam em países menores, periféricos, em desenvolvimento ou emergentes. Salager-Meyer (2014) acrescenta outras características aos periódicos pertencentes aos dois grupos. Os periódicos prestigiados ou principais são indexados no “Science Citation Index, o Social Science Citation Index ou no Arts and Humanities Citation Index” (Salager-Meyer, 2014, p. 79) e são escritos em inglês. Os periódicos periféricos, por sua vez, “estão ausentes, principalmente, das bases de dados internacionais, tais como o Science Citation Index, o Social Science Citation Index ou os seus equivalentes” (Salager-Meyer, 2014, p. 79), que publicam em sua maioria artigos escritos na língua do país natal do pesquisador. Salager-Meyer menciona, contudo, o caso de periódicos periféricos que passaram a publicar artigos em inglês em países como “México, Rússia, Sérvia, Irã, Coreia do Sul e Brasil” (2014, p. 79). É importante também ressaltar que, para a disseminação da ciência, a publicação em inglês é tida como “vital em países não-anglófonos” (Passini, 2018b, p. 126).

Tal classificação não se adequa por completo ao quadro de periódicos acadêmicos periféricos brasileiros. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) desenvolve seus próprios critérios e classifica os periódicos nacionais em 7 estratos distintos, de A1 ao C. Para pertencer aos estratos superiores A1 e A2, por exemplo, o periódico precisa ser indexado a bases de dados no Brasil e no exterior, além de preencher outros requisitos, tais como estimular a presença de doutores nacionais e internacionais no conselho editorial do periódico e uma política de publicação plurilíngue com uma disponibilidade de artigos brasileiros em outras línguas, bem como a participação de pesquisadores estrangeiros relevantes para o campo de estudo em questão. A síntese dos critérios por área da CAPES (2016) revela essas normas e outras para os periódicos classificados nos estratos A1 e A2, tais como a publicação ininterrupta nos últimos sete ou oito anos e o intervalo de tempo entre o recebimento e o aceite do artigo de até seis meses (CAPES, 2016, p. 24).

Para responder às demandas da CAPES, em especial, e para atender ao desejo de internacionalização do conhecimento, é cada vez maior o número de periódicos nacionais que solicita aos autores o envio da tradução para o inglês de seu artigo (em português), depois de aprovado para publicação (Alcapidani, 2017; Fortes, 2016; Passini, 2018a; Finardi e França, 2016). O tradutor pode ser indicado pelo periódico acadêmico ou podem o(s) próprio(s) autor(es) responsabilizar-se pela tradução. A supremacia do inglês como língua de expressão do conhecimento acadêmico é essencial ao processo de circulação do saber científico (Ortiz, 2004; Bennett, 2014) e pode ser comprovada em pesquisas nos periódicos indexados em inúmeros indexadores nacionais e internacionais da área de Letras e Linguística, em especial, no Brasil. Se apurarmos a língua mais utilizada para tradução ou para escrita original nas publicações nessa área, rapidamente chegaremos ao inglês. À guisa de exemplo, podemos citar a Revista Brasileira de Linguística Aplicada, que só aceita artigos em inglês e o único texto acadêmico em português que acompanha o artigo é o resumo. O periódico Trabalhos em Linguística Aplicada divide-se em três seções: dossiê, artigos e entrevista. Três línguas são usadas na publicação: português, inglês e espanhol, sendo a maioria dos textos escritos em português e em inglês, assim como grande parte dos resumos publicados. Os artigos publicados em espanhol são precedidos pelos respectivos resumos em espanhol e inglês. O periódico Organon divide-se em três seções: artigos, seção livre e resenha. Duas línguas são usadas na publicação: português e inglês, sendo a maioria dos artigos publicados na língua materna, o português. O resumo é publicado na mesma língua do artigo.

Entretanto, parece-nos obrigatório realçar que outros idiomas se apresentam entre as possíveis línguas de expressão do conhecimento acadêmico na área de Letras e Linguística. Além do periódico Trabalhos em Linguística Aplicada, já citado acima, A Revista de Estudos da Linguagem veicula artigos em português, inglês e espanhol, sendo a maioria dos artigos escritos em português e, mais uma vez, os resumos são escritos em português ou espanhol, mas sempre em inglês. O periódico Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso (Bakhtiniana doravante) aceita artigos em português, inglês, francês, espanhol, italiano e russo. Não é surpresa, entretanto, que o autor que tiver seu artigo aceito pelo Bakhtiniana deva providenciar a tradução de seu artigo para o inglês e que o par de línguas mais comum entre os artigos publicados seja o par português/inglês. Os resumos são publicados na língua do artigo, português e em inglês.

Os periódicos A1 variam quanto à compreensão da expressão publicação plurilíngue e ao uso da tradução. A maioria publica artigos em português, inglês, francês, italiano ou espanhol. O periódico Cadernos de Tradução aceita artigos em espanhol, francês, inglês, italiano, alemão e português. Entretanto, grande parte dos artigos é, de fato, publicada em uma destas línguas: português, inglês ou espanhol. Ou seja, não é adotada a publicação em formato bilíngue, e os artigos não são publicados simultaneamente em português e uma língua estrangeira. Os resumos, por sua vez, são publicados em duas línguas: português e inglês ou português e espanhol, em sua maioria. Não há menção alguma à estratégia adotada para a escrita dos mesmos, tradução ou autotradução, por exemplo.

Compreensão distinta do termo plurilíngue é a do Bakhtiniana, que aceita artigos em 6 línguas e publica o mesmo artigo em duas ou três, simultaneamente. É relevante apontar que o Bakhtiniana registra o(s) nome(s) do(s) tradutor(es) e dos revisores técnicos ao final dos artigos traduzidos e, por isso, podemos observar o uso da autotradução acadêmica como modo de disseminação da produção do conhecimento entre os artigos publicados, apesar disso, verificamos que ela não é uma prática frequente. Ou seja, o Bakhtiniana é um dos raros casos entre os periódicos que exibe autotraduções acadêmicas “transparentes”, já que não faltam informações acerca do autor do texto traduzido (Dasilva, 2011, p. 46), embora não encontremos neste caso os paratextos a que se refere Dasilva em sua discussão acerca das autotraduções transparentes e opacas.

O Bakhtiniana vai ao encontro do argumento do pesquisador português Paulo Serra que define um modo para “contrariar a hegemonia do inglês [que] seria a existência de publicações trilíngues, com todos os seus artigos e resumos escritos simultaneamente em português, espanhol e inglês” (Serra, 2013, p. 102). Esse tipo de publicação, além de defender o português e outras línguas vernáculas como meios legítimos de expressão do conhecimento científico e acadêmico, permite que o pesquisador “se engaje em atividades de pesquisa locais e atinja os leitores mais próximos que geralmente não leem artigos escritos em inglês” (Salager-Meyer, 2014, p. 80). Salientamos o alcance restrito dos periódicos nacionais, ainda que bem avaliados. Finardi e França (2016) apontam que a pesquisa brasileira tem pouca visibilidade e precisa “repensar suas estratégias de circulação” (Finardi e França, 2016, p. 248). Ou seja, a publicação plurilíngue ou bilíngue não parece garantir o acesso ao público internacional.

Outro tipo de compreensão do termo plurilíngue é o do Gragoatá, que aceita artigos em português, espanhol, francês, inglês, italiano e alemão. Alguns dos artigos são publicados em formato bilíngue tendo, obrigatoriamente, o inglês como língua da segunda versão; outros artigos são publicados somente em português e ainda outros apenas em inglês. Os resumos são publicados em duas línguas: português e inglês. Mais uma vez, a língua inglesa é a mais comum entre os artigos acadêmicos publicados pelo Gragoatá. Em oposição ao Bakhtiniana, contudo, o Gragoatá não registra os nomes dos tradutores e/ou revisores dos artigos publicados, e podemos concluir apenas que a (auto)tradução seja uma ferramenta possível utilizada para a disseminação da produção acadêmica. Na verdade, a disseminação do conhecimento parece ultrapassar a relevância da autotradução, da revisão e de outros profissionais de letras, e assim tais atividades não são valorizadas. Como afirma Bennett: “a tradução, quando ocorre, tende a permanecer ‘oculta’ enquanto atividades tais como edição, revisão técnica ou revisão linguística normalmente passam despercebidas” (2020, p. 279).

Quando voltamos nossa atenção para os resumos, a situação diverge daquela dos artigos acadêmicos na qual a autotradução acadêmica parece uma prática pouco comum, embora presente. Ainda que não haja informação alguma sobre a autoria da provável tradução dos resumos nos periódicos, uma pesquisa informal via correio eletrônico sugere que os próprios autores traduzem todos os resumos para uma das línguas, no mínimo. Ou seja, a autotradução acadêmica na área de Letras e Linguística no Brasil parece concentrar-se em um tipo de texto acadêmico: o resumo e, de novo, são autotraduções opacas (Dasilva, 2011, p.46). Acreditamos, assim como Pisanski Peterlin, que o alto grau de especialização e a linguagem formulaica desse tipo de texto “podem encorajar e estimular o autor a realizar, ele mesmo, a tradução” (Pisanski Peterlin, 2019, p. 856). Parece-nos relevante ainda realçar que os resumos em diferentes idiomas são publicados simultaneamente, em formato bilíngue, ao contrário da maioria dos artigos acadêmicos.

Em resumo, a Tabela 1 inclui os periódicos citados na seção, a classificação Qualis/ CAPES de cada uma das revistas e o procedimento adotado por seus editores em relação à indicação (ou não) do nome dos autotradures:

Tabela 1

Revistas, Qualis/capes e Procedimento Adotado

Periódico Qualis/ capes Indicação Autotradutor(a)
Revista Brasileira de Linguística Aplicada A1 Não
Trabalhos em Linguística Aplicada A1 Não
Organon B1 Não
Revista de Estudos da Linguagem B1 Não
Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso A1 Sim
Cadernos de Tradução A1 Não
Gragoatá A2 Não

[i]Fonte: elaboração própria.

2.1. Os periódicos periféricos B3 e B4 e o caso do Ecos de Linguagem

Segundo o relatório Qualis Periódicos, é significativo o número de periódicos periféricos classificados nos estratos B3 e B4 no Brasil. O esforço pela internacionalização faz que alguns periódicos periféricos desses estratos se tornem bilíngues ou plurilíngues. Por exemplo, citamos a Revista Conhecimento Online (B3), que publica artigos em português, inglês e espanhol bem como o Ecos, objeto de estudo desta investigação. No Brasil, eles têm no fator de impacto, medido pelo Institute for Scientific Information (isi), seu principal traço distintivo. São aqueles que não possuem fator de impacto, os periódicos B3 e B4, ou que fogem aos padrões por completo, que são aqueles classificados no estrato C. Os periódicos classificados nos estratos B3, B4 e C são em maior número na área de Letras e Linguística no Brasil atualmente (CAPES, 2019), os quais reúnem pesquisadores de departamentos ou institutos da mesma área, custeados (mas nem sempre o são de fato no Brasil) pela “universidade de origem do editor-chefe” (Salager-Meyer, 2014, p. 80). É o caso do Ecos, classificado no estrato B4 em 2018.

O periódico Ecos é uma publicação plurilíngue vinculada ao Laboratório de Semiótica da UERJ, disponibilizada inicialmente na página das publicações Dialogarts e posteriormente também no Portal de publicações de revistas eletrônicas a partir de sua indexação ao Scielo, Scientific Electronic Library Online, uma biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros. O seu primeiro número data de 2012, o periódico caracteriza-se pelo plurilinguismo e pela valorização da língua portuguesa como língua comum. Foram publicados 6 números entre 2012 e 2018, com um total de 57 (cinquenta e sete) artigos. Cada número apresenta seus textos em uma língua estrangeira moderna (inglês, francês, alemão, italiano e espanhol) e a respectiva tradução em língua portuguesa, sendo a proposta permanente do Ecos publicar artigos acadêmicos em versões bilíngues. Contudo, um detalhe, em especial, distingue o Ecos de outros periódicos bilíngues e/ou plurilíngues: entre 2012 e 2015, os artigos foram apresentados lado a lado na página de modo que o leitor pode comparar as duas versões se tiver o desejo e a competência linguística para tal. Cada número era dedicado, em sua totalidade, a um par de línguas, tendo sido o primeiro número, por exemplo, dedicado ao par italiano/português1. Ao final de cada texto em português, encontra(m)-se o(s) nome(s) do(s) tradutor(es) ou do(s) auto-tradutor(es) registrados em nota de rodapé. Assim, foi possível constatar que 49% do total das traduções publicadas entre 2012 e o primeiro semestre de 2015 foram resultado do trabalho do próprio autor. Ou seja, são autotraduções acadêmicas “transparentes” (Dasilva, 2011, p. 46). É importante destacar também que a maior parte das autotraduções foram feitas para o espanhol, já que três dos números publicados entre 2012 e 2015 contemplaram o par linguístico português-espanhol, como vimos anteriormente. As autotraduções restantes contemplam os pares linguísticos português-italiano e português-francês. Não houve autotraduções no par linguístico português-inglês.

2.2. Resumo do quadro da autotradução acadêmica no Brasil

Sobre a autotradução acadêmica no Brasil, pode-se dizer que é um fenômeno de investigação, em princípio, complexo, já que muitas vezes é oculto. Um periódico publicado atualmente, o Bakhtiniana, revela a identidade do autotradutor, bem como a dos tradutores e revisores, assume uma prática profissional e acadêmica ética e incomum, já que revela os profissionais envolvidos em todas as tarefas. O periódico, o Ecos, assumiu prática semelhante, porém teve sua circulação interrompida em 2018, por questões desconhecidas. Entretanto, pode-se dizer que a autotradução acadêmica, vista como a tradução de um texto original para outra língua pelo próprio autor, ocorre de fato no contexto da área de Letras e Linguística no Brasil. É possível estudar casos, em especial, como o do Bakhtiniana e o do Ecos, que registram os autores das traduções a partir do estudo de caso, delimitado, claramente definido, para que se possa alcançar tanto uma melhor compreensão do processo e do produto da autotradução acadêmica.

Embora a língua inglesa seja mais frequente, o espanhol, o francês, o italiano, o alemão e até mesmo o russo são utilizados nas publicações na área de Letras e Linguística no Brasil. Essa pode ser uma reação à supremacia do inglês como a língua da ciência e pode também ser um sinal da busca pelo fortalecimento de outras línguas vernáculas como línguas de expressão do conhecimento (Ortiz, 2004; Massarani, 2015), já que “não há políticas públicas no Brasil que fortaleçam a língua portuguesa como língua da ciência” (Fortes, 2016, p. 154). Ou seja, a busca pelo fortalecimento dá-se local e isoladamente, decidida por conselhos editoriais específicos de cada periódico na medida até dos recursos disponíveis desses periódicos que não dispõem de recursos para financiar as traduções para línguas estrangeiras.

Outra provável característica do quadro da autotradução acadêmica no Brasil é a alta frequência da tradução de resumos, produzidos para inclusão em dissertações, teses, artigos acadêmicos ou para participação em congressos e seminários internacionais. Outra vez, a língua inglesa é a mais frequente e, novamente, não é possível dizer com certeza que todos os resumos são resultados de autotradução. Dados informais, tais como conversas com profissionais do Programa de Pós-graduação em Letras, do qual faço parte, e e-mails trocados com pesquisadores da área dos Estudos da Literatura e dos Estudos da Tradução me levam a essa conclusão inicial. É importante apontar também que muitos trabalhos acadêmicos se dedicam ao estudo dos gêneros acadêmicos e entre eles estão os resumos (Silva & Mata, 2002; Carvalho, 2010; Kilian & Loguercio, 2015). Os interesses comuns desses estudos concentram-se no funcionamento do gênero resumo acadêmico em contextos distintos e os padrões de organização textual. Contudo, nenhum questiona a autoria dos resumos ou da tradução dos mesmos de forma direta. É possível que a irrelevância da questão esteja atrelada à desvalorização do gênero por agências de fomento governamentais como a CAPES ou a possível facilidade atribuída à escrita ou à tradução desse tipo de texto acadêmico.

3. Autotradução acadêmica: visão geral

Grande parte dos estudos sobre a autotradução tematiza a autotradução literária (Antunes, 2009; Anselmi, 2012; Grutman, 2013; Manterola Agirrezabalaga, 2017; Wanner, 2020). Uma busca superficial na mais recente Bibliography self-translation (Bibliography doravante), organizada por Eva Gentes e que teve sua 39º edição publicada em 01 de julho de 2020, demonstra a supremacia do estudo da autotradução literária. O adjetivo literary aparece 99 (noventa e nove) vezes na Bibliography ao passo que academic aparece apenas 6 (seis). Ainda que essa busca não revele detalhes absolutos, parece significativa a ampla diferença entre o número de ocorrências2. No mínimo, pode indicar a pouca importância que tem sido atribuída à autotradução acadêmica como tema de pesquisa. Como apontamos, a autotradução dos textos vistos como de especialidade tem despertado menor interesse do que a de textos literários. De fato, até hoje, 3 (três) estudos dedicam-se exclusivamente ao tema: Verena Jung (2002), Agnes Pisanski Peterlin (2019) e Karen Bennett (2020). Outro estudo, Chan (2016), refere-se à “escrita em inglês” (Chan, 2016, p. 162) como autotradução. Nesta investigação, definimos a autotradução acadêmica como a tradução de um texto de especialidade executada pelo autor-pesquisador que o escreveu originalmente. Quer dizer, é necessária em vista de nossos projetos futuros, que preveem a comparação entre textos autotraduzidos com suportes distintos, a existência de dois textos, ainda que a compreensão de texto original e texto traduzido seja, muitas vezes, intrincada. Por essa razão, o estudo de Chan (2016) não será revisado aqui. Em seguida, apresentamos as reflexões que nos parecem relevantes para os propósitos deste artigo.

O primeiro estudo sobre a autotradução acadêmica do qual temos notícia é o de Verena Jung (2002), no qual a pesquisadora indaga “o que o autor quis preservar, que nível linguístico ou de conteúdo é visto como importante na autotradução?” (Jung, 2002, p. 13). O estudo aponta que, durante o processo de tradução, os autotradutores de textos acadêmicos adaptam a macroestrutura dos textos originais aos novos leitores e culturas, e utilizam estratégias motivadas por “diferenças entre as línguas e culturas envolvidas” (Jung, 2002, p. 275). Pisanski Peterlin ressalta que os textos acadêmicos autotraduzidos podem ser “uma fonte de informação sobre as diferenças retóricas interculturais e podem, portanto, ser úteis na tradução ou na aprendizagem de línguas nos níveis avançados” (2019, p. 850). Julgamos produtiva a “tipologia da autotradução” que Jung (2002, pp. 22-29) descreve em seu estudo e que é baseada nos textos autotraduzidos, cujo uso foi autorizado pelos autotradutores, respostas a questionários e depoimentos. Acreditamos também que a tipologia pode ser ampliada para além dos quatro tipos da atividade que Jung observa em seu estudo inovador na área da autotradução, como veremos adiante neste artigo.

O primeiro tipo de autotradução conta com a língua alvo como traço específico e divide a atividade em duas categorias: a autotradução para a língua materna e a autotradução para a segunda língua. Segundo Jung, a maioria dos autotradutores “prefere escrever na segunda língua e depois traduzir seu próprio trabalho para a língua materna” (2002, p. 22). Destacamos que a bidirecionalidade parece um traço significativo da autotradução pois, via de regra, os autotradutores não parecem sentir-se limitados à tradução para a língua materna como tradutores em geral tendem a admitir.

O segundo tipo de autotradução, de acordo com Jung, classifica a tarefa de acordo com sua execução solitária ou em colaboração com um tradutor profissional (2002, p. 24). De acordo com Jung, a consulta a um falante nativo é comum e compensa “uma possível falta de correção estilística” (2002, p. 24). É importante destacar a atuação de outros profissionais que trabalham em colaboração com o autotradutor antes, durante e depois do processo autotradutório. Karen Bennett (2020, p. 280) descreve os agentes profissionais, que podem ser agentes linguísticos (editores, tradutores, revisores) ou agentes acadêmicos (supervisores, colegas de trabalho, consultores, editores de periódico), que atuam profissionalmente ou de maneira informal na tentativa de ajudar a tornar o texto acadêmico adequado aos padrões exigidos por periódicos internacionais. Consequentemente, para Bennett, raramente a autotradução acadêmica é uma tarefa solitária e o texto acadêmico autotraduzido tende a ser “aperfeiçoado por muitas mãos” (Bennett, 2020, p. 280).

O terceiro tipo de autotradução abrange as autotraduções homoskopic aquelas que têm um skopos, ou propósito, semelhante ao do texto original e, por isso, podem ter uma estrutura semelhante à estrutura original, e as heteroskopic, que, para atingir uma função distinta do texto original junto ao público-leitor estrangeiro necessitam ter sua “estrutura alterada” (Jung, 2002, p. 25). Entre os objetivos dos pesquisadores que escrevem e traduzem o próprio artigo acadêmico está o de fazer circular o conhecimento produzido ao longo de sua vida acadêmica. Em outras palavras, escrita original e autotradução cumprem função semelhante: disseminar o conhecimento. Assim, podem ser vistas como homoskopic e, como veremos adiante, os autotradutores que são sujeitos de pesquisa desta investigação revelam a fidelidade no nível estrutural entre o texto original e o texto autotraduzido.

O quarto tipo de autotradução distingue as autotraduções “simultâneas das assíncronas” (Jung, 2002, p. 26). Para Jung, o intervalo de tempo que separa o original da autotradução pode ser um motivo determinante para a introdução de alterações expressivas na obra autotraduzida. Em seu estudo, a pesquisadora não obteve exemplos de autotradutores que houvessem produzido seus originais e traduções simultaneamente (Jung, 2002).

O segundo estudo importante sobre a autotradução acadêmica do qual temos notícia é o de Pisanski Peterlin (2019). A pesquisadora apresenta os resultados da investigação para a qual foram entrevistados 9 pesquisadores eslovenos experientes e habituados a traduzir o próprio texto em contextos em que a versão bilíngue é exigida ou encorajada. Os temas centrais destacados por Pisanski Peterlin (2019), depois de transcritas as entrevistas, são a direção preferida da tradução, as adaptações e as opiniões sobre a autotradução .

Sobre a direção preferida pelos pesquisadores-autotradutores, Pisanski Peterlin destaca que todos tinham experiência em ambas as direções, de/para a língua materna ou estrangeira. Contudo, a maior familiaridade com a escrita acadêmica em língua estrangeira torna a preferência pelo rascunho em língua estrangeira e a tradução para a língua materna mais comum. A tradução da língua materna para a língua estrangeira, segundo os mesmos pesquisadores, poderia resultar em um artigo acadêmico de qualidade inferior causada pela “interferência da língua materna” (Pisanski Peterlin, 2019, p. 851).

A questão mais importante apontada por Pisanski Peterlin, e que está associada à direção da tradução, diz respeito à terminologia. Quando o pesquisador-autotradutor traduz da língua estrangeira para a língua materna, em diversos momentos, é necessário criar termos adequados no idioma esloveno, já que os “novos termos não são criados simultaneamente” em inglês e em esloveno (Pisanski Peterlin, 2019, p. 851). Nessa ocasião, a estratégia utilizada é a busca pela colaboração com colegas pesquisadores, já que a escrita acadêmica em outras línguas, além do inglês, deve ser “preservada e promovida” (2019, p. 852). Pisanski Peterlin destaca que a “autotradução pode encorajar a reflexão, discussão e busca por novos termos específicos; contudo, pode também ofuscar a existência dessas redes de conhecimento” (2019, p. 852). Acreditamos que ainda são necessárias outras investigações sobre o processo autotradutório para que se observe a existência de uma rede que opera antes, durante ou após esse processo. Nossa investigação sobre o caso do Ecos demonstra à primeira vista o trabalho solitário dos autotradutores que se dedicam a uma área do conhecimento, a literatura francesa, já estabelecida e que não procura, por exemplo, a construção da própria identidade linguística através da criação de novos termos que permitam a escrita acadêmica na língua materna.

Durante as entrevistas, o segundo tema destacado por Pisanski Peterlin foi a liberdade e a adaptação geralmente associadas à autotradução (2019, p. 852). Para os entrevistados, o fato de que as versões do artigo aparecem lado a lado, em uma publicação bilíngue, parece aumentar a necessidade do conteúdo equivalente, embora as adaptações sejam inevitáveis, às vezes, dadas as diferenças entre as línguas (2019, p. 852). A ideia da adaptação do conteúdo também está presente nas entrevistas e está associada à noção da liberdade do autotradutor e à percepção de “tradutor ideal” discutida por Jung (2002). Além desses fatores, a investigação de Pisanski Peterlin sobre a autotradução acadêmica revela que as adaptações também são afetadas por fatores externos tais como o limite de páginas ou o número de caracteres permitidos, por exemplo.

O tema final tratado pelos autotradutores entrevistados por Pisanski Peterlin foi sua opinião sobre a autotradução. Suas visões sobre o assunto não parecem, em um primeiro momento, distintas daquelas veiculadas em famosos relatos de escritores-autotradutores, como Samuel Beckett e João Ubaldo Ribeiro, nos quais os escritores exprimem sua insatisfação com a tarefa desafiadora que a tradução do próprio texto representa, que demanda tempo e um esforço considerável para que um texto traduzido de qualidade seja produzido, como já apontamos em estudo anterior (Antunes, 2009). Pisanski Peterlin destaca ainda que o processo de autotradução promove a revisão tanto do texto-fonte quanto do texto autotraduzido (Pisanski Peterlin, 2019, p. 855), além de propiciar, em especial, o desenvolvimento da terminologia, ainda que as autotraduções e a escrita do texto original não se deem simultaneamente.

Sobre a autotradução acadêmica em geral, Pisanski Peterlin acrescenta que ela ocorre em contextos em que as versões bilíngues de um texto são solicitadas (2019, p. 856). Ela destaca também que nem sempre os artigos acadêmicos constituem a produção mais constante dos autotradutores. Com frequência, a atividade da autotradução está circunscrita aos resumos, sumários e projetos de pesquisa, especialmente porque se caracterizam por “linguagem bastante formulaica” (Pisanski Peterlin, 2019, p. 856) que pode, possivelmente, tornar a tarefa da autotradução um pouco mais simples e menos demorada.

O terceiro estudo sobre a autotradução acadêmica publicado até hoje é o de Bennett (2020). Em seus estudos, a pesquisadora interessa-se, principalmente, por questões epistemológicas envolvidas na transferência de conhecimento entre fronteiras linguísticas e culturais. No artigo “Authorship and self-translation in academic writing: Towards a genetic approach” (2020), Bennet apresenta o recente interesse na autotradução e os estudos sobre o tema. Destaca a visão da autotradução em um sentido restrito, é dizer, “a tradução de uma obra original para ou tra língua pelo próprio autor” (Popovic 1975, p. 19), em oposição à autotradução com sentido “mais amplo, metafórico, de acordo com o qual a escrita na segunda língua é vista como uma forma de autotradução mental” (Bennett, 2020, p. 284) e utiliza ambas em sua pesquisa sobre a autotradução acadêmica.

No estudo revisado aqui, Bennett revela descobertas anteriores sobre as estratégias usadas por especialistas portugueses das áreas das ciências sociais e das humanidades: a intervenção de outros profissionais de letras, os agentes profissionais, é a regra no processo de escrita e disseminação do conhecimento (Bennett, 2020, p. 281). Ainda com base na investigação divulgada no mesmo artigo, Bennett enfatiza que a produção acadêmica não pode ser descrita por binarismos como “autor/ tradutor, texto fonte/texto alvo, original/tradução” (2020, p. 281) e questiona a noção da autoria única, que denomina ficção. Pergunta qual é o papel da tradução e em que ponto do processo de produção global do conhecimento ela acontece. Bennet considera que a autotradução é o nó crucial da investigação, já que a atividade surge como “estratégia na disseminação do conhecimento” (Bennett, 2020, p. 281). O mesmo estudo revela que a autotradução para o inglês é uma prática rotineira entre pesquisadores portugueses, mas os textos são revisados por um agente linguístico, falante nativo na maioria das vezes. O nativo parece ser visto como o único agente linguístico que possui a competência necessária para o papel de produzir um texto adequado aos padrões das revistas prestigiadas internacionais. Ao estrangeiro, falante e escritor apenas regular, por assim dizer, cabe submeter aquilo que é de fato o artigo-rascunho ao agente que lhe é superior e imprescindível, muitas vezes. Para Bennett, a autotradução surge como “um estágio comum do processo de adaptação da pesquisa feita em português para publicação internacional” (Bennett, 2020, p. 288, minha ênfase).

Novo estudo com foco na autotradução acadêmica obteve apenas três respostas e em nenhuma delas a autotradução, no sentido restrito, constava como estratégia para a disseminação do conhecimento. Para Bennett, os pesquisadores portugueses passaram a utilizar nova estratégia: a escrita do texto original em inglês - a autotradução no sentido amplo - e o uso apenas ocasional da “autotradução, no sentido restrito” (Bennett, 2020, p. 289). Uma descoberta relevante reside no fato de que pesquisadores portugueses constataram que adaptavam seus textos para adequá-los aos padrões anglófonos. Tais adaptações no estilo do texto em língua materna, a língua portuguesa, procuravam, na verdade, orientar a tradução executada por outro profissional (Bennett, 2020). Bennett conclui que o processo de publicação em outra língua é bastante complexo e envolve alterações de naturezas variadas em diversos estágios do processo, até mesmo antes que a tradução propriamente dita ocorra. Para Bennett, “há provas de que o texto acadêmico pode ser epistemologicamente adaptado antes da tradução” (2020, p. 291). Outras questões propostas por Bennett são: quem intervém no texto e em que ponto durante o processo de produção global do conhecimento? Como determinar o momento no qual um texto passa para outra língua? É possível pensarmos que uma só pessoa seja responsável pela travessia linguística e cultural em um mundo no qual espera-se que as pessoas sejam competentes e produzam em mais de duas línguas? (2020, p. 291). É provável que as respostas para as questões propostas por Bennett levem à compreensão mais detalhada e aperfeiçoada da autoria acadêmica, como ela opera no contexto global e que podem apresentar questões para o termo autotradução, já que não só o autor é responsável pelo texto autotraduzido e a autotradução não é um processo restrito a dois estágios, autoria e tradução, como o termo propõe. Bennett (2020) salienta que mais discussões podem ocorrer a respeito dos conceitos de “autotradução colaborativa” (Manterola Agirrezabalaga, 2017) ou “semiautotradução” (Dasilva, 2016). De fato, como veremos no caso do Ecos, outros agentes participam do processo de disseminação do conhecimento. São estudantes da graduação em Letras que participam de programa de estágio no Projeto de Extensão Publicações Dialogarts. No projeto, os estagiários são capacitados para a preparação dos originais, entre outras atividades. Instruem-se ao mesmo tempo em que adquirem uma habilidade específica, revisão ou tradução, por exemplo, e auxiliam o progresso da ciência.

Bennett argumenta que a crítica genética de tradução pode contribuir para a construção dessa compreensão através da análise de diversos tipos de materiais produzidos por autotradutores em “vários estágios do processo de preparação de um artigo”, por exemplo (2020, p. 291). Bennett volta ao estudo de Verena Jung e à noção de intertexto proposta pela pesquisadora alemã que inclui os “documentos físicos” (Bennett, 2020, p. 293) e as “operações mentais” (Bennett, 2020, p. 293), que fazem parte do “pré-estágio do original” (Jung, 2002, p. 30). Utiliza também a noção de intercultura de Anthony Pym (1998) e descreve a academia atual como uma intercultura: “todos os envolvidos - pesquisadores, professores, autores, agentes profissionais, sempre operam em um espaço que contém elementos de, no mínimo, duas culturas epistemológicas: a própria, e a dominante, representada pela inglesa” (Bennett, 2020, p. 295). A intercultura não parece sempre tão simples. Há interculturas mais complexas que surgem, por exemplo, quando diferentes áreas do conhecimento se cruzam.

A teórica argumenta ainda que no modelo de produção do conhecimento atual não é mais possível pensar em trocas unidirecionais entre centro e periferia, como descreve Canagarajah (2002). Para Bennett, “o quadro hoje parece mais de contaminações e enriquecimentos mútuos” (2020, p. 295). Estudos como os de Finardi e França (2016) e a introdução de Luisa Massarani ao importante periódico Public Understanding of Science (2015) sugerem um quadro diverso. Isto é, ainda que, de um ponto de vista eurocêntrico, não seja possível pensar em trocas unidirecionais entre centro e periferia, esse comportamento parece persistir quando falamos de conhecimento produzido em países periféricos latino-americanos. Como bem aponta Massarani, os resultados de pesquisas realizadas em regiões “fora do eixo hegemônico - Europa/Estados Unidos - ainda são em sua maioria invisíveis” (2015, p. 3), embora sejam publicadas em inglês ou em outros idiomas.

Bennett finaliza seu texto apontando para a necessidade de investigação dos processos que sucedem à publicação do artigo acadêmico, tais como a reescrita na forma de uma apresentação oral para um congresso, o resumo que acompanha o artigo e que podem ser explorados pelas ferramentas desenvolvidas pelos estudos genéticos de tradução e auxiliar a compreensão da evolução desses e de “outros pós-textos” (Bennett, 2020, p. 296). Passamos agora à metodologia que desenvolvemos para o estudo de caso do Ecos.

4. Metodologia

Este é um estudo exploratório que pretende investigar as características da atividade da autotradução tal como praticada por 8 pesquisadores que submeteram seus artigos ao número 7 (2015) do Ecos, no par linguístico francês-português, além de sua atitude em relação ao tema. Este estudo é parte de um projeto maior que investiga a disseminação do conhecimento via tradução ao longo dos séculos.

Os autores são professores e pesquisadores que atuam em cursos de licenciatura (português/ literatura e português/francês) de universidades públicas e instituições federais localizadas no Estado do Rio de Janeiro. Todos os pesquisadores são falantes nativos de português, com alto nível de proficiência em francês. Dois entrevistados são poliglotas, com alto nível de proficiência em mais de dois idiomas estrangeiros, e apenas dois pesquisadores possuem alguma experiência na publicação internacional em francês. Seis pesquisadores são estudiosos de literatura em língua francesa, um de língua portuguesa e um de língua estrangeira.

Contrariando a prática do periódico, neste número apenas um dos artigos indica que a tradução é executada pelo autor, também organizador do volume. Julguei assim apropriado aproximar-me, em primeiro lugar, do organizador para verificar quais artigos resultavam do trabalho dos próprios autores. Em mensagem de correio eletrônico, o professor e organizador informa que todos os artigos são autotraduções e cede-me também os e-mails dos autores para que eu possa então contactá-los para as entrevistas semiestruturadas que se seguiram.

Um e-mail convite foi enviado a cada um dos possíveis entrevistados com uma pergunta inicial que buscava confirmar a informação que o organizador do número 7 (2015) do Ecos havia transmitido. Segundo ele, a maioria dos estudiosos havia escrito os artigos em português e traduzido, eles mesmos, os originais para o francês. Apenas um dos estudiosos-autotradutores escreveu o artigo original em francês e traduziu-o, ele mesmo, para a língua nativa, o português. A resposta dos estudiosos-autotradutores confirmou a primeira informação e as entrevistas foram agendadas.

As entrevistas semiestruturadas foram conduzidas pela pesquisadora por meio de um aplicativo de software de videoconferência com um estudioso-autotradutor por vez. Cada uma das entrevistas durou, em média, 50 (cinquenta) minutos e o roteiro prévio da entrevista continha tópicos e questões para discussão levantadas em minhas leituras anteriores sobre a autotradução acadêmica. Entre os temas e as questões estão: a experiência dos estudiosos-autotradutores com a autotradução, a frequência e o tipo da autotradução praticada; a execução da autotradução: solitária ou em colaboração; o espaço de tempo entre a produção original e o texto autotraduzido; a visão dos estudiosos-autotradutores sobre a autotradução. As entrevistas foram gravadas, assistidas pela pesquisadora e transcritas. A tipologia da autotradução bem como as questões que se sobressaíram na discussão sobre a visão dos autotradutores sobre a atividade foram organizadas em notas por tema.

Da mesma forma, mensagens de correio eletrônico foram enviadas aos autotradutores para o esclarecimento de dúvidas surgidas durante a análise das entrevistas. Esta análise exploratória permitiu a classificação da autotradução acadêmica com base na tipologia concebida por Jung (2002), assim como a sua ampliação com a inclusão de dois critérios: o suporte e a modalidade. Esta análise permitiu também a discussão de noções apresentadas em Pisanski Peterlin (2019) e Bennett (2020).

5. Resultados e discussão

Nesta seção, apresento a tipologia da autotradução acadêmica com base no modelo de Jung (2002), revisitando-o a partir dos nos resultados das entrevistas com estudiosos-autotradutores que publicaram artigos autotraduzidos no periódico Ecos (2015). A seção divide-se em sete subseções: uma introdutória, que apresenta a tipologia da autotradução no Ecos e as seguintes, que descrevem os critérios para definir cada uma das categorias. A última subseção aponta tópicos levantados pelos entrevistados ao apresentarem sua visão sobre a autotradução.

5.1. A tipologia da autotradução acadêmica no Ecos

A tipologia da autotradução acadêmica no Ecos é definida com base em critérios que se sobressaíram nas entrevistas semiestruturadas3 com os estudiosos-autotradutores. Esses critérios corroboram a tipologia desenvolvida por Jung (2012) e a ampliam, como veremos adiante, na subdivisão em seções. São eles: a direção da autotradução, a execução da autotradução: solitária ou em colaboração, o propósito da autotradução, o espaço de tempo entre a escrita original e a autotradução, o tipo de autotradução segundo o suporte e a modalidade. Passemos agora à tipologia em detalhe.

5.1.1. A língua-alvo

Os pesquisadores-autotradutores sujeitos desta investigação são professores experientes das áreas de língua e literatura estrangeira da UERJ. Apenas um deles é professor de língua portuguesa. São pesquisadores com participação efetiva em congressos, seminários e colóquios no Brasil e na França, mas que têm experiência escassa em publicações - escritas - em língua francesa, em especial, no cenário internacional. Por exemplo, cito L, que apresenta em seu currículo um artigo escrito em francês e publicado na França. Entretanto, para o Ecos (2015), a maioria traduziu seus artigos acadêmicos e resumos do português para o francês, à exceção de S. Ou seja, traduziram seus próprios textos da língua materna para a língua estrangeira. Professores de língua estrangeira não parecem sentir-se, em princípio, limitados à tradução para a língua materna, como afirma Jung (2002), embora possam preferir a autotradução para a língua materna, já que, como afirma o participante S, sente-se “muito mais competente traduzindo do francês para o português”. O participante F afirma que prefere apenas “subjetivamente francês-português, apenas subjetivamente”. Ele enfatiza a subjetividade de sua preferência, pois realizou sua formação acadêmica no país estrangeiro e produziu grande parte dos textos acadêmicos na língua estrangeira, elogiados por professores de escrita acadêmica. Assim como no caso dos professores eslovenos entrevistados por Pisanski Peterlin (2020), os pesquisadores brasileiros demonstram familiaridade com o idioma estrangeiro que faz parte da vida acadêmica. A preferência explicitada pela tradução para a língua materna pode exibir a influência de declarações comuns que mistificam “o falante nativo” (Pokorn, 1998, p. 62) e afirmam que os tradutores não podem traduzir para uma língua não materna.

5.1.2. A autotradução solitária ou em colaboração

Durante as entrevistas, todos os pesquisadores-autotradutores declararam traduzir os textos sozinhos. Enviei, em seguida, mensagem de correio eletrônico com uma questão objetiva acerca do possível auxílio de algum tipo de agente profissional: colega do mesmo departamento, tradutor profissional ou não, revisor ou um leitor crítico. Três respostas foram afirmativas. Os autotradutores recorreram a agentes acadêmicos, colegas, consultores, dois deles falantes nativos do idioma, o que confirma, em princípio, as afirmações de Jung (2002) e Bennett (2020) sobre a frequência da consulta ao falante nativo no estágio da revisão do texto acadêmico. Os entrevistados destacaram também o trabalho de estagiários, revisores do texto original em português. Ou seja, a publicação bilíngue é uma publicação complexa, já que precisa contar com a intervenção de agentes profissionais. No caso do Ecos, pode-se inferir durante as entrevistas que os pesquisadores-tradutores foram responsáveis não só pela tradução, mas também estiveram incumbidos da tarefa da revisão, que desempenharam os próprios autores, solicitaram a colegas nativos (no caso do texto na língua estrangeira) ou ainda tiveram a tarefa de revisão do texto original em língua materna executada por estagiários providenciados pela Universidade em que os pesquisadores atuam. O caso do periódico periférico brasileiro B4 revela assim outro agente, um futuro agente linguístico em processo de formação naquele momento na UERJ, participante ativo do processo de disseminação de conhecimento. Empresto de Manterola Agirrezabalaga a declaração sobre autotradução colaborativa: “a realidade da prática é diferente” (2017, p. 275). A disseminação do conhecimento é um processo que envolve muitos profissionais de Letras e que pode ainda envolver muitos outros profissionais em formação de diversas áreas, não só de Letras.

5.1.3. A autotradução homoskopic ou heteroskopic

Tendo os textos publicados no Ecos o mesmo propósito, ou seja, o de fazer circular o conhecimento acadêmico, a estrutura do texto não necessita de alteração, do ponto de vista dos pesquisadores-autotradutores. Segundo L: “outras línguas requerem uma violência contra o original”, não sendo esse o caso do par português-francês, que para a participante requer uma “tradução transparente”. É curioso que nenhum dos entrevistados tenha sequer mencionado alterações na estrutura do texto para atender uma possível organização retórica distinta (Jung, 2002; Pisanski Peterlin, 2019; Bennett, 2020). Atribuímos tal atitude ao fato de que os pesquisadores têm seu foco restrito ao conteúdo do texto e seu produto de pesquisa na área dos estudos literários. A atitude pode demonstrar também uma visão de tradução cujo sentido o texto é capaz de carregar e, como afirma Rosemary Arrojo, pode ser transferido “de uma língua para outra, de uma cultura e de uma época para outras” (1992, p. 415) quase integralmente, como o par português-francês “requer”, como diz L.

É interessante, porém, realçar as alterações estilísticas apontadas por L e M. L destaca “um ideal de clareza no francês” e por isso introduziu no texto autotraduzido “frases menos longas”. M, por sua vez, evita o “uso da 1ª pessoa”, que, segundo a participante, não ficaria apropriado ao estilo do artigo acadêmico em língua francesa. Em outras palavras, o propósito de comunicação com outro público leitor é preponderante e determina alterações, ainda que não sejam na organização retórica do artigo. Ou, como afirma Christiane Nord, “o propósito da tradução determina os procedimentos selecionados” (2010, p. 125), em maior ou menor grau.

5.1.4. A autotradução simultânea ou assíncrona

Entre os artigos acadêmicos, há apenas autotraduções assíncronas. É importante destacar uma característica comum entre alguns dos textos autotraduzidos: os artigos produzidos por M e T são resultados da adaptação de um capítulo de suas teses de doutorado (em português) para outro tipo de texto, o artigo acadêmico, também em português. Em seguida, o artigo foi autotraduzido para o francês. Ou seja, há uma lacuna temporal entre a adaptação do capítulo da tese para o formato de artigo, que é maior que aquela entre a escrita do artigo e sua tradução português-francês. Como afirma Bennett (2020), preparar uma pesquisa para publicação envolve muitas etapas complexas em si mesmas, além de muitas transformações, como aquelas que os pesquisadores-autotradutores entrevistados para os propósitos desta investigação revelam e que Bennet não menciona. As transformações reveladas resultam, em sua essência, da lacuna temporal que existe entre a preparação da tese e do artigo, já que novos textos teóricos, por exemplo, foram publicados e novas citações foram acrescentadas ao artigo, como afirma M.

O quadro é totalmente alterado quando apreciamos o cenário dos resumos, já que a autotradução ocorre simultaneamente. Os resumos são escritos e traduzidos para a participação em congressos ou seminários ou para inclusão em dissertações e teses e, por isso, produzidos de forma concomitante em razão, na maioria das vezes, da urgência da tarefa. No caso do periódico Ecos, todos os resumos foram traduzidos simultaneamente.

5.1.5. A autotradução acadêmica segundo o suporte

Este tipo surge a partir das entrevistas com os pesquisadores-autotradutores que publicaram seus artigos no periódico Ecos e tem como marca distintiva o suporte, visto como “um locus físico ou virtual com formato específico que serve de base ou ambiente de fixação do gênero materializado como texto” (Marcuschi, 2003, p. 11). Mostra-se, a nosso ver, na publicação de periódicos plurilíngues e, em especial, daqueles que, como o Ecos, permitem a visualização de ambos os textos lado a lado. Tal tipo de periódico cria um gênero próprio, nas palavras do participante N, que cita Bakhtin (2003) e a importância do suporte. Para N, o artigo acadêmico publicado em um periódico de formato bilíngue (com os textos publicados lado a lado) é um gênero específico, com características próprias e apresenta demandas inexistentes em outros periódicos, ainda que bilíngues ou trilíngues, mas que publiquem cada um dos textos em uma única língua estrangeira. Uma exigência é a reflexão contínua, durante o processo de tradução, sobre o que foi escrito em primeiro lugar e o que é ético registrar no texto autotraduzido, já que haverá o contraste quase imediato possível entre os dois textos. Como mostra Pisanski Peterlin, “parecia improvável que as duas versões seriam contrastadas; contudo, destacavam a necessidade do conteúdo idêntico” (2020, p. 852). É, portanto, provável que a autotradução acadêmica de artigos acadêmicos publicados lado a lado, em formato bilíngue, como no caso do Ecos, constranja o pesquisador-autotradutor, que deixa de introduzir alterações no texto autotraduzido, além daquelas que a diferença entre línguas exige. Em outras palavras, esse tipo de suporte pode revelar um tipo bastante específico de autotradução acadêmica. Como afirmou a participante S: é preciso “guardar o texto original tanto quanto possível... até as palavras.”

5.1.6. As modalidades oral e escrita

Este tipo de autotradução acadêmica aponta as modalidades oral e escrita como categorias distintas. As participantes S e M apresentaram a autotradução acadêmica oral. Entre os contextos no qual ela ocorre estão os congressos e colóquios ou até mesmo em aulas de língua estrangeira em que o pesquisador e o professor traduzem suas intervenções ao mesmo tempo em que apresentam seus textos. S conta sobre um evento na UERJ em que havia a possibilidade de apresentar a comunicação em português ou em francês. Escolheu realizar sua apresentação em português e levou o texto escrito, mas, no momento da comunicação, as organizadoras do evento perguntaram se ela se importaria de realizar a comunicação em francês porque só havia franceses, naquele momento, tanto na mesa quanto na plateia. Transformou-se, portanto, em uma autotradução oral.

S lembra-se do evento, embora não seja mais capaz de recordar detalhes sobre o processo de autotradução oral ocorrido. Podemos supor que houve paradas, prováveis transformações devido à mudança de modalidade durante o processo de autotradução oral, mas não é possível declarar nada com alguma evidência, já que não há gravações ou qualquer tipo de notas que revelem algo.

Sobre a autotradução oral parece haver um único estudo intitulado “Oral self-translation of standup comedy and its (mental) text: a theoretical model” (Palmieri, 2017). O estudo de Giacinto Palmieri contempla, particularmente, os estudos de humor e relata a existência de um texto mental, parcialmente memorizado, repetido em diversas atuações de humoristas que o (auto)traduzem diante da plateia que cada vez mais inclui migrantes de variados “backgrounds linguísticos” (Palmieri, 2017, p. 194). Não existe um texto escrito no qual o humorista baseie a autotradução oral como no caso da comunicação apresentada no congresso dos pesquisadores-

-autotradutores do Ecos, por exemplo. O modelo teórico criado por Palmieri (2017), portanto, não se aplica ao caso em que esta investigação se baseia, em princípio.

5.2. A autotradução segundo os autotradutores do Ecos: outros apontamentos

Uma opinião frequente sobre a autotradução diz respeito ao grande esforço envolvido na tarefa de traduzir o próprio texto (Ribeiro, 1990; Grutman, 2013; Weigel, 2019). Contudo, a visão dos autotradutores entrevistados para os propósitos desta investigação contraria a opinião sobre a autotradução como atividade “muito desafiadora” (Pisanski Peterlin, 2019, p. 854). A participante S declara que a reflexão sobre a “autotradução passa por dificuldades de tradução, trechos e termos que não são evidentes” (nossa ênfase) e exemplifica usando o trabalho de verter trechos de canções de Gilberto Gil para o francês afirmando que precisou recriá-las “para que houvesse possibilidade de compreensão”. Ou seja, traduzir é difícil, mas não traduzir o próprio texto. A participante T, por outro lado, afirma que toda a leitura e a reflexão em língua estrangeira de textos teóricos e literários em língua francesa facilitou a autotradução para o francês. T é uma das participantes que adaptou um capítulo de sua tese de doutorado que tinha a literatura francesa como tema. Declarou ter lido muitos textos teóricos e literários em francês durante o curso de doutorado em Literatura Francesa. Para ela, seu grande desafio consistiu em traduzir trechos de textos literários de francés para português durante o processo de escrita do artigo original. Ou seja, a leitura e a reflexão em língua francesa facilitaram a tarefa autotradutória. A mesma facilidade da autotradução é realçada por M que narra o “diálogo intenso com o francês, com muitas coisas traduzidas, citações” durante o período de escrita da tese de doutorado. A facilidade foi citada também pela participante L que a atribuiu, no entanto, ao fato de saber o que escreveu, qual era a sua intenção, “quais são os implícitos”. Em resumo, pode-se dizer que há mais de um fator que influencia a tarefa do autotradutor e que pode reduzir seu grau de dificuldade no caso apresentado neste artigo. Ressaltamos, em primeiro lugar, a relação entre a leitura e a tarefa da tradução como fator facilitador. Vários estudiosos da tradução (Newmark, 1988; Hatim e Mason, 1990; Danks e Griffin, 1997; Washborne, 2012; Kovács, 2018) já destacaram a relação entre leitura e tradução. Tal destaque ratifica as práticas de autotradução acadêmica das participantes T e M e a facilidade da autotradução que atribuem à leitura inicial de textos em francês. Em segundo lugar, podemos realçar a noção de tradutor ideal, ou “tradutor privilegiado” (Tanqueiro, 2002, p. 50), já que há “uma distância zero em termos de subjetividade entre a de autor e a de tradutor”, entre outros. É a esse privilégio que se refere a entrevistada L, quando alude à facilidade da autotradução.

A possibilidade de revisão foi apontada por todos os entrevistados como uma das vantagens da autotradução. Ao traduzir o próprio texto, o pesquisador tem a oportunidade de inserir “notas explicativas no texto em português”, como fez M. Ela esclarece que as notas foram causadas pela leitura atenta do texto em francês durante o processo autotradutório e a constatação da possível falta de competência cultural do leitor brasileiro para lidar com referências da cultura francesa. Outro participante, N, afirma que pode “identificar elementos da língua materna que não havia percebido antes. Fiz uma análise linguística profunda, uma reflexão metalinguística” durante a autotradução do artigo acadêmico. Pode identificar, por exemplo, “uma palavra em português que indica preconceito”. N atribui tal reconhecimento ao processo de autotradução e ao contraste entre textos e línguas que possibilitam a revisão profunda não só do texto, mas também da própria língua. Ehrlich (2009) já apontava que o processo de autotradução dá ao autor uma compreensão mais profunda do próprio texto. Como apontamos sobre o processo de autotradução acadêmica, os pesquisadores do Ecos aludem a um conhecimento mais profundo não só do próprio texto em português como sobretudo da própria língua materna.

Sobre o alcance das autotraduções acadêmicas publicadas no Ecos, o participante P faz uma observação interessante. Durante a entrevista, mencionou a existência de um pesquisador francês, estudioso do mesmo tema apresentado em seu artigo autotraduzido e publicado no Ecos, no segundo semestre de 2015. Teve a oportunidade de conhecer o pesquisador francês durante um seminário realizado na UERJ. P declara: “de repente, ele me leu, né? Eu tenho algum leitor...”. E, logo em seguida, lembra-se que o pesquisador é falante da língua portuguesa. Essa declaração de P leva-nos a uma questão que nos parece bastante relevante: para quem escrevem os pesquisadores-autotradutores que publicam seus textos nos periódicos periféricos publicados no Brasil mesmo quando publicam em uma língua estrangeira? Simona Anselmi recorda a virada cultural e a necessidade da atenção à interação entre a autotradução e a cultura e “a consciência de que as autotraduções são influenciadas principalmente pelo contexto da cultura-alvo” (Anselmi, 2012, p. 29). É importante frisar que pesquisadores brasileiros almejam o diálogo com pesquisadores estrangeiros (Guedón, 2010; Massarani, 2015; Passini, 2018a). Entretanto, parece importante destacar também que os resultados das pesquisas brasileiras são pouco visíveis (Finardi & França, 2016; Massarani, 2015). Por outro lado, a publicação em periódicos bem avaliados pela CAPES pode render a pesquisadores locais boas posições em suas carreiras acadêmicas no Brasil. Ou seja, a autotradução acadêmica pode vir a apresentar consequências dentro do país de origem do pesquisador. Como mostramos em nossas pesquisas sobre a autotradução tal como praticada por João Ubaldo Ribeiro (Antunes, 2009), a atividade pode trazer resultados ao autor que traduz o próprio texto dentro do polissistema ao qual ele pertence.

6. Conclusão

Este estudo sobre a autotradução acadêmica apresenta reflexões inéditas sobre esta área do saber no Brasil. Como demonstramos, este tipo de autotradução vincula-se ao processo de internacionalização e, de maneira mais específica, à publicação de periódicos acadêmicos. Acreditamos que a autotradução acadêmica é, de maneira geral, um processo oculto, excetuando-se o caso dos dois periódicos que destacamos neste artigo: o Bakhtiniana e o Ecos de Linguagem, que teve sua última publicação em 2018.

Podemos destacar, a partir da tipologia de Verena Jung (2002), dois outros aspectos, o suporte e a modalidade, que nos oferecem pontos de partida para aprofundar o estudo da autotradução. A metodologia empregada, a saber, o estudo de caso e as entrevistas semiestruturadas, revelou-se fundamental para que a tipologia de Jung fosse expandida, como se pensou possível em estudo anterior (Antunes, 2009).

Sublinhamos os aspectos realçados pelo caso aqui investigado: o resumo como tipo de texto que, ao que tudo indica, concentra o maior número de autotraduções, mas que ao mesmo tempo é totalmente opaco. Parece natural traduzir resumos sem afirmar que a atividade de tradução ocorre. É um terreno amplo e aberto à investigação. A primeira questão que se coloca, a nosso ver, é desvendar quem é o responsável pela tradução: um humano ou uma máquina.

O segundo ponto realçado nesta investigação é o processo de autotradução. Karen Bennett (2020) trata da questão dos muitos agentes que participam do processo de disseminação do conhecimento e que pressionam o questionamento do termo autotradução, já que o termo em si sugere dois participantes. O caso do periódico Ecos, contudo, indica a participação de outros agentes, tais como estagiários, revisores em formação na universidade pública. Por conseguinte, a publicação do periódico pode ser espaço de formação para agentes linguísticos, mas pode reunir também agentes outros, de origens diversas, tais como web designers, por exemplo, se pensarmos em publicações digitais. Em um momento de poucos recursos humanos e financeiros, a política universitária precisa ser pensada no sentido de alocar com sabedoria os parcos recursos disponíveis. Investir na formação de equipe que reúna pesquisadores, técnicos e estagiários de áreas distintas pode significar uma solução muito satisfatória, econômica e criativa.

Esta pesquisa ressalta também a dificuldade de qualquer estudo sobre a autotradução acadêmica que reside no fato de que há, na grande maioria dos periódicos acadêmicos publicados, pouquíssimos registros acerca da autoria da tradução. É imperiosa a conscientização de editores sobre a necessidade de anotação em nota de pé de página, ao início ou ao fim do texto, dos nomes dos agentes linguísticos e acadêmicos envolvidos no processo de tradução e revisão do texto, para citar apenas os agentes vistos como principais.

Frisamos ainda o limite que o conceito de autotradução adotado pode significar para uma pesquisa sobre o tema. Se concebemos a autotradução acadêmica como a tradução para outra língua de um texto de especialidade executada pelo autor-pesquisador que o escreveu originalmente, deixaremos de fora de nosso alcance boa parte dos textos escritos em língua estrangeira que passam por um algum processo de “tradução interna” ou “autotradução”, como mostra entre aspas Leo Tak-hung Chan (2016, p. 153). Optamos por observar o processo de tradução pelo próprio autor de um texto de especialidade por ele escrito para outra língua. Ou seja, trabalhamos com a existência de dois textos escritos em razão dos objetivos do projeto que investiga o papel da tradução na difusão da ciência. Nossa opção significa que o processo sob investigação em um projeto e seus objetivos determinam a definição e a descrição de autotradução adotada.

Apontamos para os caminhos futuros deste projeto que investiga a disseminação do conhecimento via tradução ao longo dos séculos. Até aqui, detectamos o uso da autotradução como estratégia em periódicos bilíngues. Segundo os pesquisadores-autotradutores, a publicação lado a lado inibe alterações no texto autotraduzido. Além desses, há, por exemplo, os textos publicados nos periódicos plurilíngues não disponibilizados lado a lado. Pretendemos averiguar até que ponto o tipo de suporte pode inibir (ou não) alterações. O projeto que investiga o papel da tradução na propagação do conhecimento prevê em seguida a comparação entre textos autotraduzidos publicados em tipos diferentes de suporte.

Finalmente, destacamos a necessidade de uma investigação mais ampla e profunda sobre o fenômeno da tradução em geral e da autotradução em particular. Parece-nos relevante que se conheça e destaque, com maior clareza, o papel que essas atividades exercem em vários dos estágios do processo de disseminação do conhecimento.

Referências

Alcapidani, R. (2017). Periódicos brasileiros em inglês: a mímica do Publish or perish “global”. Perspectivas, 57(4), 405-411. https://doi.org/10.1590/s0034-759020170410

R. Alcapidani 2017Periódicos brasileiros em inglês: a mímica do Publish or perish “global”Perspectivas574405411https://doi.org/10.1590/s0034-759020170410

Anselmi, S. (2012). On self-translation. An exploration in self-translators’ teloi and strategies. Edizioni Universitarie di Lettere Economia Diritto.

S. Anselmi 2012On self-translation. An exploration in self-translators’ teloi and strategiesEdizioni Universitarie di Lettere Economia Diritto

Antunes, M. A. G. (2009). O respeito pelo original: João Ubaldo Ribeiro e a autotradução. Annablume Editora.

M. A. G. Antunes 2009O respeito pelo original: João Ubaldo Ribeiro e a autotraduçãoAnnablume Editora

Arrojo, R. (1992). Tradução. Em José Luis Jobim (Ed.), Palavras da Crítica (pp. 411-442). Imago.

R. Arrojo 1992Tradução José Luis Jobim Palavras da Crítica411442Imago

Bakhtin, M. (2003). Estética da criação verbal (P. Bezerra, Trad.). Martins Fontes.

M. Bakhtin 2003Estética da criação verbal P. Bezerra Martins Fontes

Bennett, K. (2020). Authorship and (self-)translation in academic writing: Towards a genetic approach. In A. Nunes, J. Moura, & M. P. Pinto (Eds.), Genetic Translation Studies. Conflict and Collaboration in Liminal Spaces (pp. 279-301). Bloomsbury Academic. https://doi.org/10.5040/9781350146846.ch012

K. Bennett 2020Authorship and (self-)translation in academic writing: Towards a genetic approach A. Nunes J. Moura M. P. Pinto Genetic Translation Studies. Conflict and Collaboration in Liminal Spaces279301Bloomsbury Academichttps://doi.org/10.5040/9781350146846.ch012

Canagarajah, A. S. (2002). A geopolitics of academic writing. University of Pittsburgh Press. https://doi.org/10.2307/j.ctt5hjn6c

A. S. Canagarajah 2002A geopolitics of academic writingUniversity of Pittsburgh Presshttps://doi.org/10.2307/j.ctt5hjn6c

CAPES. (2016, Setembro 29-30). Critérios de classificação por estratos - Qualis/CAPES. http://pensaraeducacaoemrevista.com.br/wp-content/uploads/2016/11/sintese-dos-critc3a9rios-por-area-da-capes.pdf

CAPES 2016Critérios de classificação por estratos - Qualis/CAPEShttp://pensaraeducacaoemrevista.com.br/wp-content/uploads/2016/11/sintese-dos-critc3a9rios-por-area-da-capes.pdf

Carvalho, F. F. (2010). Padrões de organização textual e lexicogramatical do gênero acadêmico resumo de tese: um estudo de caso. Trabalhos em Linguística Aplicada, 49(1), 115-128. https://doi.org/10.1590/S0103-18132010000100009

F. F. Carvalho 2010Padrões de organização textual e lexicogramatical do gênero acadêmico resumo de tese: um estudo de casoTrabalhos em Linguística Aplicada491115128https://doi.org/10.1590/S0103-18132010000100009

Chan, L. T. (2016). Beyond non-translation and “self-translation”. English as lingua academica in China. Translation and Interpreting Studies, 11(2), 152-176. https://doi.org/10.1075/tis.11.2.02cha

L. T. Chan 2016Beyond non-translation and “self-translation”. English as lingua academica in ChinaTranslation and Interpreting Studies112152176https://doi.org/10.1075/tis.11.2.02cha

Danks, J. H. & Griffin, J. (1997). Reading and translation: a psycholinguistic perspective. In J. H. Danks, G. M. Shreve, S. B. Fountain, & M. K. McBeath (Eds.), Cognitive processes in translation and interpreting (pp. 161-175). Sage Publications.

J. H. Danks J. Griffin 1997Reading and translation: a psycholinguistic perspective J. H. Danks G. M. Shreve S. B. Fountain M. K. McBeath Cognitive processes in translation and interpreting161175Sage Publications

Dasilva, X. M. (2011). La autotraducción transparente y la autotraducción opaca. En X. M. Dasilva y H. Tanqueiro (Eds.), Aproximaciones a la autotraducción (pp. 45-67). Editorial Academia del Hispanismo.

X. M. Dasilva 2011La autotraducción transparente y la autotraducción opaca X. M. Dasilva H. Tanqueiro Aproximaciones a la autotraducción4567Editorial Academia del Hispanismo

Dasilva, X. M. (2016). En torno al concepto de semiautotraducción. Quaderns, 23, 15-35.

X. M. Dasilva 2016En torno al concepto de semiautotraducciónQuaderns231535

Ecos de Linguagem. (2021). Política editorial. http://www.dialogarts.uerj.br/php/peditorial.php

Ecos de Linguagem 2021Política editorialhttp://www.dialogarts.uerj.br/php/peditorial.php

Ehrlich, S. (2009). Are self-translators like other translators? Perspectives: Studies in Translatology, 17(4), 243-255. https//doi.org/10.1080/09076760903404050

S. Ehrlich 2009Are self-translators like other translators?Perspectives: Studies in Translatology174243255https//doi.org/10.1080/09076760903404050

Finardi, K. R. & França, C. (2016). O inglês na internacionalização da produção científica brasileira: evidências da subárea de Linguagem e Linguística. Intersecções, 19(2), 234-250.

K. R. Finardi C. França 2016O inglês na internacionalização da produção científica brasileira: evidências da subárea de Linguagem e LinguísticaIntersecções192234250

Fortes, R. (2016). Política científica no Brasil: dilemas em torno da internacionalização e do inglês. Interfaces Brasil/Canadá, 16(1), 142-180.

R. Fortes 2016Política científica no Brasil: dilemas em torno da internacionalização e do inglêsInterfaces Brasil/Canadá161142180

Guédon, J. C. (2010). Acesso aberto e divisão entre ciência predominante e ciência periférica. Em S. M. S. P. Ferreira, e M. G. Targino (Eds.), Acessibilidade e visibilidade de revistas científicas eletrônicas (pp. 21-77). Senac.

J. C. Guédon 2010Acesso aberto e divisão entre ciência predominante e ciência periférica S. M. S. P. Ferreira M. G. Targino Acessibilidade e visibilidade de revistas científicas eletrônicas2177Senac

Grutman, R. (2013). Beckett and beyond putting self-translation in perspective. Orbis Litterarum, 68(3), 188-206. https://doi.org/10.1111/ oli.12022

R. Grutman 2013Beckett and beyond putting self-translation in perspectiveOrbis Litterarum683188206https://doi.org/10.1111/ oli.12022

Hatim, B. & Mason, I. (1990). Discourse and the translator. Longman.

B. Hatim I. Mason 1990Discourse and the translatorLongman

Jung, V. (2002). English-German self-translation of academic texts and its relevance for translation theory and practice. Peter Lang.

V. Jung 2002English-German self-translation of academic texts and its relevance for translation theory and practicePeter Lang

Kilian, C. K. & Loguercio, S. D. (2015). Fraseologias de gênero em resumos científicos de linguística, engenharia de materiais e ciências econômicas. TradTerm, 26, 241-267. https://doi.org/10.11606/issn.2317-9511. v26i0p241-267

C. K. Kilian S. D. Loguercio 2015Fraseologias de gênero em resumos científicos de linguística, engenharia de materiais e ciências econômicasTradTerm26241267https://doi.org/10.11606/issn.2317-9511. v26i0p241-267

Kovacs, G. (2018). The significance of developing reading skills in translator and language teacher training. New Trends and Issues Proceedings on Humanities and Social Sciences, 5(3), 155-164. https://doi.org/10.18844/prosoc.v5i3.3920

G. Kovacs 2018The significance of developing reading skills in translator and language teacher trainingNew Trends and Issues Proceedings on Humanities and Social Sciences53155164https://doi.org/10.18844/prosoc.v5i3.3920

Manterola Agirrezabalaga, E. (2017). Collaborative self-translation in a minority language: Power implications in the process, the actors and the literary systems involved. In O. Castro, S. Mainer, & S. Page (Eds.), Self-Translation and power. Palgrave Macmillan. https://doi.org/10.1057/978-1-137-50781-5_9

E. Manterola Agirrezabalaga 2017Collaborative self-translation in a minority language: Power implications in the process, the actors and the literary systems involved O. Castro S. Mainer S. Page Self-Translation and powerPalgrave Macmillanhttps://doi.org/10.1057/978-1-137-50781-5_9

Marcuschi, L. A. (2003). A questão do suporte dos gêneros textuais. DLCV (Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas), 1(1), 9-40.

L. A. Marcuschi 2003A questão do suporte dos gêneros textuaisDLCV (Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas)11940

Massarani, L. (2015). Voices from other lands. Public Understanding of Science, 24(1), 2-5. https://doi.org/10.1177/0963662514563888

L. Massarani 2015Voices from other landsPublic Understanding of Science24125https://doi.org/10.1177/0963662514563888

Newmark, P. (1988). A textbook of translation. Prentice Hall.

P. Newmark 1988A textbook of translationPrentice Hall

Nord, C. (2010). Functionalist approaches. In Y. on Gambier & L. v. Doorslaer (Eds.), Handbook of translation studies (pp. 120-128). John Benjamins https://doi.org/10.1075/hts.1.fun1

C. Nord 2010Functionalist approaches Y. on Gambier L. v. Doorslaer Handbook of translation studies120128John Benjaminshttps://doi.org/10.1075/hts.1.fun1

Ortiz, R. (2004). As ciências sociais e o inglês. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 19(54), 5-23. https://doi.org/10.1590/S0102-69092004000100001

R. Ortiz 2004As ciências sociais e o inglêsRevista Brasileira de Ciências Sociais1954523https://doi.org/10.1590/S0102-69092004000100001

Palmieri, G. (2017). Oral self-translation of standup comedy and its (mental) text: a theoretical model. Humor, 30(2), 193-210. https://doi.org/10.1515/humor-2016-0092

G. Palmieri 2017Oral self-translation of standup comedy and its (mental) text: a theoretical modelHumor302193210https://doi.org/10.1515/humor-2016-0092

Passini, M. A. T. (2018a). Internacionalizar a produção acadêmico-científica brasileira: uma questão de língua, tradução e discurso [Tese de doutorado]. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

M. A. T. Passini 2018aInternacionalizar a produção acadêmico-científica brasileira: uma questão de língua, tradução e discursodoutoradoUniversidade Federal do Rio Grande do Sul

Passini, M. A. T. (2018b). Translation and visibility in scientific communication in multilingual context. In S. Albuquerque, T. Ferreira, M. F. Nunes, A. C. Matos, & A. Candeias (Eds.), Web of Science. A look into the past, embracing the future (pp. 125-128). Sílabas & Desafios.

M. A. T. Passini 2018bTranslation and visibility in scientific communication in multilingual context S. Albuquerque T. Ferreira M. F. Nunes A. C. Matos A. Candeias Web of Science. A look into the past, embracing the future125128Sílabas & Desafios

Pisanski Peterlin, A. (2019). Self-translation of academic discourse: the attitudes and experiences of authors-translators. Perspectives, 27(6), 846-860. https://doi.org/10.1080/0907676X.2018.1538255

A. Pisanski Peterlin 2019Self-translation of academic discourse: the attitudes and experiences of authors-translatorsPerspectives276846860https://doi.org/10.1080/0907676X.2018.1538255

Pokorn, N. K. (1998). Translation into a non-mother tongue in translation theory. In A. Chesterman, N. S. San Salvador, & Y. Gambier (Eds.), Translation in context: selected contributions from the est congress (pp. 61-72). Benjamins Translation Library. https://doi.org/10.1075/btl.39.09pok

N. K. Pokorn 1998Translation into a non-mother tongue in translation theory A. Chesterman N. S. San Salvador Y. Gambier Translation in context: selected contributions from the est congress6172Benjamins Translation Libraryhttps://doi.org/10.1075/btl.39.09pok

Popovič, A. (1975). Dictionary for the analysis of literary translation. University of Alberta.

A. Popovič 1975Dictionary for the analysis of literary translationUniversity of Alberta

Pym, A. (1998). Method in translation history. St. Jerome.

A. Pym 1998Method in translation historySt. Jerome

Ribeiro, J. U. (1990). Suffering in translation. P.T.G. Newsletter, Portuguese translation group, 3(3), 3-4.

J. U. Ribeiro 1990Suffering in translationP.T.G. Newsletter, Portuguese translation group3334

Salager-Meyer, F. (2014). Writing and publishing in peripheral scholarly journals: How to enhance the global influence of multilingual scholars? Journal of English for Academic Purposes, 30(13), 15-36. https://doi.org/10.1016/j.jeap.2013.11.003

F. Salager-Meyer 2014Writing and publishing in peripheral scholarly journals: How to enhance the global influence of multilingual scholars?Journal of English for Academic Purposes30131536https://doi.org/10.1016/j.jeap.2013.11.003

Serra, P. (2013). Digitalização e acesso aberto na publicação em Ciências da Comunicação: o caso português. Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, 36(2), 91-104. https://doi.org/10.1590/S1809-58442013000200005

P. Serra 2013Digitalização e acesso aberto na publicação em Ciências da Comunicação: o caso portuguêsIntercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação36291104https://doi.org/10.1590/S1809-58442013000200005

Silva, J. Q. G. e Mata, M. A. da. (2002). Proposta tipológica de resumos: um estudo exploratório das práticas de ensino da leitura e da produção de textos acadêmicos. Scripta, 6(11), 123-133.

J. Q. G. Silva M. A. da. Mata 2002Proposta tipológica de resumos: um estudo exploratório das práticas de ensino da leitura e da produção de textos acadêmicosScripta611123133

Tanqueiro, H. (2002). Autotradução: autoridade, privilégio e modelo. [Tese de Doutorado]. Universidade Autônoma de Barcelona.

H. Tanqueiro 2002Autotradução: autoridade, privilégio e modeloDoutoradoUniversidade Autônoma de Barcelona

Van Bonn, S., & Swales, J. M. (2007). English and French journal abstracts in the language sciences: Three exploratory studies. Journal of English for Academic Purposes, 6, 93-108. https://doi.org/10.1016/j.jeap.2007.04.001

S. Van Bonn J. M. Swales 2007English and French journal abstracts in the language sciences: Three exploratory studiesJournal of English for Academic Purposes693108https://doi.org/10.1016/j.jeap.2007.04.001

Wanner, A. (2020). The bilingual muse: Self-translation among Russian poets. Northwestern University Press. https://doi.org/10.2307/j.ctv10vkztg

A. Wanner 2020The bilingual muse: Self-translation among Russian poetsNorthwestern University Presshttps://doi.org/10.2307/j.ctv10vkztg

Washbourne, K. (2012). Active, strategic reading for translation trainees: Foundations for transactional methods. The International Journal for Translation & Interpreting Research, 4(1), 38-55.

K. Washbourne 2012Active, strategic reading for translation trainees: Foundations for transactional methodsThe International Journal for Translation & Interpreting Research413855

Weigel, S. (2019). Self-translation and its discontents. In M. T. Costa & H. C. Hönes (Eds.), Migrating histories of art. Self-translations of a discipline (pp. 21-35). De Gruyter. https://doi.org/10.1515/9783110491258-003

S. Weigel 2019Self-translation and its discontents M. T. Costa H. C. Hönes Migrating histories of art. Self-translations of a discipline2135De Gruyterhttps://doi.org/10.1515/9783110491258-003

[2]Entre 2012 e 2018, o periódico Ecos de Linguagem publicou sete números: um número bilíngue em português/italiano, um em português/francês, além de três em português/espanhol, um português/inglês e um português/alemão.

[3]Em nossa busca, usamos os adjetivos em inglês em virtude da crença no papel do inglês enquanto língua franca da ciência como já mencionamos anteriormente. A Bibliography traz referências em vários idiomas, além daqueles considerados centrais, tais como o inglês, o francês e o alemão.

[4]Todos os entrevistados são mantidos no anonimato. Para a manutenção do mesmo, utilizo tão somente a primeira letra do nome do entrevistado.

[5] Financial disclosureEste artigo é parte de projeto intitulado “A disseminação do conhecimento via tradução ao longo dos séculos”, apoiado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Teve início em julho, 2020 e tem previsão de término para julho, 2022.

[6]Como citar este artigo: Antunes, M. A. (2022). Autotradução acadêmica: o caso da produção publicada no periódico acadêmico periférico plurilíngue Ecos de Linguagem. Mutatis Mutandis, Revista Latinoamericana de Traducción, 15(1), 167-188. https://doi.org/10.17533/udea.mut.v15n1a10