A Voz da Infância: um jornal escrito para as crianças pelas crianças, 1936-1948
Patricia Tavares Raffaini
De repente as palavras vestem seus disfarces e num piscar de olhos estão envolvidas em batalhas, cenas de amor e pancadarias. Assim as crianças escrevem, mas assim elas também leem seus textos.
Walter Benjamin, Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação
Durante os anos 30 e 40 do século XX o índice de analfabetos do Brasil era ainda muito elevado —mais da metade da população não sabia ler nem escrever. Apesar do crescimento do número de escolas primárias durante essas décadas, o censo de 1940 revela que somente 21% das crianças entre 5 a 19 anos as frequentavam. O estado e a cidade de São Paulo, apesar de apresentarem números um pouco mais alentadores no que diz respeito à alfabetização e à escolarização, não ficavam muito à frente dos outros. Como exemplo, temos o número de crianças matriculadas em 1934 nas escolas primárias em todo o estado: somente 431.383, enquanto mais de 700.000 crianças em idade escolar ficavam fora da escola. Dado esse quadro, não é de se estranhar a quase inexistência de bibliotecas públicas no estado e na capital. A Biblioteca Pública Municipal, que atendia prioritariamente o público adulto, criada em 1925 no centro da cidade, era a única existente na capital até a criação da Biblioteca Infantil na Vila Buarque, bairro vizinho à região central.
A Biblioteca Infantil foi criada em abril de 1936 durante a gestão de Mário de Andrade como diretor do Departamento de Cultura da cidade de São Paulo. Sua primeira diretora foi a educadora Lenyra Fraccaroli, que concebeu o projeto e o colocou em funcionamento.1 A Biblioteca Infantil foi primeiramente instalada em uma casa na rua Major Sertório, n. 690, no bairro de Vila Buarque. A casa adaptada tinha salas para a leitura de livros e revistas, assim como uma sala para festas e jogos, além de uma criada especialmente para a projeção de filmes. As atividades que as crianças poderiam realizar iam além da leitura e empréstimo de livros e revistas: havia uma sala destinada aos jogos de tabuleiro, como o xadrez e damas, além de uma coleção de gravuras que poderiam ser copiadas. A “Hora do Conto”, organizada por Lenyra, promovia o encontro das crianças com importantes escritores de livros infanto-juvenis, como Monteiro Lobato (1882-1948), Thales de Andrade (1890-1977) e Malba Tahan, pseudônimo de Júlio César de Mello e Souza (1895-1974), que narravam para uma plateia atenta algumas de suas histórias. A sala adaptada para a projeção de filmes exibia fitas comerciais, principalmente, de Walt Disney e Shirley Temple. A escolha de filmes atrativos, como os de Disney, tinha uma razão: estimular a frequência da biblioteca e também o empréstimo e a leitura dos livros, pois apenas os consulentes que tivessem retirado dois ou três livros durante a semana poderiam ganhar ingressos para os filmes, que eram, aliás, concorridíssimos, como vemos pelas Figuras 1 e 2.
Mas quem eram as crianças que frequentavam a biblioteca? No Acervo de Bibliografia e Documentação, ainda estão preservadas as fichas de inscrição dos consulentes, que trazem informações sobre as crianças: nome, idade, endereço, e também de seus pais, se eram estrangeiros e que profissões exerciam, assim como o número de irmãos e suas idades. As fichas revelam que a maioria dos consulentes residia nas imediações da biblioteca, principalmente no bairro de Vila Buarque, e que eram, em sua maioria, filhas de uma camada de profissionais liberais ou funcionários públicos. No entanto, temos também filhos de vendedores ambulantes, motoristas e operários.
Sobre a origem socioeconômica das crianças frequentadoras da Biblioteca, um artigo publicado na Revista do Arquivo Municipal, em fevereiro de 1940, analisa as profissões dos pais e os bairros de onde as crianças eram provenientes. A pesquisa pretendia verificar se os frequentadores da Biblioteca eram de origem operária ou não. Tendo sido realizada em 1938, baseou-se nos dados de 500 crianças e foi publicada com o título “Condições econômicas dos pais das crianças que frequentam a Biblioteca Infantil”.2 A pesquisa separava as profissões em três categorias: A (consideradas operárias, como: açougueiro, alfaiate, jardineiro, mecânico, motorista, pedreiro, sapateiro, entre outras), B (considerada não operária, como: caixa de banco, chefe de trem, comerciante, escriturário, guarda-livros, inspetor da polícia, repórter, tipógrafo, entre outras) e C (também não operária, mas com remuneração maior, como: advogado, boticário, contador, cirurgião, dentista, professor, proprietário, entre outras). Ao se cruzar a informação das profissões dos pais com a dos bairros onde residiam, chegou-se à informação de que 34% das crianças tinham origem operária e 66% eram de origem não operária. Como vemos, o fato de a Biblioteca localizar-se no bairro de Vila Buarque foi muito importante na determinação de quem era majoritariamente seu público, pois o bairro, assim como os adjacentes —Centro, Consolação e Campos Elíseos— era ocupado por uma classe social mais abastada.
A pesquisa não menciona que as crianças provenientes das classes sociais mais humildes, além de não terem uma escolarização regular, não podendo assim constituir um público leitor, quando eram alfabetizadas e tinham interesse em frequentar a Biblioteca, não poderiam fazê-lo, pois em grande parte começavam a trabalhar cedo. Como o horário de funcionamento da Biblioteca era restrito, poucas eram as crianças e jovens que, trabalhando, conseguiam ainda frequentá-la. Mesmo assim, aparecem, ainda que tragicamente, no jornal A Voz da Infância, registros de leitores que já trabalhavam, como no caso de José Corrêa de Toledo:
Lamentável. Na tarde de 21 de novembro, quando voltava do serviço, foi vítima de um desastre fatal, o menino José Correa de Toledo, frequentador assíduo da Biblioteca.
Um automóvel que vinha em desabalada corrida, o acolheu sob suas rodas na rua da Consolação, fraturando-lhe o crâneo e ocasionando sua morte, momentos depois na Santa Casa.
Esse menino trabalhador, estudioso e bom sentia-se feliz, quando podia roubar alguns momentos de seu trabalho para se deliciar com os nossos livros e... com o nosso cinema.3
Em janeiro de 1943, temos uma estatística publicada na Voz da Infância que nos revela mais algumas características do público que frequentava a Biblioteca Infantil. Durante o ano de 1942 haviam sido inscritas 1.217 crianças, sendo 880 meninos e 337 meninas. A grande maioria dos frequentadores era brasileira, sendo apenas 55 o número de crianças estrangeiras. A faixa etária mais presente é dos 9 aos 14 anos. Os bairros com maior número de consulentes eram Vila Buarque, Bela Vista, Campos Elíseos, Santa Cecília, Bom Retiro e Consolação, bairros centrais da cidade, próximos à Biblioteca onde predominavam as classes média e alta.4
Temos assim, a partir dos dados das pesquisas publicadas no próprio jornal infantil, bem como nos das fichas de inscrição na Biblioteca, uma ideia de quem eram as crianças frequentadoras. É interessante notar que, na estatística publicada pela A Voz da Infância, o número de meninas é duas vezes menor do que o de meninos. As razões para essa diferença não puderam ser explicadas pela documentação; no entanto, essa porcentagem parece refletir a condição da mulher durante o período —principalmente nas camadas médias da população, as meninas eram educadas para trabalharem no lar e tinham relativamente pouca autonomia fora do ambiente doméstico. Podemos imaginar, assim, que as meninas nas décadas de 1930 e 1940 não costumavam circular sozinhas pela cidade, limitando a possibilidade de frequentarem a Biblioteca. O fato de não ser permitida ali a entrada dos pais talvez fosse um dos motivos para que várias meninas não a frequentassem. Não podemos esquecer ainda que, nesse período, as classes escolares de Grupos e Ginásios eram separadas por sexo, e talvez alguns pais não vissem com bons olhos meninos e meninas convivendo em um único espaço, por vezes compartilhando uma mesma mesa. Desta forma, a presença de meninas na redação da A Voz da Infância foi menor que a dos meninos: do total de 368 participantes do jornal de 1936 a 1950, 114 eram meninas, enquanto 254 eram meninos (Figura 3).5 Outro dado importante que as fichas de inscrição dos frequentadores nos revelam é que muitos irmãos frequentavam juntos a Biblioteca, assim como também participavam juntos da confecção do jornal, como no caso dos irmãos Henrique e Mário Capuani, Lélia e Ligia Silva Kuntz Busch e Victor e Moisés Nussenzveig, para citar alguns nomes sempre presentes.6
O jornal A Voz da Infância possuía cerca de dez páginas mimeografadas, em azul ou preto. A partir do número 102, de dezembro de 1944, temos a publicação sendo realizada em quatro cores, mas, provavelmente pela dificuldade do processo, essa impressão, apesar de atraente, foi abandonada alguns números depois. Como nos mostram os documentos existentes no acervo da biblioteca, o jornal era totalmente feito pelos frequentadores, da escolha das matérias à impressão em mimeógrafo. Em um primeiro momento, a diretoria do jornal, que era escolhida anualmente por votação pelos frequentadores da Biblioteca e reunia membros de 12 a 18 anos, estabelecia quais artigos, contos, piadas e desenhos fariam parte do número a ser publicado. Essas reuniões estão documentadas, pois as crianças faziam uma ata para cada uma delas.7 Depois de determinada a pauta, os membros da diretoria revisavam e datilografavam em uma máquina de escrever da própria Biblioteca todo o seu conteúdo. Seguindo um determinado padrão, montavam então todo o jornal com os desenhos e charadas, para em seguida utilizarem-se do mimeógrafo, comprado pela Biblioteca para esta finalidade (Figura 4). Como o conteúdo passava por todo um processo de seleção, edição e revisão feito pelos membros da diretoria, que já possuíam domínio da escrita, são pouquíssimos os erros ortográficos ou de coesão nos artigos do jornal. As cópias eram então vendidas para os frequentadores e o dinheiro arrecadado era utilizado na compra de material para a publicação de novos números (Figura 5).
No início de nossa pesquisa, imaginávamos que o jornal tinha uma supervisão atenta dos adultos que trabalhavam na instituição. Contudo, no decorrer dos trabalhos, fomos percebendo que a escrita era mesmo das crianças; talvez os adultos da instituição sugerissem algum tema, como o do primeiro número, que aborda Carlos Gomes, mas a pesquisa, a escrita e a ilustração das matérias eram feitas na sua totalidade pelos frequentadores. Isso ficou mais evidente quando analisamos as cartas que as crianças escreviam entre elas e que foram publicadas pelo jornal, assim como as atas e outros documentos relativos ao periódico. Aqui percebemos que a participação infantil era intensa, apesar de dialogada principalmente com a direção da Biblioteca.
De junho de 1936 a dezembro de 1948, o jornal saiu regularmente todos os meses, tendo por volta de 10 páginas, todas com desenhos e ilustrações. A Voz da Infância seguia em parte o modelo das revistas voltadas à infância que circulavam no período, como O Tico-Tico.8 Possuía uma “Folha Charadística”, palavras cruzadas, alguns quadrinhos, pequenas narrativas sobre heróis e personalidades brasileiras. No entanto, não eram aceitos desenhos, charadas ou mesmo contos plagiados de outras revistas —nas atas ficava explícito o cuidado que as crianças tinham para que o material publicado fosse inédito.
Tomemos um número como exemplo do que era publicado. O segundo número do jornal se inicia com uma entrevista feita por dois membros da diretoria, Benedito Mendes e Gastão Gorenstein, a Monteiro Lobato.9 Logo no início, quando Benedito Mendes começa sua pergunta, Lobato pede para que a criança “não fale complicado assim senão eu não entendo”. A entrevista aborda vários pontos: os personagens, o livro Emília no País da Gramática, e trata da polêmica opinião de Lobato com relação à acentuação das palavras. Ao final, os meninos pedem a Lobato uma sugestão de como os frequentadores da Biblioteca poderiam lhe fazer uma homenagem. E Lobato responde: “—Nada mais fácil. Mandem-me de presente uma dúzia de laranjas tangerinas, daquelas graúdas, de casca bem solta. Que fruta boa a laranja, hein?” E a entrevista termina com o comentário revelador: “Apesar de toda a solenidade de Mendes e Gorenstein os olhinhos deles brilharam —e veio-lhes água na boca. Por mais que a gente se finja de gente grande, só a lembrança de uma laranja cravo já crianciza a gente...”10
Nessa frase final fica evidente que as duas crianças tinham consciência de que estavam tentando parecer mais velhas e maduras durante a entrevista do que naturalmente eram. Quando Lobato menciona as laranjas com as quais deveria ser feita a homenagem, eles finalmente se comportam como as crianças que realmente eram.
Logo em seguida à entrevista temos a ilustração de uma menina lendo em uma mesa, com a estante de livros da Biblioteca atrás. Muitos desenhos veiculados no jornal retratavam crianças lendo, ou mesmo como o desenho da página seguinte, que mostra um homem desanimado e triste com um papel na mão no qual está escrito “Despedido por não saber ler”. O homem se lembra dele ainda menino no colo da mãe, que pedia que ele estudasse. Em vários dos desenhos encontrados em A Voz da Infância, temos essa ênfase na leitura e nas consequências indesejáveis que a falta de estudo acarreta. Outros desenhos retratam personagens de obras infantis, assim como seus criadores. Somente a partir do quarto número é que temos a criação de histórias ilustradas, que aos poucos vão se transformando em quadrinhos propriamente ditos. Durante a década de 1940 temos colaboradores que eram excelentes desenhistas criando personagens e histórias que foram publicadas em números seguidos, como Hamilton de Souza (Figuras 6 e 7).
A importância do estudo e da leitura é bastante frequente no discurso dos colaboradores, assim como também se valoriza a criança que trabalha, mas não deixa com isso de se instruir. O relato, já mencionado, sobre o acidente fatal ocorrido com uma das crianças que frequentava a Biblioteca é revelador.
Em muitos números do jornal fica evidente a importância dada ao estudo e ao trabalho. Às vezes uma redação valoriza aquele que, não tendo recursos materiais, se esforça para estudar, ou por vezes criticam-se as crianças que, sendo ricas, não se esforçam nos estudos. Toda essa mentalidade de valorização do estudo e da ascensão social com base no trabalho foi abordada na tese de doutorado intitulada “A Formação de uma Geração” de Azilde Andreotti.11 A autora analisa também outros pontos recorrentes na escrita do jornal A Voz da Infância, como a visão na qual, por meio da escola, a pátria seria engrandecida e a nação, fortalecida.
Em todo o percurso do jornal vemos que comentários e apreciações literárias estavam sempre presentes. Ainda no segundo número temos o artigo “Livros”, escrito por Lygia Caropreso, em que a colaboradora comenta suas preferências literárias:
Eu fui e ainda sou uma grande leitora. Leio muito e sempre com crescente prazer. [...] Quando era menor, dedicava às leituras de livros fantásticos, contos de fadas etc.
Depois com meu crescimento em instrução comecei a desdenhar esses livros para gostar dos livros mais reais. Destes os que mais gostei, e ainda gosto são: ‘Desastres de Sofia’ e todos os livros da Condessa de Segur. 4 raparigas, Colégio da Ameixoeira, Alguns anos depois e Rapazes de Maria João, todos eles de Maria Paula Azevedo. Destas obras gostei tanto, que li três ou quatro vezes cada exemplar [...].
Eu tenho pena dos que não gostam de ler. Esses, que infelizmente são em grande número, nunca poderão sair dos limites de um pensamento material, sem conhecerem os tesouros que encerra a imaginação. Mas não é só a leitura de contos, de revistas, de histórias que devem entreter nosso pensamento. A narrativa de viagens bem escritas, poderão auxiliar-nos muito no estudo da Geografia. [...]
E é por isso caros leitores que eu digo: Leiam, que não se arrependerão.
Mas leiam livros escolhidos, como são os que existem na “Biblioteca Infantil”.12
O artigo escrito pela menina Lygia, de catorze anos, é bastante revelador. A leitora diz ter iniciado seu percurso de leitura com os contos de fadas e outras obras “fantásticas”, que aqui parece designar livros em que um universo onírico e de fantasia está presente, passando, na medida em que crescia, para obras “mais reais”, ou seja, livros em que os personagens vivem situações cotidianas, que poderiam acontecer de fato. Destes últimos, os preferidos pela menina são os livros da Condessa de Ségur e de uma autora portuguesa, Maria Paula Azevedo, sendo que esses últimos foram relidos três ou quatro vezes.13 Aqui, como também aparece em outros artigos do jornal, os leitores releem as obras inúmeras vezes, não por não terem acesso a outras obras, mas por apreciarem muito determinados livros. Tendo consciência de que está escrevendo para um público, a articulista termina seu texto aconselhando a leitura, mas não qualquer uma: a leitura de livros “escolhidos, como são os que existem na Biblioteca Infantil”.
Notícias sobre o cotidiano da cidade eram também muito frequentes no jornal e, por meio delas, podemos ter uma ideia de como a criança percebia o meio urbano e também seu cotidiano. Ainda no segundo número da revista, temos uma notícia escrita por Eleonora Cardoso, de treze anos, sobre a Corrida Automobilística realizada em São Paulo. Nesta matéria a menina relata um acidente ocorrido com um dos carros que participava da corrida, que resultou na morte e ferimento de muitos espectadores. Aliás, um dos assuntos que aparecem com assiduidade nas páginas do jornal infantil é o atropelamento de crianças por carros ou mesmo bondes. Até mesmo na seção de piadas do jornal encontramos o assunto: “Na classe: A professora —Um sinônimo de ambulância. Pedrinho —Um carro que salva um e mata três”.
Esse também foi um assunto abordado pela resenha do livro O Pequeno Pedestre, de Vicente Guimarães. A autora da resenha, Wilma Leite Silva, de dez anos, indica a leitura deste livro como forma de se evitar os acidentes e atropelamentos:
Nós as crianças ao atravessarmos a rua devemos sempre olhar de todos os lados. Quantos pais trazem os corações enlutados por terem perdido seus filhos por um simples descuido dos mesmos.
Ás vezes a culpa é do motorista, porém a maior parte das vezes é a falta de cuidado do pedestre.
Quantos acidentes poderiam ser evitados lendo: ‘O Pequeno Pedestre’ de Vicente Guimarães.14
A indicação do livro tem, assim, um motivo de ordem prática: evitar acidentes. No entanto, a menina não deixa de analisar a obra do ponto de vista material, comentando sobre as ilustrações e também sobre a linguagem utilizada pelo autor: “É um livro dedicado inteiramente a garotada. As figuras são sugestivas e explica tudo por meios simplíssimos e com palavras tão fáceis que mesmo uma criança de 5 anos pode entender”.15
No olhar das crianças e jovens que escreviam no jornal, a cidade aparece como um espaço de tensão, tendo os veículos motorizados, carros e caminhões como principais vilões. De fato, a cidade de São Paulo passou por inúmeras transformações urbanas, durante as décadas de 1930 e 1940, como a abertura de grandes vias para automóveis, privilegiando o transporte individual e motorizado ao transporte coletivo e pedestre. Assim, não é de se estranhar que o assunto seja recorrente nos artigos escritos.
Em todos os números do jornal, encontramos colunas que veiculam algumas curiosidades; propagandas como a do suplemento O Gury, da Folha da Noite, ou do colégio Paulista; uma carta enigmática e palavras cruzadas. Há mesmo uma seção intitulada “Movimento da Biblioteca”, presente em todos os números do jornal, onde se informa quais eram os autores e livros mais retirados pelos consulentes. No entanto, devemos estar atentos ao fato de que esses autores também pudessem ser aqueles que tinham mais obras disponíveis para a consulta na Biblioteca.
De junho de 1936 a dezembro de 1948, a seção “Movimento da Biblioteca” dava indicação sobre o número de exemplares retirados para consulta, número de visitas à Biblioteca, autores preferidos e livros mais retirados. Monteiro Lobato, como era de se esperar, figurava praticamente em todos os meses como um dos autores preferidos, assim como muitos dos seus livros apareciam entre os mais retirados. Monteiro Lobato só tinha um autor que lhe fazia concorrência: Karl May, principalmente com seu livro Winnetou.
O próprio Monteiro Lobato, em uma carta dirigida aos diretores de A Voz da Infância, diz que, ao ler o jornal produzido pelas crianças, sempre verificava se estava em primeiro ou segundo lugar na preferência dos leitores: “Leio as patriotadas todas e vou ver no ‘Movimento da Biblioteca’ se ainda estou bem cotado – fico triste quando o Karl May me derrota. Mando a ‘Voz’ para o Sítio do Picapau Amarelo, porque é o único jornal que D. Benta deixa lá entrar”.16
Lobato deveria mesmo ser um dos autores preferidos, pois cada visita sua à Biblioteca era uma festa. Foi em vida várias vezes homenageado, como quando recebeu o convite para ser patrono do Grêmio Juvenil de Cultura da Biblioteca, em 1943. Dois anos depois, em março de 1945, quando a Biblioteca inaugurou sua nova sede, no antigo palacete de Rodolfo Miranda, é feita uma nova homenagem e Lobato é convidado a ser o patrono da Biblioteca. O início do discurso feito pelo menino Arthur de Moraes César, que era também o diretor de A Voz da Infância, nos mostra o grau de proximidade que as crianças tinham com o escritor: “Exmo. e Revmo. Sr. Arcebispo; Exmo. Sr. Representante do Dr. Prestes Maia; Exmo. Sr. Diretor do Departamento de Cultura; Querido Monteiro Lobato; senhoras, senhores, colegas”.
No discurso, o menino, apesar de utilizar as formas tradicionais de tratamento para as autoridades presentes, quando se refere ao escritor o trata como “Querido Lobato”. Em muitos outros números do jornal temos desenhos, apreciações de obras, cartas enviadas por Lobato e reproduções de cartas enviadas pelas crianças leitoras ao escritor. Enfim, em todos os números do jornal, assim como nas cartas das crianças, percebe-se a admiração e o carinho que os leitores tinham pelo escritor e por sua obra. Monteiro Lobato era, durante as décadas de 1930 e 1940, o mais importante escritor de literatura infanto-juvenil do país, tendo publicado mais de 17 títulos que circulavam em tiragens expressivas para os padrões da época, tendo sido também traduzido em espanhol e distribuído nos países vizinhos, como a Argentina.
Quando, em 1946, Lobato decide transferir-se à Argentina, uma das frequentadoras da Biblioteca, chamada Baby Lomani, escreve um artigo intitulado “Será?”. Neste artigo, a menina informa que Lobato havia deixado o país, menciona a tristeza que todos os leitores brasileiros estavam sentindo e indaga sobre qual seria o motivo de sua mudança:
Por que será que ele abandonou as crianças brasileiras? Por que mudou a Narizinho Arrebitado, Pedrinho, a fazenda do Picapau Amarelo e todos os nossos amiguinhos? Quem sabe se Monteiro Lobato enjoou-se de nós, ou não quis pão misturado com fubá? Será que é por causa disso?
O grande escritor foi à Argentina para conhecer as lindas crianças, ou porque lá não há tanta falta de pão, carne etc.17
Durante a leitura do jornal percebemos, em muitos momentos, principalmente após o término da Segunda Guerra, as crianças comentarem a falta de artigos básicos como a farinha, a carne, entre outros, além de se referirem ao preço elevado e à baixa qualidade dos mesmos artigos. Talvez esses comentários fossem influenciados pelo que também era veiculado na impressa de forma geral ou refletissem os comentários que as crianças ouviam em seu dia a dia. O interessante é que, de certa forma, a criança coloca a escolha feita por Lobato de maneira bastante irônica: como não era possível o escritor ter enjoado das crianças brasileiras, ele só poderia ter se mudado porque não aguentava mais as condições de vida no Brasil.
Além de Lobato, existem outros escritores e desenhistas que recebem números especiais ou mesmo uma biografia com resenhas de suas obras em A Voz da Infância como Érico Veríssimo, Tales de Andrade, Malba Tahan, Vicente Guimarães, Mary Buarque, Maria José Dupré, Belmonte, Karl May, Julio Verne, Disney e La Fontaine. Dentre estes, somente Lobato, May, Disney e Verne aparecem com frequência como os escritores mais apreciados pelos leitores da Biblioteca. As obras de Disney, como Branca de Neve e Pinóquio, editadas em álbuns coloridos pela Companhia Melhoramentos, muitas vezes estão entre as mais retiradas. A própria diretora da Biblioteca, Lenyra Fraccaroli, analisava esse fato pela influência que o cinema tinha na escolha do livro a ser emprestado:
O interesse por determinados livros varia segundo as circunstâncias. O cinema, por exemplo, influi na preferência de leitura. Verificamos que os livros infantis com enredos também aproveitados em filmes atraem grande número de leitores após a apresentação dessas fitas. Foi o que aconteceu nos casos de Miguel Strogoff, Robin Hood, Branca de Neve, Mulherzinhas, Pinóquio, Gulliver no país dos anões, etc. De modo geral, as obras de Disney gozam de grande estima também na forma de livros.18
Esta prática de fato deveria ser representativa, pois durante todo o ano de 1939, temos o livro Branca de Neve, de Walt Disney, entre os mais retirados.19 Talvez a própria Biblioteca Infantil incentivasse indiretamente essa predileção, pois tinha uma sala destinada à projeção de filmes, sendo os de Disney e de Shirley Temple os preferidos. Assim, no mesmo ambiente da Biblioteca, as crianças tinham contato com as fitas cinematográficas baseadas em livros, como no caso de Heidi, estrelado por Temple, ou então filmes de Disney, que depois eram publicados como livro, como Pinóquio e Branca de Neve. Da mesma forma, o cinema influenciava a confecção do jornal infantil, pois os próprios desenhos de Disney aparecem reproduzidos nos primeiros números ilustrando algumas colunas, assim como também o Gato Félix.
A temática de uma das obras mais lidas da Biblioteca, Winnetou, também remetia às aventuras que as crianças viam nas matinês do cinema, pois seu protagonista, o chefe dos Apaches, vivia inúmeras situações semelhantes às retratadas nos filmes de faroeste, em que homens brancos lutavam com as tribos indígenas norte-americanas. Assim, tanto o cinema influenciava na leitura de determinados livros, pois as crianças poderiam vivenciar novamente a aventura vista na tela do cinema por meio dos livros, como também deveria acontecer o contrário, as crianças se interessavam em assistir uma fita cinematográfica cuja história já conheciam por meio das publicações.
Na leitura do jornal A Voz da Infância temos acesso ao universo cotidiano destas crianças. Em determinados meses do ano, elas mesmo dizem estar sobrecarregadas com as avaliações e provas escolares, assim como em meses mais “folgados” encontram tempo para passeios muitas vezes feitos com os pais e parentes pelos arredores da cidade. A relação existente entre as crianças e a cidade também é outro ponto que pode ser analisado. Por vezes, a cidade é hostil, com seus carros em alta velocidade, bondes e ruas movimentadas, onde poucos se conhecem. Em outros contos, a cidade é mais receptiva e a criança pode encontrar beleza em árvores e pássaros e mesmo nos trabalhadores que passam pelas ruas.
Mas o que as crianças achavam do que liam? Pela seção “Movimento da Biblioteca” já vimos quais eram seus autores prediletos, assim como os livros que tinham mais circulação. Mas por que eram eles os escolhidos? O que tinham que motivavam a leitura? As resenhas ou apreciações dos livros feitas no jornal podem nos trazer algumas pistas para entendermos melhor a recepção da leitura literária no período estudado.
Durante o período estudado, encontramos várias resenhas publicadas pelos colaboradores no jornal e algumas fichas de leitura. Como já foi dito, as fichas de leitura eram solicitadas pelas bibliotecárias como forma de mapear a compreensão do livro; quando são publicadas, servem principalmente para que os leitores do jornal e frequentadores da Biblioteca possam fazer as suas próprias fichas de forma satisfatória. O texto muito objetivo e, por vezes, superficial, não nos possibilita uma compreensão mais aprofundada do tema.
Por sua vez, as resenhas publicadas na seção intitulada “Livros Novos” do jornal dão inúmeros indícios de quais eram os pontos que motivavam a leitura e o que havia mais agradado na obra lida. Veremos também que o fato de terem sido escritas por crianças teve como resultado resenhas com características muito peculiares.
Novamente, Monteiro Lobato aparece como o favorito, pois é o autor que teve o maior número de obras resenhadas pelo jornal: Reforma da Natureza, A chave do tamanho e Os Doze Trabalhos de Hércules foram as escolhidas. É interessante notar que as resenhas que apareceram no jornal infantil saíram pouco tempo depois do lançamento das obras. Assim, percebemos que, provavelmente, as crianças frequentadoras da Biblioteca tinham acesso aos livros logo após eles terem sido lançados no mercado.
Em julho de 1941, mesmo ano da primeira edição da obra, a menina Lélia Silva Busch, de 11 anos, fez a apreciação de Reforma da Natureza. A leitora inicia a resenha elogiando e qualificando a obra lida: “Acabo de ler mais um interessante livro de Monteiro Lobato, intitulado —a Reforma da Natureza. O autor demonstra sua imaginação fértil contando uma curiosa aventura com os já conhecidos personagens, Dona Benta, tia Nastácia, Pedrinho, Narizinho, Visconde e a danadinha da Emília”.
Já no primeiro parágrafo notamos que não era o primeiro livro de Lobato que a menina havia lido; mais do que isso, ela deixa claro ser “mais um interessante livro”, assim incluindo essa obra no rol das outras, todas elas interessantes. Logo em seguida, diz que o autor nessa obra “demonstra uma imaginação fértil”. A leitora não explicita o porquê deste comentário; no entanto, pela leitura da obra, podemos imaginar a razão: Emília, ajudada por Rã, uma menina amiga, modificam a natureza com ideias totalmente inusitadas. Logo em seguida a menina Lélia faz um pequeno resumo do livro:
Depois de acabada a guerra, os ditadores europeus procuraram alguém que pudesse reformar o Velho Mundo e estabelecer definitivamente a paz. Descobriram para isso D. Benta e o seu pessoal, que imediatamente embarcaram para a Europa. Somente Emília ficou no Sítio. Após a partida da família, Emília resolveu reformar a natureza. É fácil imaginar as estrepolias que fez em companhia de sua amiga a Rã.
De volta da sua viagem, D. Benta encontrou tudo muito estranho, mas Emília explicou que tinha reformado a natureza. Algumas de suas invenções eram acertadas, como por exemplo, o apito que a panela soltava toda a vez que o leite estava fervendo; outras porém eram bastante desastradas.
Diante da reclamação geral feita pelos pássaros, pelas frutas, etc., a Emília não teve remédio senão desfazer suas invenções e deixar tudo no mesmo estado anterior.20
A resenha é bastante objetiva: faz um resumo do enredo e não nos dá muitas pistas sobre quais partes teriam agradado mais a jovem leitora. Ela descreve somente uma mudança que Emília tinha feito, que, em sua opinião, era “acertada”, pois tinha uma razão prática de ser. Qualificando as mudanças feitas por Emília e Rã como “estrepolias”, nos indica que talvez fosse exatamente isso que tornava a obra atraente. Para a leitora, Lobato utilizou-se de sua imaginação fértil criando mudanças insólitas, inesperadas e, por isso mesmo, engraçadas na natureza. O livro também se torna mais interessante, pois os leitores poderiam se identificar com a Rã, menina amiga de Emília, que na realidade era uma das leitoras que havia se correspondido com Lobato. Quem não gostaria de visitar o Sítio e aprontar grandes reinações junto com Emília? Talvez o sucesso da obra fosse, em certa medida, resultado dessa imensa liberdade que a criança podia experimentar identificando-se com um dos protagonistas.
Na resenha feita pelo menino Milton Oscar Szente, de nove anos, do livro A Chave do Tamanho, publicada em fevereiro de 1943, poucos meses depois de seu lançamento em 1942, as opiniões sobre a obra aparecem de forma mais acentuada. Logo no início o leitor diz: “Esta, julgo eu, foi a melhor obra de Monteiro Lobato. Nesse livro, Lobato prende a atenção irresistivelmente, não só das crianças como de pessoas grandes”.
Assim, para o menino Milton, esta seria a melhor obra de Lobato. Novamente vemos que não era o primeiro livro do autor que ele lia. Uma das qualidades apontadas por ele seria de que o livro “prende irresistivelmente” a atenção dos leitores, sendo eles crianças ou adultos. Assim como a menina Lélia, Milton ressalta as peraltices feitas pela boneca:
Nesse livro, Emilia faz as suas diabruras pelo mundo a fora.
Ouvindo D. Benta falar horrores da guerra, resolve acabar com ela, mas... quase acaba com o gênero humano, pois transforma os homens em minúsculos seres e a ela também.
Enfrenta grandes perigos, tais como: quando enfrenta um grande pinto sura, fato esse que causa uma grande modificação na sua vidinha, pois impede-a de entrar no sítio.
A resenha de Milton comenta o enredo da obra, mas provoca a curiosidade do leitor, pois não nos revela o final. Além disso, faz considerações que também estimulam a leitura: “Tem a ‘Chave do Tamanho’ a teoria da relatividade, de modo que o leitor quando acaba a leitura, sabe muito mais de relatividade do que pensa”.
Dessa forma, mesmo as crianças que preferem obras não tão fantasiosas e nas quais o aprendizado de certos conteúdos ligados às matérias escolares aparece com mais força se sentem atraídas a ler o livro. O final da resenha é peculiar: “Quem ler esse livro, nem quer ouvir falar da palavra guerra!”.21
A terceira resenha de um livro de Lobato é feita em dezembro de 1944, mesmo ano da primeira edição de Os doze trabalhos de Hércules, obra que foi publicada inicialmente em doze livros curtos, cada qual contando uma das aventuras presenciadas por Pedrinho, Emília e Visconde em sua viagem à Grécia Antiga. A resenha foi feita por José Arthur Giannotti, frequentador da Biblioteca com catorze anos, e inicia contando como Lobato concebeu a obra:
Monteiro Lobato acaba de escrever 12 livros novos, intitulados “Os doze trabalhos de Hércules”. Eles falam sobre os trabalhos que o maior herói do mundo antigo realizou. Em certos volumes, como tornar-se-ia enfadonho o assunto, Lobato sacrifica um pouco a lenda, cortando-a com as peripécias dos “pica-paus”, para retomá-la novamente.
Agradecemos a maravilhosa ideia do nosso escritor e pedimos que escreva mais sobre mitologia helena, essa mitologia de imaginação e poesia.
José Arthur, nesta resenha, escolhe não escrever sobre o enredo da obra, assim como também não a qualifica; prefere tecer comentários sobre a importância da mitologia grega:
A mitologia helena é a mais bela do universo, pois revela um sentimento verdadeiro que existe nos corações humanos. Começou rude, vinda de pastores humildes, mas evoluiu, indo abrigar-se nos domínios das Musas, lá no Hélicon, para viver eternamente lembrando que o coração tem poesia.22
Talvez o menino José Arthur pretenda estimular a leitura do livro destacando o assunto abordado na obra. Devemos lembrar que, ainda na década de 1940, o ensino de línguas clássicas e de uma história antiga mais detalhada era frequente em todas as escolas. Assim, o assunto do livro fazia também parte do conteúdo trabalhado em sala de aula. É interessante notar que em nenhum momento o leitor menciona, como os outros haviam feito, as asneiras ou estripulias feitas por Emília; unicamente se limita a dizer que “Lobato sacrifica um pouco a lenda, cortando-a com as peripécias dos picapaus”, segundo sua análise, porque o assunto se tornava enfadonho. Ao compararmos essa resenha com as duas outras já comentadas, vemos que existe uma diferença não só em sua forma, mas também em seu conteúdo. Provavelmente essa diferença possa se justificar pela idade de cada um dos resenhistas: nas duas primeiras, temos onze e nove anos, enquanto a idade de José Arthur é de catorze anos. Sendo assim, essa última resenha é mais séria e parece querer mostrar já um certo domínio de conteúdos mais “adultos”.
Por meio destas três resenhas das obras de Lobato temos poucos indícios de como era a recepção literária. Percebemos que as obras desse autor são muito apreciadas, mas os leitores não explicitam o porquê de gostarem tanto de seus livros. Somente na apreciação de Milton é que ficamos sabendo um pouco mais. O leitor considera o livro envolvente, pois ele “prende a atenção”. Os leitores também comentam gostar da personagem Emília, suas peraltices e diabruras, mas, se compararmos as resenhas às cartas que as crianças enviavam para o escritor, vemos que as crianças nas resenhas são mais comedidas em seus julgamentos e opiniões.23 Aqui talvez tenhamos uma das grandes diferenças entre as resenhas e as cartas: o humor e a diversão que a leitura proporciona não têm tanto lugar nas resenhas, não aparecem de forma explícita. Não que ele não existisse, provavelmente existia, mas as crianças não mencionam o humor e o riso provocado pela leitura como uma característica importante da obra. Possivelmente, como estavam escrevendo para outras crianças e talvez porque o ambiente do jornal e da Biblioteca fosse pensado como mais circunspecto, o prazer advindo da prática da leitura não aparece nas resenhas com tanta ênfase. Em todo o jornal, as crianças, no papel de resenhistas ou articulistas, se referem a essa prática por um viés mais sério, como algo que instrui ou que deveria servir a isso, e não somente para o prazer e o divertimento. Isso fica evidente em alguns textos produzidos pelas crianças, como no artigo “Até eles!” escrito por Bento Carlos de Arruda Botelho, de dezesseis anos. Neste texto, o leitor diz que, tendo ido à Biblioteca Municipal, frequentada pelo público adulto, viu alguns poucos consulentes lendo e anotando assuntos variados, mas um senhor mais velho chamou sua atenção, pois tinha uma aparência bem cuidada e lia de “cenho carregado” uma brochura. Várias hipóteses passaram pela cabeça do jovem: seria um livro de alta matemática, uma descrição do Tibet ou outros assuntos de grave significado. No entanto, quando o senhor termina sua leitura e vai à procura de outro livro nas estantes, o menino aproveita:
Chegara a grande oportunidade! Fechei o meu livro e me dirigi para a mesa, preparado para ler qualquer nome arrevezado. Mais tarde dissiparei minhas dúvidas numa enciclopédia.
Ligeiro me aproximei, curvei-me sobre o livro, e... seria possível? Pisquei repetidamente. Olhei de novo. Não havia dúvidas, era um banalíssimo romance policial, cujo nome não convém figurar aqui.24
A citação e mesmo o título nos mostram que a leitura de certos livros era marcada pelo preconceito, e julgada inferior às outras leituras. Assim como a menina Lygia Caropreso, que aconselhava as crianças a ler, mas a lerem os livros apropriados, o menino Bento se decepciona ao constatar que até mesmo os adultos liam obras consideradas não muito adequadas, como os romances policiais, que ele faz questão de nem citar o nome.
Percebemos então que a leitura era incentivada pelas resenhas, artigos e até mesmo caricaturas feitas em A Voz da Infância, mas não qualquer tipo de literatura. Para as crianças e jovens que escreviam no jornal, as obras deveriam ajudar a construir bons indivíduos, cidadãos para a nação, incutir nas crianças valores corretos. O prazer e a diversão que a leitura poderia trazer parecem não vir em primeiro lugar, e muito frequentemente não são sequer mencionados.
Se livros como os romances policiais eram mal vistos por algumas crianças, o que dizer então das histórias em quadrinhos, os famigerados gibis, que tanto atraíam os meninos e jovens das décadas de 1940 e 1950? A preocupação com o que as crianças estavam lendo era tão importante que inúmeros artigos em jornais e revistas da época comentavam essas leituras e a influência que poderiam exercer nesse público ainda em formação. Temos como exemplo a matéria “A literatura de guerra é a preferida no momento”, publicada pelo A Noite, jornal paulistano, em 2 de dezembro de 1943. Nessa matéria temos uma pesquisa feita em livrarias da cidade, onde os volumes mais vendidos para jovens e adultos diziam respeito aos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. Paralelamente a isso é veiculada uma entrevista de Lenyra Fraccaroli na qual conta um pouco sobre a organização da Biblioteca Infantil e o que as crianças preferem na instituição dirigida por ela. A reportagem tende a mostrar os romances policiais, assim como os relatos de guerra como prejudiciais ao desenvolvimento infantil, em virtude, sobretudo, das descrições de cenas violentas. Se esses livros eram condenados, os gibis eram ainda mais, pois ultrapassavam o relato escrito mostrando visualmente as cenas de crimes e violência, além de, por vezes, mostrar o corpo feminino praticamente desnudo.
A preocupação com o que as crianças liam aparece com bastante destaque com a organização dos Congressos Infanto-juvenis de Escritores —o primeiro, realizado em São Paulo, em 1946, o segundo em Belo-Horizonte, em 1947, e o terceiro no Rio de Janeiro, em 1948. Nesses congressos, as crianças escreviam e apresentavam diversas teses, todas elas relacionadas à literatura infanto-juvenil, por exemplo: em sua terceira edição, o congresso debateu a influência que a leitura de gibis acarretava em seus leitores. De fato, essa preocupação não era exclusividade das crianças, pois, durante o período, a imprensa e os educadores debateram com bastante veemência as consequências que esse tipo de leitura poderia trazer as crianças e jovens. Gonçalo Junior aborda essa perseguição empreendida por parte da imprensa às histórias em quadrinhos em seu livro A guerra dos Gibis.25 O autor mostra como a violência era, sim, um dos pontos mais criticados por educadores; no entanto, a acusação de que os quadrinhos desnacionalizavam as crianças e jovens, incutindo em suas mentes hábitos e valores sobretudo norte-americanos era também um forte argumento que os opositores dos quadrinhos utilizavam.
Todos esses pressupostos estavam presentes nas discussões do terceiro Congresso Infanto-Juvenil de Escritores, realizado no Rio de Janeiro. Percebemos, pela leitura dos discursos e teses apresentados, que as crianças e jovens estavam atentos ao debate veiculado nos jornais e revistas. Assim, podemos inferir que tinham acesso e liam a imprensa adulta, tirando dela muitos argumentos utilizados em suas falas.
Enquanto a violência explícita dos Gibis recebia inúmeras críticas, autores literários que também se utilizavam dela aliada às cenas de ação e aventura eram os mais lidos da própria Biblioteca Infantil Municipal. Era o caso de Karl May, um dos autores mais procurados pelas crianças, sobretudo pelos meninos, que liam com furor as aventuras passadas em terras exóticas, onde o herói era sempre um bravo guerreiro. Karl May (1842-1912) foi um dos autores alemães mais vendidos em todos os tempos. Publicada no Brasil pela Editora Globo, sua obra de mais sucesso foi Winnetou, romance de aventura em três volumes que relatava as lutas do chefe dos apaches contra homens brancos traiçoeiros e maus.
Essa obra esteve durante anos na lista das mais retiradas da Biblioteca Infantil e, em abril de 1943, recebeu uma resenha em A Voz da Infância. Escrito por Kleber M. Dória, de quinze anos, o texto se inicia com a descrição do livro: “Winnetou é o livro que inicia a série de obras de Karl May. É uma obra em três volumes, não muito pequenos, cheios de aventuras, emoções e heroísmos, etc. Tem por cenário as planícies bravias do oeste dos Estados Unidos.” O menino destaca aqui o que o leitor irá encontrar no livro: aventuras, emoções e heroísmos, para, em seguida, tecer um comentário inusitado sobre a forma literária: “A obra em português não é grande coisa sob o ponto de vista literário, pois é uma tradução”.
Na concepção do menino, as traduções sempre esvaziariam o conteúdo literário? Como não pudemos determinar qual teria sido a edição lida por Kleber, não conseguimos averiguar se, de fato, a tradução foi mal feita. Contudo, é interessante notar que o leitor escolheu mencionar o fato de ser a obra lida uma tradução e de ressaltar não ter ela um valor literário muito importante. Talvez não fosse somente o fato de ser uma tradução que a esvaziasse do ponto de vista literário, mas uma característica intrínseca desse gênero ou autor.
Logo em seguida, o leitor faz algo inusitado para uma resenha, não só conta o final e clímax da obra, mas também faz questionamentos sobre ela:
Aqueles que esperavam a vitória final do herói (Winnetou) sofrem uma desilusão, pois em um dos últimos capítulos ele falece prostado por uma bala.
Uma coisa porém eu não compreendi, o que aliás não se deu apenas comigo, pois vários amigos toparam com essa dúvida.
Essa dúvida que paira sobre esses leitores de Winnetou é a seguinte:
O varonil cacique dos apaches vem a falecer como já disse em linhas acima, mas... depois esse mesmo ídolo dos peles vermelhas da terra de Washington vive outras aventuras nos outros livros de Karl May.
Para sanar essa dúvida eu formulei uma hipótese: os outros livros de Karl May foram escritos ao mesmo tempo que escreve os volumes de Winnetou.
Vocês que já leram esse livro podem avaliar se eu estou ou não com a razão.
É um dos melhores livros de Karl May e um dos melhores livros de aventuras.26
Nessa resenha, temos uma linguagem muito diferente das utilizadas pelas outras crianças já mencionadas. Em primeiro lugar, o menino Kleber escreve e dialoga diretamente com o leitor do jornal, não se esquivando de dar sua opinião pessoal sobre o livro lido. Em um primeiro momento, pode parecer pueril ele contar o final da história, relatando a morte do herói. No entanto, contar o desfecho se justifica nessa resenha porque o que o menino pretende, em última instância, é analisar o conjunto da obra de Karl May, resolver um impasse que é o de os livros publicados a posteriori contarem histórias de um herói falecido no primeiro livro. É interessante analisar o fato de que a verossimilhança é cobrada pelo leitor, que utiliza uma estratégia bastante interessante para adequar as obras do mesmo autor. Um dos pontos que parece mais chamar a atenção dos leitores infantis é o apego à veracidade da narrativa: a obra pode abusar da fantasia, mas deve ser fiel ao que propõe.
O mesmo menino Kleber fez também uma segunda resenha em julho de 1943, desta vez da obra Kim, de Rudyard Kipling. A resenha começa com uma descrição elogiosa do livro: “Kim é um livro de aventuras que nos mostra a vida de um menino na velha Índia colonial inglesa. Esse menino se chama Kim, daí o nome desse estupendo volume de Kipling. Classifiquei Kim como sendo o primeiro dentre os muitos livros de aventuras que já li”.
Depois de qualificar o livro como o melhor já lido no gênero de aventuras, Kleber passa a fazer um pequeno resumo da obra. Mas dessa vez não nos conta o que acontece no final, instigando a curiosidade do leitor: “[...] nas primeiras férias que tem, Kim desaparece e sabe vocês o que faz? Faz a Índia ficar de cabelos brancos. Leiam o livro e vejam o que faz o terrível Kim”.27
As duas resenhas feitas por Kleber M. Dória abordam livros de aventuras em que os heróis passam por situações arriscadas, cheias de ação e suspense. O enredo, a história é o que chama a atenção do leitor. Em outras resenhas as crianças se preocupam em analisar a linguagem e também os aspectos materiais do livro, como o tamanho da letra e ilustrações. É o caso da resenha de Milton Szente, de 11 anos, do livro Os Três Mosqueteiros:
Outro livro novo, muito interessante é ‘Os Três Mosqueteiros’.
Não não tenham medo; não é o de Alexandre Dumas... é uma adaptação, adivinhem de quem? Do nosso amigo Mário Donato.
Com muitas gravuras, em linguagem clara é um dos melhores livros que já li.28
Nesse comentário percebemos que o fato de ser uma adaptação é considerado pelo menino uma qualidade do livro, pois parece que a leitura do clássico não era muito encorajadora. Além disso, ele destaca que a linguagem é clara e que o uso de gravuras faz o livro ser mais atrativo. Alguns meses depois, a menina Lélia Silva Kuntz Busch faz um comentário dos três livros de Maria José Dupré, O Cachorrinho Samba, A montanha Encantada e A Ilha Perdida. Nesses comentários, é também a linguagem que chama a atenção da autora:
Eis mais um interessante livro contando a vida de um cachorrinho inteligente e vivo. Escrito em linguagem simples, com inúmeras ilustrações e impresso em tipos grandes muito legíveis, certamente encantará a pequenada de 9 e 10 anos.
A ‘Montanha Encantada’ encerra aventuras irreais mas bem interessantes. Os fans deste livro variarão entre 9 a 13 anos, sendo como é a linguagem simples e o enredo emocionante de lindas aventuras de férias.
E sobre A Ilha Perdida:
No estilo, por alto naturalmente, de Monteiro Lobato, é leitura cativante que certamente agradará a jovens de 10 a 13 anos.
Aventuras de crianças sempre agradarão aos pequenos leitores. Fundo real e com ilustrações, é de se esperar êxito também nos livros infantis de Sra. Leandro Dupré.29
Em todos os livros de Maria José Dupré, a leitora aponta uma linguagem simples e de fácil acesso, mesmo aos menores chega mesmo a compará-la a Monteiro Lobato. Mas toma o cuidado de usar uma expressão “por alto naturalmente”, quase como dissesse que Lobato era inimitável. É interessante notar que também considera o enredo de A Montanha Mágica irreal, ou seja, fantasioso demais; como contraponto, considera que A Ilha perdida tem “fundo real”. Assim como Milton Szente, tece considerações sobre o aspecto material da obra, como as ilustrações, sempre presentes, e mesmo a impressão em tipos maiores, facilitando a leitura.
Pelas resenhas analisadas acima, percebemos que as crianças e jovens, ao escreverem sobre os livros, se referem principalmente ao conteúdo, ao enredo, à história propriamente dita, ou seja, à criatividade em escrever sobre temas inexplorados ou inéditos, a história é tanto melhor quanto mais envolvido o leitor fica com a leitura. Apesar disso, não descuidam de analisar a forma, principalmente a linguagem utilizada pelo escritor, que deve ser simples, possibilitando uma leitura fluente, daí a valorização dos livros de Lobato e também de Maria José Dupré. Em nossa análise, observamos que as resenhas e comentários feitos no jornal não se referem a algumas características que poderiam ser encontradas na leitura, como o humor, a diversão e o prazer. Sobre isso podemos pensar de duas formas, talvez complementares: ou os leitores/escritores de A Voz da Infância pressupunham que isso era óbvio, não sendo necessário escrever sobre a diversão advinda da leitura, ou então, pelo contrário, não se fala explicitamente no humor e na diversão pois o objetivo maior e mais nobre da leitura não seria esse. O humor e a diversão aparecem no jornal em outras seções, como nas cartas enigmáticas e palavras cruzadas e nas tiras humorísticas e histórias em quadrinhos, presentes em todos os números.
Infelizmente não é possível, no espaço deste artigo, analisar estas produções, mas o historiador que se debruce sobre o jornal produzido pelas crianças frequentadoras da Biblioteca Infantil não só encontrará um rico material que possibilita compreender como era ser criança e jovem nas décadas de 1930 e 1940 na cidade de São Paulo, como também quais eram suas aspirações, suas preocupações, seu cotidiano. O jornal nos revela uma prática cultural onde as crianças são protagonistas em todas as etapas de produção: da escolha dos conteúdos, textos e ilustrações à escrita e impressão, assim como à distribuição e venda. Por meio desse veículo, as crianças e jovens expunham suas ideias sobre as atividades da Biblioteca, sobretudo sobre as leituras, interferindo e sugerindo livros a serem lidos pelos frequentadores, atuando como mediadores entre seus pares.
A Biblioteca aparece nos artigos veiculados na A Voz da Infância como um espaço privilegiado de sociabilidade, onde os frequentadores poderiam não só ler, mas participar de peças teatrais, sessões de cinema, jogos, quase como um centro cultural onde somente a entrada de crianças e jovens é permitida. Pela leitura do jornal podemos percebê-las como atores sociais em uma cidade que crescia vertiginosamente, convivendo com suas diversidades e também suas desigualdades. As resenhas analisadas nos revelam crianças e jovens com opiniões muito bem definidas, em geral afinadas com o que a imprensa adulta veiculava, mas que não deixam de apresentar pontos de vista originais e perspicazes a respeito de seus livros e autores preferidos.
Fontes
Manuscritas
Biblioteca Monteiro Lobato, São Paulo (BML)
Acervo Seção de Bibliografia e Documentação
Bibliografia
Andreotti, Azilde. “A Formação de uma Geração: A Educação para a promoção social e o progresso do país no jornal A Voz da Infância da Biblioteca Infantil de São Paulo (1936-1950)”. Tese de doutorado, Universidade Estadual de Campinas, 2004.
Júnior, Gonçalo. A Guerra dos Gibis. A formação do mercado editorial brasileiro e a censura aos quadrinhos, 1933-64. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
Raffaini, Patricia Tavares. “Pequenos Poemas em Prosa. Vestígios da leitura ficcional na infância brasileira, nas décadas de 30 e 40”. Tese de doutorado em História, Universidade de São Paulo, 2008.
___________________. Esculpindo a cultura na forma Brasil. O Departamento de Cultura de São Paulo (1935-1938). São Paulo: Humanitas, 2001.
Soares, Gabriela Pellegrino. Semear horizontes. Uma história da formação de leitores na Argentina e no Brasil, 1915-1954. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.
1. Gabriela Pellegrino Soares, Semear horizontes. Uma história da formação de leitores na Argentina e no Brasil, 1915-1954 (Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007) 309-343; Patricia Tavares Raffaini, Esculpindo a cultura na forma Brasil. O Departamento de Cultura de São Paulo (1935-1938) (São Paulo: Humanitas, 2001) 68-69.
2. Revista do Arquivo Municipal (São Paulo) fevereiro de 1940.
3. A Voz da Infância (São Paulo) novembro de 1936: 8. BML, São Paulo, Acervo Seção de Bibliografia e Documentação.
4. A Voz da Infância (São Paulo) janeiro de 1943: 7. BML, São Paulo, Acervo Seção de Bibliografia e Documentação.
5. Azilde Andreotti, “A Formação de uma Geração: A Educação para a promoção social e o progresso do país no jornal A Voz da Infância da Biblioteca Infantil de São Paulo (1936-1950)” (Tese de doutorado, Universidade Estadual de Campinas, 2004) 29.
6. Essas informações foram coletadas nas fichas de inscrição dos frequentadores da Biblioteca, preservadas na Seção de Bibliografia e Documentação.
7. As atas e outros documentos produzidos pelas crianças estão preservados na “Atas e Documentos da A Voz da Infância”. BML, São Paulo, Acervo Seção de Bibliografia e Documentação, Caixa 1.
8. O Tico-Tico foi um periódico editado no Rio de Janeiro, entre os anos de 1905 e 1957, que veiculava pequenas narrativas, charadas e histórias em quadrinhos; circulava por todo o país e fazia um enorme sucesso.
9. Monteiro Lobato, um dos mais importantes escritores brasileiros do séc. XX, dedicou-se também à literatura infanto-juvenil, sendo adorado pelas crianças e jovens no período estudado. Os personagens criados por ele aparecem inúmeras vezes no jornal A Voz da Infância. Em sua homenagem, a primeira Biblioteca Infanto-Juvenil de São Paulo recebeu seu nome.
10. “Entrevista sensacional”, A Voz da Infância (São Paulo) julho de 1936: 3. BML, São Paulo, Acervo Seção de Bibliografia e Documentação.
11. Andreotti.
12. Lygia Caropreso, “Livros”, A Voz da Infância (São Paulo) julho de 1936: 6. BML, São Paulo, Acervo Seção de Bibliografia e Documentação.
13. A autora portuguesa Maria Paula Azevedo publicou em 1922 um romance histórico intitulado Brianda; em 1923 publicou Theatro para crianças, no entanto, não foi possível determinar as datas de publicação dos livros aos quais a menina se refere. Uma das obras mencionadas, Rapazes de Maria João, é uma adaptação de um livro de Louisa May Alcott intitulado Life at Plumfield with Jo’s Boys.
14. Wilma Leite Silva, “O pequeno Pedestre”, A Voz da Infância (São Paulo) junho de 1941: 8. BML, São Paulo, Acervo Seção de Bibliografia e Documentação.
15. Silva, “O pequeno Pedestre” 8.
16. “Carta de Lobato à ‘Voz’”, A Voz da Infância (São Paulo) outubro de 1943: 5. BML, São Paulo, Acervo Seção de Bibliografia e Documentação.
17. Baby Lomani, “Será?”, A Voz da Infância (São Paulo) outubro de 1946: 6. BML, São Paulo, Acervo Seção de Bibliografia e Documentação. Durante a Segunda Guerra Mundial e os anos subsequentes, o Brasil sofreu com falta de artigos básicos como farinha de trigo, carne e outros produtos alimentícios, enquanto na Argentina a economia prosperava.
18. Citada em Soares, Semear Horizontes 325.
19. O Filme Branca de Neve de Disney foi lançado no mercado norte-americano em 1938, e foi um dos filmes que bateu recordes de público para a época. A Biblioteca Infantil projetava em sua sala de cinema essa fita, além de outras de Disney.
20. Lélia Silva Kuntz Busch, “Apreciação do livro a Reforma da Natureza”, A Voz da Infância (São Paulo) julho de 1941: 2. BML, São Paulo, Acervo Seção de Bibliografia e Documentação.
21. Milton Oscar Szente, “Apreciação sobre a Chave do Tamanho A Voz da Infância (São Paulo) fevereiro de 1943: 4. BML, São Paulo, Acervo Seção de Bibliografia e Documentação.
22. José Arthur Giannotti, “Livros Novos”, A Voz da Infância(São Paulo) dezembro de 1944: 13. BML, São Paulo, Acervo Seção de Bibliografia e Documentação.
23. A análise mais aprofundada das cartas enviadas pelas crianças e jovens ao escritor Monteiro Lobato pode ser encontrada em Patricia Tavares Raffaini, “Pequenos Poemas em Prosa. Vestígios da leitura ficcional na infância brasileira, nas décadas de 30 e 40” (Tese de doutorado em História, Universidade de São Pablo, 2008).
24. Bento Carlos de Arruda Botelho, “Até Eles!”, A Voz da Infância(São Paulo) outubro de 1943: 5. BML, São Paulo, Acervo Seção de Bibliografia e Documentação.
25. Gonçalo Júnior, A Guerra dos Gibis. A formação do mercado editorial brasileiro e a censura aos quadrinhos, 1933-64(São Paulo: Companhia das Letras, 2004).
26. Kleber M. Dória, “Winnetou”, A Voz da Infância (São Paulo) abril de 1943: 6. BML, São Paulo, Acervo Seção de Bibliografia e Documentação.
27. Kleber M. Dória, “Kim”, A Voz da Infância (São Paulo) julho de 1943: 2. BML, São Paulo, Acervo Seção de Bibliografia e Documentação.
28. Milton Szente, “Os três Mosqueteiros”, A Voz da Infância (São Paulo) fevereiro de 1945: 17. BML, São Paulo, Acervo Seção de Bibliografia e Documentação.
29. Lélia Silva Kuntz Busch, “Comentário de Livro”, A Voz da Infância (São Paulo) outubro de 1945: 18. BML, São Paulo, Acervo Seção de Bibliografia e Documentação.