Educação própria intercultunatural: poder sociopolítico para os povos originários de Cauca, Colômbia

Resumo

A educação própria é constitutiva dos povos originais de Cauca, na Colômbia, pois implica um compromisso político e social para recuperar suas línguas e culturas, promover o reconhecimento e a valorização da diversidade cultural e linguística e posicionar sua existência enraizada na Mãe Terra. A educação própria Jxikaisawe´sx Fizewa (intercultunatural) é fortalecida por meio do Programa de Educação Intercultural Bilíngue (PEBI), que envolve os dez povos que atualmente compõem o Conselho Regional Indígena do Cauca (CRIC). Daí em diante, vários processos de resistência articulados em torno de princípios políticos, como unidade, território, cultura e autonomia, se entrelaçaram em sua plataforma de luta social por terras e comunidades, que constituem entrelaçamentos interculturais e descoloniais para desapropriar a educação evangelizadora, racista e civilizatória que sustenta a modernidade/colonialidade. A educação autodeterminada começa no ventre da mãe e segue em espiral ao longo da vida, até alcançar outro espaço. Portanto, não há uma linha que dívida a educação em etapas, mas que se estenda até a educação universitária na Universidad Autônoma Indígena Intercultural, onde as questões culturais são profissionalizadas e os projetos de vida são fortalecidos, entrelaçando múltiplas práticas harmônicas incitadas pela espiritualidade e pela Mãe Terra em qualquer espaço e tempo. Esse trabalho é o resultado da análise dessas estruturas educacionais, políticas e sociais. Metodologicamente, ele se baseia na Úus kipx tandxi'na (pesquisa em espiral), que reflete a maneira de pensar do povo Nasa, para quem o tempo é uma espiral ligada a diferentes dimensões da existência. Caminhamos e conversamos em torno da tulpa (fogueira) e em outros espaços comunitários, com anciãos, facilitadores educacionais e a comunidade das dez aldeias do Conselho, harmonizando a palavra com nosso próprio yú beka (licor de cana-de-açúcar destilado) para trazer à tona a sabedoria ancestral. Podemos concluir que a educação própria é fortalecida pelo Programa como um projeto de resistência política e social que restaura o conhecimento ancestral e entrelaça a educação dos povos nativos do Conselho.