Criminalizados sem crime: atualização escravagista e criminalização do negro na contemporaneidade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.17533/udea.affs.v20n39a05

Palavras-chave:

racismo, crime, violência, escravização, psicanálise

Resumo

Considerando o crescente número de homicídios de negros, grande parte deles institucionalizados, e partindo de casos emblemáticos, nos dispomos a interrogar o crime e o criminoso à luz da teoria psicanalítica, bem como o racismo estrutural e histórico de países como Brasil e EUA. Questionamos se realmente superamos o racismo sistêmico, indiscriminado no período escravagista brasileiro, ou se esse racismo apenas mudou suas bases, sendo institucionalizado e perseguindo a pessoa negra como o bode expiatório a quem se autoriza a punição legalizada, o mal encarnado e passível de punição. Suspeitamos, em vista disso, que um modo de escravização atual parece permitir eleger o negro como um criminoso do nosso inconsciente, ao qual a morte é permitida, justificada e mesmo necessária, para suprir o desejo de gozo pelo sofrimento do outro, classificando essa parcela da sociedade como eliminável, visto sustentarmos um ideal de país que alimenta valores escravagistas e relega ao negro o mal social.

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Biografia do Autor

Pablo Henrique Teodoro de Lima, Universidade Federal de Minas Gerais

Mestre em Educação (2022) e graduado em Pedagogia: Ciências da Educação (2018) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na linha de pesquisa Psicologia, Psicanálise e Educação. Desenvolve pesquisas e realiza projetos na interface entre psicanálise e educação, no estudo do mal-estar e saber-fazer dos docentes, bem como da vulnerabilidade social, instituições escolares, sintomas educativos contemporâneos e violência. É membro do Laboratório de Estudos e Pesquisas Psicanalíticas e Educacionais (LEPSI-Minas - Belo Horizonte/Brasil). 

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Publicado

2023-12-19

Como Citar

Teodoro de Lima, P. H. (2023). Criminalizados sem crime: atualização escravagista e criminalização do negro na contemporaneidade. Affectio Societatis, 20(39), 1–27. https://doi.org/10.17533/udea.affs.v20n39a05