Políticas de transferência

Ou sobre a transferência como fenômeno estético

Resumo

Parece que, atualmente, é comum afirmar que a psicanálise não pode ser uma prática apolítica. No entanto, ainda é necessário aprofundar as implicações dessa afirmação. (Em princípio, é preciso esclarecer que não seria tanto a psicanálise quanto os psicanalistas que deveriam ser o foco da atenção.)

Seria esclarecedor para esse caso utilizar os modelos clássicos da doutrina das relações internacionais para começar a configurar a articulação proposta. Afinal, embora estejam hoje superados, permitem lançar luz sobre o mundo da psicanálise de uma perspectiva diferente. A divisão entre política externa e política interna, por um lado, e a subsequente fragmentação desta última no que acontece no exercício clínico e no que é realizado nas instituições psicanalíticas, abriria todo um campo de pesquisa. Dessa perspectiva, o fenômeno da transferência representa um ponto nodal. Para começar a traçar o terreno, neste texto, detenho-me a observar um fenômeno peculiar: a relação que se estabeleceu entre a música de Wagner e o nazismo. A música, como fenômeno estético (e, por isso mesmo: político), me permitirá, a partir de um exercício parabólico, estabelecer certos pontos de ancoragem entre o modelo estudado e as formas como a transferência foi governada pelos psicanalistas no interior dos grupos (principalmente os grupos emergentes). A tal ponto de poder instituir um conceito que poderia muito bem lançar luz sobre o que está acontecendo hoje: a polícia da transferência.