“But, bitch, I’m still serving it”. A legendagem de um verbo da linguagem drag em RuPaul’s Drag Race para o português brasileiro: novos sentidos, velhas palavras
DOI:
https://doi.org/10.17533/udea.mut/v16n1a11Palavras-chave:
linguagem drag, linguagem queer, camp talk, análise materialista de discurso, tradução audiovisualResumo
RuPaul’s Drag Race é um reality show que está no ar desde 2009. Ao longo de suas temporadas, o programa ganhou diversos spin-offs e se tornou uma franquia com versões em vários países do mundo. Devido a essa popularização, consideramos que o reality tem um papel incontornável no que, hoje em dia, entendemos socialmente por cultura drag. Este artigo tem o objetivo de analisar a tradução ao português brasileiro de verbos da linguagem drag empregados na fala de participantes da 13ª temporada do reality show, veiculada, no Brasil, pela Netflix. Realizamos uma análise contrastiva entre a legendagem da cena e os verbetes de dicionários gerais bilíngues português-inglês/inglês-português sobre o referido verbo. A análise foi baseada na Análise Materialista de Discurso, nas teorizações sobre o camp e o drag e em pesquisas sobre a tradução audiovisual do programa. Observamos que a legendagem de RuPaul’s Drag Race permite a circulação de outros sentidos não previstos para verbos que fazem parte dessa rede semântico-discursiva em português brasileiro. Com isso, refletimos sobre os efeitos de sentido colocados em circulação pelos verbos na linguagem drag, que não compõem o que pode e deve ser dito a partir da posição ideológica dominante na nossa formação social, e em seu emprego dicionarizado, que obedece a processos de institucionalização de saberes hegemônicos. Por meio deste estudo, afirmamos que o funcionamento da linguagem drag passa a ser compreendido como “palavras montadas”, pois performa caricaturas da feminilidade ao subverter as barreiras impostas pelo binarismo de gênero que dominantemente regula as relações sociais.
Downloads
Referências
Alter, R. (2021). “RuPaul’s Drag Race Is Serving Face (Masks) in covid-19 Documentary Special”. Vulture. February 17, 2021. https://www.vulture.com/2021/02/rupauls-drag-race-covid-19-documentary-trailer-watch.html
Barra, L., Brembilla, P., Rossato, L., & Spaziante, L. (2020). “Lip-Sync for your life” (abroad). The distribution, adaptation and circulation of RuPaul’s Drag Race in Italy. view Journal of European Television History and Culture 9(17), 119–133. http://doi.org/10.18146/view.210
Barrett, R. (1998). Markedness and style switching in performances by African American drag queens. In C. Myers-Scotton (Ed.), Codes and consequences: Choosing linguistic varieties (pp. 139–161). Oxford University Press.
Barrett, R. (2017). From drag queens to leathermen: Language, gender, and male subcultures. Oxford University Press.
Brennan, N., & Gudelunas, D. (2022). Post-Ru-Paul’s Drag Race: Queer visibility, online discourse and political change in a global digital sphere. In N. Brennan, & D. Gudelunas (Eds.), Drag in the global digital public sphere: Queer visibility, online discourse and political change (pp. 3–13). Routledge.
Cambridge Dictionary. (n. d.). Serve. In Cambridge dictionary. English-Portuguese. Retrieved July 29, 2022, from https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles-portugues/serve
Collins, C. G. (2017). Drag race to the bottom?: Updated notes on the aesthetic and political economy of RuPaul’s Drag Race. tsq: Transgender Studies Quarterly, 4(1), 128–134. https://doi.org/10.1215/23289252-3711589
Courtine, J.-J. (2009). Análise do discurso político: o discurso comunista endereçado aos cristãos. EdUFSCar. (First Published in 1981)
Haroche, C., Pêcheux, M., & Henry, P. (2007). A semântica e o corte saussuriano: língua, linguagem, discurso. (Trans. R. L. Baronas, & F. C. Montanheiro). In R. L. Baronas (Org.), Análise do discurso: apontamentos para uma história da noção-conceito de formação discursiva. Pedro & João Editores. (First published in 1971)
Harvey, K. (1998). Translating camp talk: Gay identities and cultural transfer. The Translator, 4(2), 295–320. https://doi.org/10.1080/13556509.1998.10799024
Harvey, K. (2000). Describing camp talk: Language/pragmatics/politics. Language and Literature, 9(3), 240–260. http://doi.org/10.1177/096394700000900303
Laurenti, R. (1984). Homosexuality and the International Classification of Diseases. Revista de Saúde Pública, 18(5), 346-347. https://doi.org/10.1590/S0034-89101984000500002
Leap, W. (1995). Introduction. In W. Leap (Ed.), Beyond the lavender lexicon: Authenticity, imagination and appropriation in gay and lesbian languages (pp. vii–xix). Gordon & Breach.
Leandro-Ferreira, M. C. (2003). O caráter singular da língua no discurso. Organon, 17(35), 189–200. https://doi.org/10.22456/2238-8915.30023
Libby, A. (2014). Dragging with an Accent: Linguistic Stereotypes, Language Barriers and Translingualism. In J. Daems (Ed.), The Makeup of RuPaul’s Drag Race: Essays on the Queen of Reality Shows (pp. 49–66). McFarland & Company.
Mann, S. L. (2011). Drag Queens’ Use of Language and the Performance of Blurred Gendered and Racial Identities. Journal of Homossexuality, 58(6–7), 793–811. https://doi.org/10.1080/00918369.2011.581923
Martínez Pleguezuelos, A. J. (2017). Representación y traducción del camp talk en el cine de Almodóvar: los casos de La mala educación y Los amantes pasajeros. Trans. Revista de Traductología, 21, 235–249. https://doi.org/10.24310/TRANS.2017.v0i21.3655
Mittmann, S. (2008) Autoria e tradução: da dispersão às identificações. In S. Mittmann, E. Grigoletto, & E. Cazarin (Orgs.), Práticas discursivas e identitárias: sujeito e língua. (pp. 80–96). Nova Prova.
Moura, B. N. (2020). Tradução queer: pensando gênero na tradução de fanfictions femslash. [Undergraduate thesis, Federal University of Rio Grande do Sul].
Newton, E. (1972). Mother Camp: Female Impersonators in America. The University of Chicago Press.
Nunes, J. H. (2008). Uma articulação da análise de discurso com a história das ideias linguísticas. Letras, 18(2), 107–124. https://doi.org/10.5902/2176148511982
Parsemain, A. L. (2019). The Pedagogy of Queer tv. Palgrave Macmillan.
Passa, D. (2021a). «Reinas unidas jamás serán vencidas»: Drag queens in the Iberian Spanish Voice-Over of RuPaul’s Drag Race. Trans. Revista de Traductología, (25), 349–371. https://doi.org/10.24310/TRANS.2021.v1i25.11450
Passa, D. (2021b). “You all are sisters! We are all family!” The construction of parenthood in ‘RuPaul’s Drag Race’. Linguaculture, 12(2), 127–144. https://doi.org/10.47743/lincu-2021-2-0199
Pêcheux, M. (1982). Language, semantics and ideology: Stating the obvious. (Trans. H. Nagpal). Palgrave Macmillan (First Published in 1975).
Pêcheux, M. (1994). Ler o arquivo hoje. (Trans. B. Mariani et al.). In E. Orlandi (Org.), Gestos de leitura: da história no discurso (pp. 55-66). Editora da unicamp (First published in 1982).
Pêcheux, M. (2006). Discurso: estrutura ou acontecimento. (Trans. E. Orlandi). Pontes.
Pêcheux, M. (2019). Linguística e marxismo: formações ideológicas, aparelhos ideológicos de Estado, formações discursivas. (Trans. R. Fonseca). In G. A. Oliveira, & L. Nogueira (Orgs.), Encontros na análise de discurso: efeitos de sentido entre continentes (pp. 307–325). Editora da unicamp (First published in 1976).
Petri, V. (2008) A produção de efeitos de sentidos nas relações entre língua e sujeito: um estudo discursivo da dicionarização do “gaúcho”. Letras, 37, 227–243. https://periodicos.ufsm.br/letras/article/view/11989
RuPaul’s drag race. (2009-). IMDb entry: https://www.imdb.com/title/tt1353056/
RuPaul’s drag race dictionary. (n.d.). Fishy. In Drag race wiki. Retrieved November 11, 2022, from https://rupaulsdragrace.fandom.com/wiki/RuPaul%27s_Drag_Race_Dictionary
Rupp, L. J., Taylor, V., & Shapiro, E. I. (2010). Drag queens and drag kings: The difference gender makes. Sexualities, 13(3), 275–294. https://doi.org/10.1177/1363460709352725
Sontag, S. (2018). Notes on ‘camp’ (First published in 1964). Penguin Books.
Stryker, S. (2006). (De)subjugated knowledges: An introduction to transgender studies. In S. Stryker, & S. Whittle (Eds.), The transgender studies reader (pp. 1–17). Routledge.
Tavares, J. L., & Branco, S. O. (2021). Drag language translation on RuPaul’s drag race: A study on representation through subtitles. Revista Letras Raras, 10(1), 210–235. https://doi.org/10.35572/rlr.v1i1.1890
Tyler, C.-A. (1991). Boys will be girls: The politics of gay drag. In D. Fuss (Ed.), Inside/Out: lesbian theories, gay theories (pp. 32–70). Routledge.
Villanueva-Jordán, I. (2019a). Dragqueenismo y traducción: el papel del RuPaul’s drag race en la circulación del habla camp en español. In J. F. Carrero Martín, B. Cerezo Merchán, J. J. Martínez Sierra, & G. Zaragoza Ninet (Eds.), La traducción audiovisual: aproximaciones desde la academia y la industria (pp. 45–64). Comares.
Villanueva-Jordán, I. (2019b). “You better werk”. Rasgos del camp talk en la subtitulación al español de RuPaul’s Drag Race. Cadernos de Tradução, 39(2), 156-188. https://doi.org/10.5007/2175-7968.2019v39n3p156
Villanueva-Jordán, I. (2021). Metasíntesis de estudios publicados sobre traducción audiovisual y estudios lgbtq+ (2000-2020): dimensiones teóricas y conceptuales. Meta, 66(3), 557–580. https://doi.org/10.7202/1088350ar
Villanueva-Jordán, I. (2022, 25 july). Línea temporal sobre traducción audiovisual y estudios lgbtq+. https://trujamancia.com/linea-del-tiempo/
Villanueva-Jordán, I., & Chaume, F. (2021). Revisión sistemática de bibliografía sobre traducción audiovisual y estudios lgbtq+ (2000–2020): dimensiones epistemológica y metodológica. Hikma, 20(2), 95–126. https://doi.org/10.21071/hikma.v20i2.13301
Vinhas, L. I., & Ernst, A. G. (2021). A derrisão no discurso político: a homossexualidade em questão. In A. G. Ernst, & R. C. M. Pereira (Orgs.), Linguagem: texto e discurso (pp. 73–95). Pontes.
Word Reference. (n.d.). Serve. In WordReference.com. English-Portuguese dictionary, Retrieved July 29, 2022, from https://www.wordreference.com/enpt/serve
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Mutatis Mutandis. Revista Latinoamericana de Traducción

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Aquellos autores/as que tengan publicaciones con esta revista, aceptan los términos siguientes:
- La revista es el titular de los derechos de autor de los artículos, los cuales estarán simultáneamente sujetos a la Licencia de reconocimiento no comercial sin obra derivada de Creative Commons que permite a terceros compartir la obra siempre que se indique su autor y su primera publicación esta revista.
- Los autores/as podrán adoptar otros acuerdos de licencia no exclusiva de distribución de la versión de la obra publicada (p. ej.: depositarla en un archivo telemático institucional o publicarla en un volumen monográfico) siempre que se indique la publicación inicial en esta revista.
- Se permite y recomienda a los autores/as difundir su obra a través de Internet (p. ej.: en archivos telemáticos institucionales o en su página web) antes y durante el proceso de envío, lo cual puede producir intercambios interesantes y aumentar las citas de la obra publicada.