Tradução comunizante: feminismo e política do comuns

Autores

DOI:

https://doi.org/10.17533/udea.mut.v18n2a11

Palavras-chave:

tradução comunizante, tradução feminista, tradução coletiva, políticas da tradução, Coletivo Sycorax

Resumo

Este artigo apresenta o conceito de “tradução comunizante”, elaborado pelo Coletivo Sycorax: Solo Comum, com base em dois pilares: 1) a leitura feminista decolonial do conceito de “commoning translation”, definida por Jeniffer Hayashida, e 2) a prática coletiva de tradução feminista anticapitalista de Reencantando o mundo: feminismo e a política dos comuns, de Silvia Federici. O conceito traz uma concepção da prática coletiva de tradução como potencialmente transformadora e inerentemente política de ponta a ponta: da escolha do texto, passando pela formação intelectual das tradutoras, pelas relações de produção estabelecidas entre todos os sujeitos envolvidos, até a circulação do produto final. Nessa abordagem — particularmente relevante por permitir alinhar teoria e prática a experiências individuais e coletivas sobre lutas políticas feministas —, a agência tradutória extrapola a dimensão textual e torna-se uma noção que amplia o terreno de ação das tradutoras, movida por um ethos de justiça global via práticas coletivas de tradução. A tradução comunizante, tal qual propomos, traz princípios da política dos comuns estudados por Federici e postos em prática durante a tradução coletiva realizada pelo coletivo em questão, como autogestão, rotatividade de tarefas, horizontalidade decisória e orientação do trabalho à produção do bem comum. Sendo um modo de produção que considera, necessariamente, como, onde, por quem e para quem o conhecimento é produzido, a tradução comunizante estrutura-se também em reflexões sobre práticas feministas decoloniais de tradução, colonialidade do saber e conhecimento situado.

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Biografia do Autor

Cecília Rosas, Universidade de São Paulo

Doutora em Literatura e Cultura Russa pela Universidade de São Paulo, tradutora e integrante do Coletivo Sycorax. Compõe o Grupo de Estudos Exílio e Tradução no Brasil: Os textos russos (USP/Fapesp), no qual pesquisa a obra tradutória de Tatiana Belinky.

Laura Pinhata Battistam, Universidade de São Paulo

Doutoranda em Letras Estrangeiras e Tradução na Universidade de São Paulo. É licenciada em Letras Inglês e Literaturas Correspondentes e bacharel em Tradução em Língua Inglesa pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), instituição pela qual também é mestra. Atualmente, é professora colaboradora do Departamento de Letras Modernas da UEM.

Luciana Carvalho Fonseca , Universidade de São Paulo

Professora de língua inglesa e tradução do Departamento de Letras Modernas da Universidade de São Paulo (USP). Coordena o Grupo de Estudos, Pesquisa e Ação em Feminismos, Gênero e Tradução (GRETAS – USP/CNPq). Integra o Coletivo Baubo de tradução feminista. É pesquisadora da Cátedra W. B. Yeats (Embaixada da Irlanda/USP) de Estudos Irlandeses com o projeto Tradução e Colonialidade.

Maria Teresa Mhereb, Universidade de São Paulo

Doutoranda em Letras Estrangeiras e Tradução (bolsista CNPq) na Universidade de São Paulo (USP), com período sanduíche no Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), França. É graduada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e em Letras pela USP, onde também integra o Grupo de Estudos, Pesquisa e Ação em Feminismos, Gênero e Tradução (GRETAS; CNPq).

Raquel Parrine, University of Michigan

Doutora em romance Languages and Literatures pela University of Michigan (2024), onde é postdoctoral fellow. Pesquisa e publica nas áreas de literatura e artes visuais latino-americanas contemporâneas, com ênfase em gênero e sexualidade.

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Publicado

2025-09-24

Como Citar

Rosas, C., Pinhata Battistam, L., Carvalho Fonseca , L., Teresa Mhereb, M., & Parrine, R. (2025). Tradução comunizante: feminismo e política do comuns. Mutatis Mutandis. Revista Latinoamericana De Traducción, 18(2), 504–520. https://doi.org/10.17533/udea.mut.v18n2a11

Edição

Seção

Artigos de reflexão não derivados de pesquisa