Yawalapíti (Aruak) do Alto Xingu: história e situação sociolinguística
DOI:
https://doi.org/10.17533/udea.ikala.360066Palavras-chave:
Sociolingística, línguas ameaçadas, Alto Xingu, Yawalapíti, AruakResumo
A língua Yawalapíti da família Aruak, cujos últimos falantes vivem no Mato Grosso (Brasil), está criticamente ameaçada, com pouquíssimos falantes plenos. O presente artigo reporta um estudo exploratório da sociolinguística do povo Yawalapíti baseado em pesquisa de campo etnográfica, realizada de modo intermitente desde 2008. Este artigo descreve o processo etno-histórico do povo Yawalapíti, suas relações sociais com os povos vizinhos e sua situação sociolinguística. O caso Yawalapíti é emblemático com o seu histórico de depopulação, consequente dissolução enquanto comunidade e um posterior reagrupamento, em que casamentos exogâmicos com povos falantes de outras línguas foram a peça-chave. O resultado deste processo é uma aldeia multilíngue com a maioria de seus habitantes proficientes nas línguas Kuikuro (Karib) e Kamayurá (Tupí-Guaraní), diferente dos outros povos do Alto Xingu. Os Yawalapíti conseguiram manter uma dinâmica social aberta, em que as interações sociais com outros povos foram fundamentais para o seu reagrupamento, mas, ao mesmo tempo, também geraram um declínio dos espaços de fala e da transmissão intergeracional. Esses processos acabaram por influenciar um movimento comunitário de revitalização linguística focado nas crianças que tem criado novos espaços de fala e produzido materiais pedagógicos. Algumas evidências expostas aqui apontam que a situação sociolinguística desse povo não é uma exceção, mas sim os limites de um processo relacional em atividade no Alto Xingu.
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